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Rios da mata atlântica têm piora na qualidade em 2024 – 21/03/2025 – Ambiente


Aumentou a quantidade de amostras de água coletadas em rios da mata atlântica que demonstram ter qualidade mais baixa, segundo um levantamento anual conduzido pela Fundação SOS Mata Atlântica divulgado nesta sexta-feira (21).

Segundo relatório produzido pela ONG, a porcentagem de pontos monitorados em rios do bioma que foram classificados com qualidade péssima —a pior da escala— subiu de 2,9% em 2023 para 3,4% nas análises de 2024. No ano de 2022, esse número era de 1,9%.

O levantamento mais recente foi realizado com amostras coletadas em 145 pontos, distribuídos por 112 rios entre janeiro e dezembro de 2024. O monitoramento foi feito em 67 municípios de 14 estados. A iniciativa tem patrocínio da Ypê e da Inditex, e apoio da Águia Branca, da CMA CGM, da Fundação Sol de Janeiro e da Heineken.

O relatório anterior, apresentado em 2024, com dados de 2023, foi feito com dados de 174 pontos de coleta, de 129 rios. Análises de 127 pontos foram feitas tanto em 2023 quanto em 2024.

O rio Pinheiros recebeu a classificação péssima nos três pontos analisados em São Paulo. O rio Tietê, que tem o Pinheiros como um de seus afluentes, foi avaliado como ruim em trecho que passa pela cidade.

Aumentou também a proporção de pontos com qualidade ruim. Em 2023, foram 12,1% do total analisado; em 2024, representaram 13,8%.

A maior parte dos rios foi classificada com qualidade regular: 75,2%, uma queda de 1,8% em relação a 2023. Segundo Gustavo Veronesi, coordenador do programa Observando os Rios na SOS Mata Atlântica, águas que recebem essa classificação não podem ser captadas diretamente para consumo humano ou animal.

“Algumas produções agrícolas também não podem mais utilizá-la sem passar por um processo de purificação. Algumas espécies não conseguem mais sobreviver, o que impacta toda a cadeia alimentar”, afirma.

“Muitas vezes, as pessoas não percebem esse impacto porque a água da torneira parece estar em boas condições, mas o custo financeiro do tratamento dessa água contaminada é elevado”, completa.

O relatório “O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica” usa cinco categorias para classificar a qualidade da água. Os rios avaliados como regulares enfrentam impactos ambientais que podem tornar seu uso para consumo ou lazer comprometido. Cursos d’água com qualidade ruim ou péssima têm poluição em nível crítico, com consequências para a biodiversidade e a saúde pública.

Já os rios com qualidade ótima ou boa têm as condições consideradas adequadas para consumo, produção de alimentos e vida aquática. Nas análises de 2024, 7,6% dos pontos analisados receberam a classificação boa (em 2023, foram 8%). Nenhum rio foi qualificado como ótimo nos três últimos anos do relatório.

Segundo Veronesi, há uma teia complexa de fatores que impactam a qualidade da água nos rios do bioma, mas o principal deles é a falta de saneamento básico.

“Boa parte dos rios que monitoramos na mata atlântica são urbanos. O fator número um da persistência dessa degradação continua sendo o saneamento básico. Ainda que o nome seja ‘básico’, quase metade da população brasileira não tem acesso a esse serviço. São 100 milhões de pessoas. É muita gente”, diz.

Entre outros fatores que colaboraram para a queda na qualidade da água nesses rios, Veronesi destaca o excesso de uso de agrotóxicos nas lavouras, o desmatamento e a falta de proteção de nascentes.

Há ainda a ameaça crescente das mudanças climáticas, que faz aumentar a frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como ondas de calor e tempestades que causam enchentes.

“Ondas de calor e dias secos fazem com que a evaporação aumente, reduzindo a quantidade de água disponível nos rios. Com menos água para diluir a matéria orgânica, os microorganismos não conseguem depurá-la adequadamente, piorando a qualidade da água”, explica Veronesi.

Segundo o coordenador do programa, a situação pede a combinação de soluções mais modernas, inspiradas na natureza, com as soluções tradicionais para alcançar melhorias.

“Os avanços são lentos. Ano após ano, olhamos nossos relatórios e não vemos melhora significativa. Em alguns lugares, há uma leve piora, em outros, uma estagnação. Quando classificamos um rio com qualidade regular, isso é um alerta: a tendência é piorar”, diz.

A secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do estado de São Paulo, Natália Resende, diz que até 2029 o programa IntegraTietê, que tem como foco a despoluição do Tietê e seus afluentes, deve propiciar um rio “mais límpido e sem odor”.

“Tanto o Pinheiros quanto o Tietê são rios urbanos. Então, a gente não vai beber essa água, não vai nadar. Mas vai ter uma convivência muito melhor com o rio. Sobretudo porque estamos fazendo esse processo de esgotamento e retirada dos sedimentos. Isso ajuda tanto na questão das enchentes quanto na própria limpeza do rio”, afirma a secretária.

Resende diz que foi realizada uma retirada recorde de sedimentos dos rios no estado, que chegou a 2,6 milhões de metros cúbicos nos últimos dois anos. A ação colabora com a limpeza dos corpos d’água e previne o transbordamento durante as cheias.

Mas, para a secretária, um grande salto na qualidade dos rios urbanos do estado só deve vir após a universalização do saneamento básico.

“Por isso, antecipamos o prazo de 2033, previsto no novo marco do saneamento básico, para 2029. Por exemplo, em termos de carga orgânica, devemos retirar mais de 54% do que existe hoje, o que representa uma redução de 51% na emissão de gás carbônico. Se considerarmos a estratégia climática do estado, isso equivale a R$ 162 bilhões em recursos que deixarão de ser gastos com saúde, principalmente no tratamento de doenças de veiculação hídrica, que diminuem significativamente com a ampliação do saneamento”, afirma.

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) foi procurada para comentar sobre a qualidade dos rios do estado, mas não respondeu até a publicação deste texto.



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