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Marcelo Tas: Desde Bolsonaro, não reforço mais baboseira – 15/02/2025 – Mônica Bergamo


Enquanto algumas crianças observam confusas a comoção dos próprios pais, Marcelo Tas caminha pela exposição que celebra os 30 anos do Castelo Rá-Tim-Bum, no Solar Fábio Prado, em São Paulo, dividindo-se entre fotos e autógrafos.

As famílias cercam aquele que, nos anos 1990, entrava no programa da TV Cultura como Telekid, espécie de oráculo high-tech que surgia em uma tela para responder a perguntas improváveis dos moradores e trazer um toque de modernidade ao clima secular do castelo.

Os elogios dos mais velhos a Tas são intercalados com perguntas difíceis dos mais novos, como: “Por que você se atrasou?”. Ele não dispensa soltar, para os questionamentos mais desafiadores, a mesma resposta recebida tantas vezes no programa pelo curioso menino Zequinha, interpretado por Fredy Allan: “Porque sim”. Logo se corrige, completando a primeira frase com o mote de entrada do quadro do Telekid: “Mas ‘porque sim’ não é resposta”.

“A criança não mede palavras, ela gosta ou não gosta e faz as perguntas mais difíceis”, diz ele à coluna, que o acompanhou durante a visita à exposição, em cartaz até 2 de março. “O adulto quer te agradar, o que é ótimo também. Mas a criança é cruel porque é sincera. Essa é a interação que vale ouro.”

Tas conta que o Telekid não estava na concepção inicial da trama do Castelo Rá-Tim-Bum. “Alguns episódios já estavam gravados, e eu não sabia como ia inserir um jovem naquela família de 300 anos num castelo.” Na época, ele já havia interpretado o Professor Tibúrcio no Rá-Tim-Bum, programa precursor que foi ao ar pela mesma emissora anos antes.

A solução nasceu de uma experiência que hoje soa premonitória: ele tinha acabado de voltar de um período nos Estados Unidos, onde estudava, na Universidade de Nova York (NYU), interfaces digitais e os impactos de empresas de tecnologia, como a Apple. “O Telekid nasceu dessa ideia de abrir janelas de computador”, diz.

Ele mantém o mesmo olhar curioso sobre a tecnologia quase três décadas depois da estreia do personagem. Estuda agora como agentes de inteligência artificial (IA), sistemas capazes de tomar decisões e desempenhar tarefas sozinhos, podem ajudar pessoas a melhorarem a comunicação.

Em novembro do ano passado, Tas testou algumas dessas ideias com um grupo de professores e executivos que integram o projeto Laboratório de Desequilíbrio, em parceria com o Inova USP, complexo da Universidade de São Paulo dedicado à inovação.

“O agente de IA que estou desenhando não é só para crianças. É flexível para se adaptar a jovens, adultos, idosos, crianças ou a qualquer um com interesse em afiar a pontaria das perguntas”, explica.

O nome do projeto não surgiu por acaso. A metodologia, inspirada nas técnicas do diretor Antunes Filho com atores, propõe uma abordagem de comunicação que dispensa a ideia de uma busca por equilíbrio para ter sucesso. Devemos ter consciência de que somos uma “usina ambulante de desequilíbrios químicos, físicos e emocionais”, diz Tas.

O Laboratório do Desequilíbrio já rodou uma edição piloto, com 17 participantes. “Conseguimos fazer professores e executivos que se diziam tímidos ou pouco comunicativos se arriscarem na arte de fazer perguntas certeiras e até se expressarem diante da câmera”, conta Tas.

Para ele, ter medo da IA é contraproducente, e até mesmo grandes pensadores da atualidade, como o historiador Yuval Noah Harari, podem ter exagerado sobre o efeito apocalíptico trazido pela nova tecnologia. “Conteúdos do tipo ‘Dez coisas que você precisa saber sobre IA’ são clickbaits para você se sentir desatualizado. E o medo vende.”

O veterano da comunicação acredita que a IA pode e já está substituindo funcionários. No jornalismo, diminuirá as Redações. Por outro lado, diz que se interessa pelo mercado de profissionais que usam a ferramenta para melhorar o ofício da comunicação.

“A IA pode salvar a vida de muita gente que vivia escravizada, fazendo resenhas simplórias, resumindo jogos e montando apanhadões de fatos. Isso perdeu valor no jornalismo. Hoje o Google faz isso na própria busca.”

“Não é necessariamente ruim, porque significa que jornalistas podem cuidar de outras coisas que, na minha opinião, têm mais a ver com o público que lê jornal. A minha conclusão é quase que oposta a esse terror que está sendo disseminado.”

A provocação é um traço da personalidade de Tas desde que ele incorporou Ernesto Varela. O personagem era um repórter que confrontava políticos com perguntas ácidas e um microfone insistente nos anos 1980.

Ela está presente no Provoca, programa de entrevistas da TV Cultura comandado por Tas.

Um de seus trabalhos mais célebres foi o Custe o que Custar (CQC), da Band, programa de humor apontado como um dos que contribuíram para a ascensão política do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Os apresentadores adoravam entrevistar o então deputado federal por causa das respostas, consideradas absurdas, que ele dava a qualquer pergunta.

A possibilidade de um programa de humor determinar o voto de 50 milhões de pessoas é “conversa resolvida” para o apresentador, que já afirmou descartar a hipótese. Hoje, por outro lado, analisa que amplificar discursos extremistas virou um tipo de “enrascada”.

A conversa com a coluna ocorreu durante o auge da “crise do Pix“, quando o governo Lula se viu forçado a revogar uma normativa da Receita Federal sobre monitoramento de transações financeiras. A medida, que visava combater sonegação fiscal, foi distorcida nas redes sociais e transformada em uma suposta ameaça de taxação do sistema de pagamentos.

Segundo Tas, venceu a narrativa da direita porque “a esquerda não admite estar errada, nunca”. “Quando você tem uma dificuldade com o erro num ambiente de total transparência, a extrema direita vai conseguir navegar melhor, mesmo que não sejam as pessoas mais éticas do mundo.”

“Liberdade de expressão não é licença para cometer crimes”, diz. Mas, mais do que apontar adversários, a solução para a desinformação exige autocrítica e uma mudança de postura, prossegue.

“Os irresponsáveis não têm nada a perder. O Nikolas [Ferreira, deputado federal ligado a Bolsonaro] vai lá e inventa qualquer baboseira, e a gente fica repetindo”, afirma. “Eles sabem fazer isso intencionalmente, e aprenderam, inclusive, na primeira vitória do [presidente dos Estados Unidos, Donald] Trump.”

“Desde o Bolsonaro, não reforço mais nenhuma baboseira, porque é uma cilada”, afirma ele.



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