“Recebi meu pagamento hoje! Então vamos passar pela minha rotina de pagamento como uma enfermeira de UTI pediátrica de 26 anos que mora em Atlanta e está começando a cuidar das finanças pessoais.”
Assim começa um vídeo no TikTok de Michaelyn Wright detalhando sua “#rotinadepagamento” (#paydayroutine, em inglês), um desdobramento — dólar por dólar — de como ela distribui o salário que recebe duas vezes por mês.
Michaelyn é uma enfermeira de terapia intensiva pediátrica que ganha US$ 96 mil por ano. Seu vídeo está entre milhares sob essa hashtag no TikTok e Instagram, nos quais usuários compartilham quanto ganham e exatamente para onde vai cada centavo, desde supermercado e contas até investimentos e impostos.
É parte de uma tendência nas redes sociais rumo a maior transparência financeira, mas vai além ao apresentar maneiras práticas de fazer um orçamento.
— Detalhar um orçamento com base em um salário específico ajuda o público a definir expectativas realistas sobre seu dinheiro — disse Ang Richard, 25 anos, orientadora profissional que atende principalmente a Geração Z.
Hannah Williams, de 28 anos, ajudou a impulsionar a hashtag #paytransparency (transparência salarial) em 2022 com vídeos no TikTok em que pedia a estranhos para dizerem quanto ganhavam.
‘O tabu de falar sobre dinheiro está começando a cair’
Em seu primeiro vídeo sobre o tema, ela contou quanto havia ganhado em todos os empregos que já teve. O vídeo, feito após descobrir que recebia menos que colegas como contratada do exército dos EUA, rapidamente ultrapassou 1 milhão de visualizações.
— Esse vídeo se tornar viral abriu meus olhos para o fato de que isso é algo que as pessoas realmente querem discutir — disse Hannah, que desde então fundou a empresa Salary Transparent Street para promover a transparência salarial. —A conversa está aberta agora. O tabu de falar sobre dinheiro está começando a cair.
Na maioria dos locais de trabalho nos EUA, os funcionários têm o direito de conversar sobre salários com colegas. Mas, por muito tempo, isso foi visto como inapropriado e desestimulado.
- Quem ainda quer um BlackBerry hoje? Aparentemente, a Geração Z
A tendência de maior compartilhamento de informações sobre dinheiro, segundo Eric Simonson, fundador e CEO da consultoria financeira Abundo Wealth, começou com os millennials, que entraram no mercado de trabalho durante a Grande Recessão, quando a economia era instável.
A Geração Z, nascida aproximadamente entre 1997 e 2012, levou essa tendência ainda mais longe, falando sobre finanças com milhões de pessoas nas redes sociais.
— As gerações mais antigas não enfrentaram as mesmas pressões econômicas que os jovens enfrentam hoje. Eles tinham investimentos que garantiam uma aposentadoria segura, os preços dos imóveis eram muito mais baixos e os salários eram mais altos em relação ao custo de vida e à moradia — disse Simonson.
Michaelyn Wright disse que passou a se interessar mais por suas finanças depois de ouvir colegas falarem sobre contas de poupança com rendimento alto e contas de aposentadoria individuais. Mas foram os vídeos sobre finanças pessoais que apareceram no seu algoritmo do TikTok que realmente lhe deram ferramentas para tomar decisões financeiras mais inteligentes, segundo ela:
— Quando comecei a ver mais desses vídeos na minha página, eles me motivaram muito a entender o que eu estava fazendo com meu dinheiro, agora que já era enfermeira há um tempo e estava ganhando um “salário de gente grande”.
Ang Richard afirma que vê a #rotinadepagamento e outras tendências de transparência financeira como desenvolvimentos amplamente positivos.
— Estamos vendo profissionais se sentirem mais à vontade para falar sobre seus salários, defenderem a inclusão da remuneração nas descrições de vagas e ajudarem a tornar essas conversas menos tabu e menos discretas — disse.

Deixe um comentário