O alcoolismo é a doença da compulsividade e da impulsividade. Ouvi essa frase algumas vezes em salas de Alcoólicos Anônimos (AA). É verdade. Agora, sem beber, percebo o quanto sou compulsiva. Posso comer três barras de cholocate em seguida. Tomo água direto na garrafa de 1,5 litro porque o copo é muito pequeno.
O melhor remédio para mim foi falar das minhas angústias, raivas, ressentimentos, invejas, tristezas, mágoas… E, o principal, escutar. Durante muito tempo consumi todos esses sentimentos em silêncio, mas ouvir pessoas com a mesma doença é curativo. Quando me perguntam o que fazer com o doente alcoólico, não titubeio: reuniões de AA. As salas são muitas e estão espalhadas em todas as cidades, além de também oferecerem encontros online. À distância, encontramos reuniões em diversos países.
O álcool me isolou do mundo e foi me levando para o inferno. Por diversas vezes me senti excluída dos lugares. Em alguns casos era verdade, mas às vezes era pura invenção da minha cabeça.
Já tive impulsos destrutivos. Tentei me matar algumas vezes para fugir de uma vez por todas. Com o alcoolismo avançado, os problemas só cresciam e eu não via mais razão para viver. Machucava quem amava, detonava os empregos e ficava sem dinheiro. E sem esperança. Mesmo dando tudo dando errado, a força da doença fazia com que eu continuasse bebendo. Nada nem ninguém conseguia me tirar do abismo.
Uma amiga cujo marido e o pai eram alcoólatras ficou comigo até muito próximo do fim desse pesadelo. No ano em que fui internada três vezes, ela me visitava levando um saquinho de amendoim japonês e umas latinhas de Coca zero.
Falar sobre isso me dá certa tristeza e é importante entender os motivos que me fazem sofrer. Daí entra a terapia, um processo importante que me ajuda a destrinchar tudo que fui afogando com o álcool. O João, meu terapeuta, me acompanha desde o começo da minha recuperação. É fundamental recorrer a alguém especializado, emocionalmente distante de você. Foi muito aflitivo me despedir do álcool e não saber o que fazer no meu dia a dia. Tinha medo que a impulsividade me levasse ao copo e a angústia de me sentir perdida.
Além de ajudar a entrar no eixo, a terapia nos incentiva a adquirir algum hobby. Já fiz colares, me aventurei na cozinha e no tricô. Trabalhos manuais me deixam mais serena.
Fui recuperando o gosto pela vida. Hoje adoro tudo que faço e sempre estou em busca de novidades. Os livros são companheiros, procuro consumir todos aqueles com temas relacionados à minha doença.
Já me perguntei muitas vezes por que sou alcoólatra. Pode ser porque meu pai é (doença genética), ou então porque bebi demais. Não me importa mais. Aceitei a minha condição, vivo um dia de cada vez e quando bate a tristeza tento rebater com alguma dessas estratégias.
Ciente de tudo que se passou comigo e aberta a tudo que possa me ajudar a encarar a doença, fico mais apta para uma vida saudável. Não importa se nesse momento como muito chocolate e engordo: no dia seguinte vou me lembrar de tudo. Tá tudo certo.
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