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Mudar ministros requer etiqueta – 25/02/2025 – Elio Gaspari

Lula troca alguns de seus ministros num humilhante processo de fritura pública que desqualifica o próprio governo.

Em setembro de 2023, sem uma só palavra de agradecimento, ele demitiu a atleta Ana Moser do Ministério do Esporte, colocando no seu lugar o deputado André Fufuca (PP-MA). Tratava-se de trocar competência na equipe por votos do centrão na Câmara.

Numa operação semelhante, em 1996, o presidente Fernando Henrique Cardoso viu-se obrigado a dispensar a ministra Dorothea Werneck, da Indústria e Comércio. Visitou-a, comoveu-se e registrou em seu diário: “Fui ficando com raiva de mim mesmo”. O cavalheirismo foi uma das marcas da Presidência de FHC.

Depois da dispensa de Ana Moser, a descortesia mudou de patamar. Em janeiro passado, Lula trocou o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, submetendo-o a um processo de fritura pública, desqualificando seu trabalho. Como Pimenta é um velho companheiro do PT, seria um tipo especial de jogo jogado.

Num novo lance, fritou a ministra Nísia Trindade. Há mais de uma semana ela dava expediente enquanto circulavam rumores de que seria substituída pelo colega Alexandre Padilha. Há dias, em Itaguaí, Lula disse que “de vez em quando, a gente erra, mas na maioria dos casos a gente escolhe um ministro de qualidade”. A gente quem, cara pálida? Quem escolhe os ministros é o presidente da República.

Esse tipo de tratamento para os ministros que serão dispensados ofende também os que permanecem e inibe eventuais postulantes. Chegar ao ministério pode ser uma ambição de pessoas qualificadas, mas o risco de uma dispensa humilhante não vale a pena ser corrido. Para um candidato desqualificado, tanto faz, pois seus interesses são outros.

Há algo imperial nos maus modos de Lula. Na segunda-feira, ele revelou que, numa conversa com um presidente da Petrobras, soube que a empresa pretendia comprar uma sonda coreana e disse-lhe: “Não vai comprar. Se você comprar, a mesma caneta que te colocou na presidência vai te tirar da presidência. Nós vamos fazer aqui”.

Lula não revelou quando ocorreu esse diálogo, mas falava de corda em palácio de enforcado. A construção de sondas para explorar petróleo gerou a Sete Brasil, empresa que faliu em novembro passado, deixando um espeto de R$ 36 bilhões e recordações de uma tenebrosa caixinha revelada na colaboração do ex-ministro Antonio Palocci, designado para administrá-la.

A postura imperial de Lula espelha a conduta de dois presidentes excêntricos: João Figueiredo (1979-1985) e Jair Bolsonaro (2019-2022).

Dispensar ministro é coisa que exige alguma etiqueta dos presidentes e de suas vítimas. Lula tem sido brindado com a elegância dos colaboradores que demitiu. Nenhum deles saiu atirando.

Em 1953, Getúlio Vargas demitiu por telegrama o ministro da Educação, Ernesto Simões Filho, que estava na Europa. O governo começava a ir mal das pernas e Simões recusou-se a reclamar, com uma frase que vale tanto para quem sai como para quem tira: “Perdi a pasta, mas não perdi a educação”.


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