Minhas queridas amigas “Avós da Razão” —Sonia, de 87 anos, e Gilda, de 82—, postaram um vídeo no Youtube falando sobre um tema muito importante: afinal, o sol faz bem ou mal para a saúde? Na juventude delas, como contou Gilda, ficar torrando na praia era sinal de saúde, de beleza e de prazer.
“O sol castiga, não é? Eu nem sei como a gente não tem a pele pior de tanto que eu me torrei ao sol. E naquela época não tinha protetor solar. Eu ia muito para Santos. Você fazia questão de se queimar. Eu passei de tudo: Coca-Cola com cenoura, óleo de avião. Aí apareceu Rayito de Sol, aquilo era uma tinta, na hora que eu passava já ficava morena antes de pegar sol. Eu achava lindo, e era bonito mesmo. Ficava com aquele rosto saudável. Mas a gente torrava no sol, era para ter feito um estrago maior. Muitas mulheres ficaram com a pele craquelê. Imagina hoje, torrar no sol com buraco na camada de ozônio?”
Não foram só as avós que fizeram loucuras. Conheço mulheres que, além de terem parado no hospital com queimaduras de terceiro grau, ficaram bem craquelê porque passaram Rayto de Sol, Coca-Cola, óleo de avião, óleo de canhão, óleo de amêndoas e de coco com beterraba e cenoura, dendê com semente de urucum, nujol com folha de figo, Tan Tom com iodo, margarina com canela, manteiga com pó de café e outras misturas ainda mais perigosas. Quem se lembra de uma almofadinha com um óleo vermelho que vendia nas praias de Santos que até hoje não descobri o que era?
Nasci e morei em Santos até os meus 16 anos. Ficar na praia torrando no sol era o símbolo da minha liberdade, especialmente nas férias e finais de semana. Sempre adorei caminhar na areia e, depois, ficar sentadinha na areia observando as pessoas, olhando o mar, lendo e escrevendo.
Agora, com a virose se espalhando nas praias do litoral de São Paulo, lembrei-me de que eu e meus irmãos ficávamos brincando dentro do canal 1, na praia do José Menino, em Santos. Como meus pais deixavam os quatro filhos torrando no sol e, pior ainda, brincando dentro de um canal com esgoto? Não me esqueço do cheiro repugnante e da merda boiando ao nosso redor. Hoje, vejo com horror crianças e jovens brincando nos canais das praias do Rio de Janeiro.
Com 21 anos, me mudei para o Rio de Janeiro e caminhar na areia da praia, descalça, pertinho do mar continuou sendo o meu programa favorito. Só com 40 anos fui, pela primeira vez na vida, a uma dermatologista para ela me receitar um protetor solar. Mas aí os estragos já estavam feitos.
Quando estou estressada, minha válvula de escape é caminhar na beira do mar e, depois, sentar na areia e anotar minhas ideias em um bloquinho. Procuro caminhar mais no fim da tarde, quando o sol está um pouco menos arrasador, e assim consigo fugir das boladas dos jovens que jogam altinha.
Sempre falo para o meu marido que meu sonho de “bela velhice” é montar uma barraquinha na areia da praia e passar o dia inteiro lá. Na barraquinha, que seria meu escritório, teria apenas uma cadeira de praia, uma mesinha plástica e meus livros, cadernos e canetas. E muita água de coco, frutas geladinhas e biscoitos de polvilho. Quando cansasse de ler e de escrever, eu iria caminhar na beirinha do mar. Não preciso de mais nada para ser feliz.
Não é uma delícia de sonho para a minha “bela velhice”?
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