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Patrimônio histórico brasileiro: futuro sem passado – 30/03/2025 – Ruy Castro


Há algumas semanas, na avenida Mem de Sá, no coração da Lapa, um casarão do século 18, há muito abandonado, desmoronou. Como estava vazio e ninguém passava pela calçada naquele momento, não houve vítimas. Nele, um dia, funcionou a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio, certamente uma das primeiras instituições do gênero no país, responsável pela formação de profissionais que talvez tenham salvado a vida de gente importante ou mesmo de um remoto trisavô de algum de nós. Era um imóvel a ser observado, vistoriado e, se necessário, interditado. Na dúvida, perguntava-se aos vizinhos —melhor que ninguém, eles sabem quando algo está para desabar, às vezes em cima deles.

Casos como esse se repetem nas ruas mais antigas do Rio, cenários reconhecidos da história do Brasil. Há dias, foi a vez de um sobrado na rua Senador Pompeu, cenário de romances e crônicas de Coelho Neto, João do Rio e Lima Barreto. Uma pessoa morreu e outra ficou ferida. Um decreto da prefeitura autoriza que o município tome para si o imóvel em caso de abandono pelo proprietário ou não pagamento dos impostos por cinco anos.

Muitos desses imóveis tiveram passado ilustre e merecem, se possível, ser restaurados. O problema é que são muitos —pelo que li, já há mais de 600 cadastrados por um serviço do Patrimônio. E denúncias de moradores alertando para outros ameaçados de cair continuam a chegar.

As cidades não são museus. São lugares de uso —pessoas se instalam nelas, vivem suas vidas, causam deterioração, mudam de endereço e não olham para trás. Às vezes, bairros inteiros são vítimas dessa dinâmica, esvaziados pelo deslocamento da população. O centro profundo do Rio deixou de ser residencial há quase um século, com a migração para a Zona Sul, e implora por uma reurbanização geral. Todo o entorno do atual Sambódromo, hoje degradado e onde se dá a maioria dos desabamentos, já foi endereço nobre.

Alguém tem de olhar para trás. Não há futuro sem presente, e este tem de incluir o passado.


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