O advogado Eduardo Kuntz, responsável pela defesa de um dos réus da trama golpista, informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que manteve conversas reservadas com o delator Mauro Cid no Instagram enquanto se aprofundavam as investigações de uma trama golpista para impedir a posse do presidente Lula.
A íntegra das conversas entre Kuntz e o perfil @gabrielar702 foi anexada à manifestação do advogado do coronel da reserva Marcelo Câmara, que segundo a acusação teria monitorado os movimentos de Moraes como parte da ação do que ficou conhecido como “Abin paralela”.
Kuntz fez uma autointitulada “defesa prévia” sobre a troca de mensagens, depois que o ministro Alexandre de Moraes determinou na última sexta-feira (13) que a Meta (dona do Facebook e do Instagram) informasse ao STF os dados do responsável pelo perfil – e todas as mensagens enviadas e recebidas pela conta nos últimos dois anos.
Os diálogos estão no cerne da tentativa dos réus da trama golpista de tentar anular a delação de Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro durante seu governo. Eles foram expostos em reportagens da revista VEJA e citados pelo defensor do ex-presidente, Cesar Vilardi, durante a fase de inquirição dos réus, na semana passada.
Na ata notarial de 51 páginas que Kuntz apresentou, constam os diálogos que foram divulgados pela revista Veja em duas ocasiões — em março de 2024 e na semana passada—, além de prints de conversas de WhatsApp que teriam ocorrido entre o defensor de Cid, Cezar Bittencourt, e um repórter da revista que não é identificado.
Segundo o próprio advogado escreveu na petição, as conversas foram incluídas para tentar demonstrar que a colaboração premiada de Cid precisa ser anulada por “falta de voluntariedade”. Nas petições apresentadas pelas defesas nesta segunda-feira ao STF em mais uma etapa do processo, os defensores de Jair Bolsonaro e de Braga Netto argumentam ainda que ele violou a confidencialidade do acordo ao conversar com outras pessoas sobre os depoimentos.
Na petição a Moraes, Kuntz diz ter sido procurado pelo perfil @gabrielar no dia 29 de janeiro de 2024, que para provar ser Mauro Cid enviou uma selfie fazendo sinal de positivo.
Entre os diálogos relatados na petição está um em que Cid afirma que botaram palavras na boca dele e outro em que ele diz que nunca falou a palavra golpe nos depoimentos.
Kuntz não esclarece por que não revelou as conversas antes a Alexandre de Moraes. No documento, ele apenas justifica ter continuado a conversa “sem ter a certeza de qual a intenção do contato, mas imaginando que talvez possa ser uma possível contratação ou, ainda, eventualmente estar sendo alvo de algum tipo de ação controlada por parte do delator e autoridades”.
Em seguida, ele afirma ter mantido contato pelo aplicativo e por escrito para não ser mal interpretado. A ata notarial apresentada pelo advogado, porém, registra uma série de áudios, várias tentativas de ligação de Cid e algumas chamadas de vídeo que ele diz terem sido breves.
Na última sexta-feira, depois que as conversas foram publicadas pela Veja, Moraes determinou à Meta, dona do Instagram, que informasse em 24 horas todas as informações cadastrais, registros de login e mensagens enviadas e recebidas pelas contas @Gabriela R e @gabrielar702 entre os dias 1º/5/23 e 13/6/25.
A declaração formal do advogado ocorre dentro desse prazo e depois que a defesa de Cid classificou a reportagem da Veja como “uma miserável fake news”.
As mensagens de Cid por meio da conta @gabrielar702 são a principal aposta dos investigados da trama golpista para tentar anular o acordo de delação premiada firmada por ele com a PF.
Elas foram reveladas pelo advogado de defesa de Jair Bolsonaro, Celso Villardi, durante uma pergunta a Cid na audiência de instrução dos depoimentos do réu do processo. Embora já tivessem sido publicadas pela Veja em março do ano passado, não tinha vindo a público qual o canal usado e nem os interlocutores envolvidos.
“Eu quero saber se ele fez uso em algum momento para falar de delação de um perfil no Instagram que não está no nome dele”, perguntou Villardi, quando o depoimento caminhava para o final. “Não”, respondeu Cid de forma hesitante. O ministro Alexandre de Moraes, que é relator do processo e comandava a sessão, interrompeu para perguntar de qual perfil Vilardi estava falando. O advogado de Bolsonaro completou: “Eu queria saber se ele nunca usou perfil de mídia social para falar com alguém”.
Cid respondeu que não, porque todos os celulares dele tinham sido “apreendidos e revirados de ponta cabeça” pela Polícia Federal. O advogado de Bolsonaro insistiu: “Ele conhece um perfil chamado @gabrielar702? Já ouviu falar?” Cid gaguejou: “Esse perfil não sei se é da minha esposa. Mas Gabriela é o nome da minha esposa.”
Villardi ainda perguntou novamente sobre outros telefones, mas Cid repetiu a negativa e ficou por isso mesmo.
Foi depois disso que Alexandre de Moraes determinou à Meta que quebrasse o sigilo das contas.
Agora o sigilo foi quebrado pelo próprio interlocutor de Cid.
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