A Polícia Federal deve esperar a conclusão de um relatório complementar das investigações sobre a trama golpista no fim do governo Jair Bolsonaro (PL) para, só depois, finalizar a apuração sobre a chamada “Abin paralela”, que tem como principais investigados o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
Havia uma previsão de que o relatório final sobre a “Abin paralela” fosse entregue no final de 2024, como o próprio diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, divulgou em café com jornalistas em dezembro. Mas isso não se concretizou.
Os investigadores aguardam o desenrolar do inquérito da tentativa de golpe por causa da possibilidade de conexões entre os dois casos.
Encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal), o relatório conclusivo sobre a trama golpista apresentou nomes de pessoas que também são investigadas no caso da “Abin paralela”, como Alexandre Ramagem e Augusto Heleno, general da reserva e ex-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) do governo Bolsonaro.
No documento, a PF afirma que as investigações “apontaram que os investigados se estruturaram por meio de divisão de tarefas”. Um deles, o de inteligência paralela. A polícia analisa ainda mensagens trocadas entre investigados pela estrutura paralela da Abin em 15 de dezembro de 2022, dia em que os “kids pretos” planejariam prender o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Em dezembro passado, a PF indiciou Bolsonaro outras 39 pessoas por tentativa de golpe. O relatório final foi enviado a Moraes, que é relator dos dois casos e que aguardará agora a avaliação da PGR (Procuradoria-Geral da República).
Na última operação da PF sobre esse caso, em novembro, os policiais apreenderam celulares e notebooks que poderão trazer novos elementos para a investigação —foram presos quatro militares, entre eles o general Mário Fernandes, ex-número 2 da Secretaria Geral da Presidência no governo Bolsonaro. Por isso, um relatório complementar deve ser enviado ao STF, inclusive com mais indiciados.
A equipe de investigação da “Abin paralela” pediu o compartilhamento das provas sobre a trama golpista, e Moraes autorizou.
O prazo para término do inquérito da “Abin paralela” pode ser abreviado, no entanto, caso haja uma decisão de Moraes. Outra possibilidade é que a PF decida divulgar um documento parcial da investigação, semelhante ao adotado no caso das blitze da PRF (Polícia Rodoviária Federal) no segundo turno da eleição.
As investigações sobre a chamada “Abin paralela” começaram a partir do uso do software espião FirstMille para espionar adversários políticos, jornalistas e ministros do STF durante o governo Bolsonaro. A estrutura paralela também atuaria para blindar os filhos do ex-presidente em processos judiciais, atacar a credibilidade do sistema eleitoral e produzir desinformação.
Para recuperar os acessos do FirstMille, a PF e a Abin realizaram diligência conjunta com a fabricante do software, a empresa israelense Cognyte.
Com êxito na recuperação das informações dos celulares que foram consultados, os chefes dos setores da Abin ficaram responsáveis por indicar as pessoas que haviam sido espionadas com a ferramenta e enviar ao STF.
Em alguns casos não foi possível identificar as pessoas espionadas. Isso foi visto pelos investigadores da PF como tentativa de interferência das investigações, o que gerou um tensionamento entre os órgãos.
Em manifestação a Moraes, a PF acusou a atual gestão da Abin de dificultar as investigações e promover um “conluio” interno com o objetivo de livrar servidores da punição.
A PF cita uma reunião da cúpula da Abin já sob o governo Lula (PT) com servidores na qual o então número 2 da agência, Alessandro Moretti, teria dito que o caso tinha fundo político.
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