Oficiais anticorrupção da Coreia do Sul pediram aos procuradores, nesta quinta-feira (23), que acusem formalmente o presidente destituído Yoon Suk Yeol por insurreição e abuso de poder em sua declaração de lei marcial —na prática uma tentativa de autogolpe.
Durante mais uma das audiências de seu processo de impeachment, Yoon contestou sugestões de que a lei marcial havia sido frustrada, dizendo que sempre pretendeu que ela fosse uma operação limitada. “Ela terminou um pouco mais cedo do que o esperado, pois a Assembleia Nacional rapidamente exigiu a suspensão, e eu também ordenei a retirada dos militares.”
O Escritório de Investigação de Corrupção para Altos Funcionários descreveu Yoon, o primeiro presidente em exercício a ser preso na história do país, como o líder de uma insurreição, também envolvendo seu então ministro da Defesa, Kim Yong-hyun.
O ponto central da defesa de Yoon é que ele nunca teve a intenção de impor o governo militar, usando o decreto apenas para romper impasse político causado, segundo ele, pelos partidos de oposição. O agora ex-ministro reiterou esse argumento durante a audiência desta quinta-feira.
“Sim”, disse Kim quando questionado pelos advogados de Yoon se o presidente havia rejeitado sua recomendação, enquanto ministro, de mobilizar todas as unidades militares estacionadas em Seul. Kim confirmou que também havia proposto enviar algumas unidades para as sedes de um partido de oposição e de uma empresa de pesquisas.
Os eventos dramáticos das últimas semanas mergulharam a Coreia do Sul em uma crise política que afetou a economia e levantou preocupações entre os aliados, incluindo os Estados Unidos, sobre a estabilidade política do país.
Yoon, destituído e suspenso do poder em 14 de dezembro, está preso desde a semana passada enquanto os investigadores apuram sua tentativa em 3 de dezembro de impor a lei marcial —uma medida que chocou a nação, mesmo sendo revogada em questão de horas pelo Parlamento.
O gabinete anticorrupção que agora o investiga foi lançado em 2021 como uma agência independente para investigar altos funcionários, incluindo o presidente e seus familiares, enquanto os procuradores conduzem sua própria investigação. O órgão só pode investigar o presidente, não processar, e deve encaminhar qualquer caso ao escritório dos procuradores para ação adicional —por isso o pedido desta quinta-feira.
A detenção de Yoon deve terminar por volta de 28 de janeiro, segundo o gabinete, mas eles esperam que os procuradores peçam à corte para prorrogá-la por mais dez dias antes de acusarem formalmente o presidente. Chefes do Comando de Defesa da Capital, do Comando de Contra-Inteligência da Defesa e da polícia de Seul e o comissário nacional de polícia também estão entre os funcionários acusados de insurreição.
Desde sua prisão em 15 de janeiro, Yoon se recusou a falar com os investigadores e desobedeceu às suas convocações. “Apesar do fato de o suspeito estar sob sérias acusações de que era o líder de uma insurreição, ele continua a ser não cooperativo até hoje, não respondendo aos procedimentos de justiça criminal e recusando-se a ser interrogado”, disse Lee Jae-seung, vice-chefe do gabinete anticorrupção.
Ele afirmou que os investigadores obtiveram depoimentos de vários oficiais militares sobre Yoon supostamente tentando prender políticos e mencionando uma segunda ordem de lei marcial. Yoon e seus advogados negam.
A equipe de Yoon quer que a investigação espere a decisão da Corte Constitucional sobre seu impeachment e ameaça responsabilizar o gabinete anticorrupção por investigação ilegal, sob o argumento de que o órgão não tem competência para julgar um caso suspeito de insurreição.
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