Uma troca de rotina na tripulação da Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês) assumiu um significado incomum: abre caminho para que dois astronautas da Nasa que estão no espaço há nove meses voltem para a Terra.
A agência espacial antecipou a missão em duas semanas depois que o presidente Donald Trump e seu conselheiro Elon Musk, CEO da SpaceX, pediram que Wilmore e Williams fossem trazidos de volta mais cedo do que a agência havia planejado.
As exigências de Trump e Musk foram uma intervenção incomum. A missão anteriormente tinha uma data alvo de 26 de março, mas a Nasa trocou uma cápsula da SpaceX atrasada por outra que estaria pronta mais cedo.
A missão Crew-10 decolou às 20h03 (de Brasília) desta quarta-feira (12) do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, Estados Unidos.
O foguete Falcon 9, da SpaceX, transporta uma cápsula Crew Dragon, também da empresa de Elon Musk, com uma tripulação de quatro pessoas.
Todos os olhos, porém, estão voltados para Barry Eugene Wilmore e Sunita Williams. Os dois estão a bordo da ISS desde 5 de junho do ano passado, aonde chegaram na cápsula CST-100 Starliner. Inicialmente, a primeira missão tripulada da nave, desenvolvida pela Boeing, estava prevista para durar oito dias.
Só que o voo da cápsula foi marcado por problemas, como vazamentos de hélio do sistema de propulsores do módulo de serviço, que chegaram a ser detectados antes da decolagem, mas foram considerados irrelevantes para a realização da missão. Alguns propulsores também falharam.
Em 24 de agosto, diante dos problemas, a Nasa anunciou a sua decisão: a Starliner voltaria vazia. O retorno se deu em 7 de setembro, sem novos problemas, com a nave descendo no deserto de White Sands, no Novo México.
Ainda em setembro, no dia 30, uma cápsula da SpaceX acoplou à ISS na missão Crew-9. Nela, viajaram duas pessoas, o astronauta Nick Hague e o cosmonauta Alexandre Gorbounov, em vez de quatro. Assim, os outros dois lugares ficam para a dupla da Starliner.
A Crew-9 permanecerá em órbita até a chegada da Crew-10.
“É disso que se trata o programa de voos espaciais tripulados do país: estar preparado para situações desconhecidas e inesperadas”, disse Wilmore em uma recente entrevista coletiva.
A Crew-10 deve acoplar à ISS neste sábado (15), quando ocorrerá uma transferência de comando. A Crew-9 pode partir da estação espacial na próxima quarta-feira (19) para pousar na costa da Flórida. Nela, além de Wilmore e Williams, estarão Hague e Gorbunov.
Wilmore e Williams não poderiam partir até que a Crew-10 chegasse para manter a tripulação da ISS com astronautas americanos suficientes para a manutenção da ISS, segunda a Nasa.
A estadia prolongada de Wilmore e Williams se tornou recentemente um tópico de debate político depois que Trump e Musk acusaram o governo Biden de abandoná-los no espaço.
Trump culpou Biden pela situação dos dois astronautas, embora o ex-presidente não tenha tido envolvimento no programa. Musk também culpou o democrata, apesar de se tratar de uma questão amplamente reconhecida como tendo sido causada pela Boeing.
Os astronautas, porém, descartaram que envolvesse influência política na decisão de permanecerem no espaço.
“Do nosso ponto de vista, política não teve nenhum papel”, disse Wilmore. “Para nós foi meio como uma transição suave [entre a missão original, de curta duração, e a incorporação à Expedição 72, como parte da tripulação fixa da estação].”
Durante sua estadia na ISS, Wilmore e Williams têm trabalhado em pesquisa e manutenção com os outros astronautas da estação espacial e permaneceram seguros, de acordo com a Nasa. Em 4 de março, durante uma entrevista, Williams disse que está ansiosa para ver sua família e seus cachorros de estimação ao retornar para casa.
“Tem sido uma montanha-russa para eles, provavelmente um pouco mais do que para nós”, disse Williams sobre sua família. “Estamos aqui, temos uma missão —estamos apenas fazendo o que fazemos todos os dias, e todos os dias são interessantes porque estamos no espaço e é muito divertido.”
Deixe um comentário