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Balé da Cidade de SP contrata duas novas bailarinas negras – 01/04/2025 – Mônica Bergamo


Duas novas bailarinas negras chegam ao Balé da Cidade de São Paulo nesta terça-feira (1°) para compor o corpo de dança do Theatro Municipal. Silvia Kamyla Sousa Pinheiro, de 31 anos, e Gutielle Ribeiro Costa, de 32, foram aprovadas no primeiro edital de seleção exclusivo para bailarinas pretas, pardas e indígenas da instituição, realizado em fevereiro.

Agora, pela primeira vez em 57 anos de história, o Balé da Cidade terá cinco bailarinas negras juntas. O anúncio acontece um mês depois da chegada de Safira Santana Sacramento, 25, e Cleia Santos de Souza, 27. Na próxima temporada, que estreia em maio, elas vão estar ao lado de Grécia Catarina, 31, antes a única bailarina preta da companhia.

Natural de Belém, no Pará, Silvia fez parte da Cia Fusion de Danças Urbanas, em Belo Horizonte, e do Grupo de Rua, do coreógrafo Bruno Beltrão, em Niterói, no Rio de Janeiro. Já Gutielle nasceu em Bandeira, no interior de Minas Gerais e trabalhou na Cia de Dança Palácio das Artes, em Belo Horizonte.

Enquanto a primeira tem raízes no krump, estilo de dança urbana que se caracteriza por movimentos agressivos, a segunda fez escola no jazz, que combina técnicas de balé clássico e dança moderna.

Elas foram convocadas para cobrir a licença artística de outros membros do corpo de dança —os bailarinos dispõem desse direito para participar de projetos que dialoguem com seus interesses. Assim, a verba será usada para contratar as artistas, aprovadas como suplentes no edital com duração de um ano. O contrato tem duração de seis meses, com possibilidade de renovação.

A iniciativa é fruto de um esforço da atual gestão do Balé da Cidade em conjunto com a Sustenidos, administradora do Theatro Municipal.

Para Alejandro Ahmed, diretor artístico desde de 2023, é dever das companhias públicas brasileiras criar formas para se alcançar uma representação racial que reflita a configuração do país. O Balé da Cidade teve penas seis bailarinas pretas em quase 60 anos de história, de um total de 240 artistas, segundo levantamento interno.

“Assim como a presença delas gera uma mudança histórica na companhia, o convívio entre os diferentes movimentos e corpos cria possibilidades de nos tornarmos muito mais robustos em termos técnicos e artísticos”, afirma em entrevista à Folha.

Uruguaio radicado no Brasil, Ahmed é conhecido por uma abordagem artística que explora os limites do corpo e suas possibilidades de transformação, explorando a relação entre linguagem, matéria e comportamento.

Segundo o coreógrafo, o modo hegemônico de se pensar a técnica de dança faz com que as respostas do movimento sejam autofágicas —ou seja, autodestrutivas. As diferenças, por outro lado, criam correlações de modos particulares de controle de movimento.

“Cada uma das novas bailarinas traz uma informação que se complementa com os outros membros do balé. Vamos construir uma técnica forjada nessa diversidade, com completude. É uma technodiversidade de modos de pensar dança”, explica.

De acordo com Ana Teixeira, assistente de direção artística do Balé da Cidade, o edital exclusivo e a convocação das primeiras aprovadas gerou uma celebração nacional.

“Isso mostra que precisamos de mais ações que se dediquem a pensar essas estruturas, que foram embranquecidas ao longo dos anos. É um estímulo para sairmos desse modelo racista, colonial e excludente”, diz.

O processo seletivo teve três etapas: pré-seleção, entrevista e residência artística, nem sempre comum em audições de bailarinas. Criado com o objetivo de aumentar a diversidade dentro da companhia, o edital exclusivo implementou a residência para dar às candidatas condições iguais de avaliação.

Durante a residência, as quatro finalistas passaram uma semana em São Paulo e participaram da montagem da coreografia de “Réquiem SP”, junto com o corpo de balé e Ahmed, coreógrafo do espetáculo.

O próximo passo é encontrar formas de manter a inclusão racial a longo prazo, a partir de leis e regimentos. “Para que, quando não estivermos aqui, esse quadro seja mantido ainda que entre uma direção sem interesse por essa discussão”, afirma Ana.

O Balé da Cidade também tem a intenção de expandir o movimento a outras companhias públicas. “É uma obrigação. A gente precisa entender que estamos no Brasil, não na Europa”, afirma Ana. Um dos pontos de partida é a construção de pontes com o Balé Teatro Castro Alves, da Bahia, para a criação de ações conjuntas.


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