Uma investigação interna no Vasco impediu que clube ficasse sem 7% do maior patrocínio máster da história do clube, anunciado em maio de 2024, com o contrato com casa de apostas online Betfair. O valor fixo do acordo foi firmado em R$ 45 milhões, com gatilhos que poderiam aumentar a quantia para R$ 70 milhões.
Conduzido pelo departamento de compliance da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do clube —setor responsável por garantir que uma organização cumpra as leis— a apuração levantou suspeitas sobre uma suposta tentativa indevida de cobrança de comissão por parte de um intermediário, que não participou das negociações.
As suspeitas surgiram a partir de uma suposta minuta de contrato que previa o pagamento de 7% do valor total do acordo à empresa MG de Albuquerque Sá Marketing, que atua com o nome fantasia MadFortune, representada no ato por seu sócio Marcelo Gentil Albuquerque Sá e identificada como intermediária.
O documento, que previa um fluxo de pagamento em seis parcelas, foi apresentado à gestão de Pedrinho pouco depois de o ex-jogador assumir o controle da SAF do clube com a saída da 777 Partners, afastada por decisão liminar da Justiça.
Antes de efetuar o pagamento da comissão, a minuta e todo o processo de negociação com a casa de apostas foram analisados pelo compliance da SAF. A Folha teve acesso às conclusões de dois relatórios, segundo os quais “em nenhum momento da investigação foi constatada qualquer evidência e/ou menção a qualquer comissão porventura devida a qualquer intermediário”.
Ainda segundo os documentos, as tratativas do patrocínio foram conduzidas diretamente entre o clube e a empresa, por Vinicius Domingues, da área comercial do Vasco, e Marcelo Rico, representante da Betfair. Sem intermediários.
De acordo com a denúncia apresentada por um funcionário do clube ao compliance, Domingues teria sido afastado da negociação na reta final das tratativas, quando Lucio Barbosa, então CEO da SAF, assumiu as conversas.
No curso da apuração, foram identificadas tentativas de vinculação de Marcelo Sá como intermediário. As suspeitas se baseiam em relatos de cobrança informal e na existência de vínculos contratuais entre Rico e a empresa MadFortune.
A confusão teria sido agravada pelo uso, por parte de Rico, da Betfair, de um email corporativo da MadFortune em comunicações com a SAF.
Um episódio, durante uma partida do Vasco, mudou o rumo do caso. Rico teria sido impedido por funcionários do clube de se apresentar ao presidente Pedrinho, sob a alegação de que ele, na verdade, seria o “Marcelo da comissão”. O representante da Betfair teria decidido enviar enviar esclarecimentos formais e documentos à área de governança do clube.
Rico explicou que usava os serviços da empresa apenas como prestadora de serviço para a emissão de nota fiscal até que a Betfair tivesse CNPJ próprio no Brasil. Ele também negou qualquer vínculo de intermediação entre Sá e a negociação com o Vasco.
Procurado pela Folha, Marcelo Rico disse que só iria se manifestar por meio da assessoria da Betfair. A empresa foi contatada para esclarecer este e outros pontos da negociação, mas disse que não comentaria sobre o assunto.
A Folha tentou contatos por telefone e mensagens com Marcelo de Sá e com Lucio Barbosa ao longo de sete dias, mas não teve retornos de ambos.
De acordo com o relatório, tanto a casa de apostas quanto o clube seriam vítimas da tentativa de desvio de dinheiro. Na época, o contrato foi anunciado pelo valor de R$ 70 milhões, porém esse montante só seria atingido por meio de metas, como o Vasco ser campeão brasileiro ou da Libertadores. O valor fixo seria de R$ 45 milhões.
Segundo o compliance da SAF vascaína, não há documentos assinados, propostas formais, autorização da diretoria, acordos de intermediação ou emails de negociação que envolvam Marcelo Sá ou a MadFortune diretamente com a SAF do Vasco e a Betfair.
Os relatórios também apontam que a estrutura digital da MadFortune —incluindo site e perfis profissionais— é considerada incipiente, sem histórico de negócios no setor esportivo, o que contrasta com a alegação de intermediação em um contrato dessa magnitude.
Segundo o relatório, também não há indícios de que Marcelo Sá tenha mantido conversas com a diretoria anterior da SAF durante a fase de formalização do contrato, que já era conduzida diretamente pela matriz da Betfair, em Londres.
Os relatórios, de 4 e 11 de julho de 2024, concluíram que a tentativa de vinculação de Marcelo Sá à intermediação do contrato com a Betfair não tem lastro comercial nem jurídico, sendo considerada uma tentativa informal e sem qualquer respaldo contratual ou autorização institucional de qualquer uma das partes envolvidas.
Em nota, o Vasco confirmou a investigação interna, mas não detalhou os próximos passos do clube. “O Vasco da Gama informa que não irá se manifestar sobre a investigação e seus possíveis desdobramentos, conforme suas diretrizes éticas e legais”.
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