O presidente Lula, em entrevista coletiva ao final da visita de Estado ao Japão, em Tóquio, afirmou ter “duas decisões a fazer” em resposta à taxação do aço brasileiro em 25% pelo presidente Donald Trump, dos Estados Unidos.
“Uma é recorrer na Organização Mundial do Comércio [OMC], e nós vamos recorrer”, disse. “E a outra é a gente sobretaxar os produtos americanos que nós importamos. É colocar em prática a lei da reciprocidade.” Justificou: “Não dá para a gente ficar quieto, achando que somente [eles] podem taxar”.
Posteriormente, detalhou: “No caso do Brasil, nós vamos à OMC e, se não tiver resultado, a gente vai utilizar os instrumentos que nós temos. Que é a reciprocidade e taxar os produtos americanos. Isso é que nós vamos fazer”.
Sublinhou que o comércio bilateral também envolve a exportação de produtos americanos ao Brasil. “Os Estados Unidos não só compram, eles vendem também”, disse. “Eles não só compram do Brasil. É um comércio muito equilibrado, e nós vamos tomar as atitudes que entendemos que seria bom para o Brasil.”
“Nós temos uma relação comercial de praticamente US$ 87 bilhões, dos quais eles são superavitários em US$ 7 bilhões”, prosseguiu Lula. “Eu acho muito ruim essa taxação, porque, ao invés de facilitar o comércio no mundo, está dificultando. E esse protecionismo não ajuda nenhum país do mundo.”
Detalhou depois: “Estou muito preocupado com o comportamento do governo americano, com essa taxação de todos os produtos, de todos os países. Eu estou preocupado porque o presidente americano não é xerife do mundo. Ele é apenas presidente dos Estados Unidos.”
Insistiu porém que a decisão é soberana do americano. “O presidente Trump, como presidente dos Estados Unidos, tem que tomar as decisões dentro dos Estados Unidos. O que ele precisa é medir o efeito dessa decisão.”
Para Lula, será “prejudicial para os Estados Unidos, vai elevar o preço das coisas, pode levar a uma inflação que ele ainda não está percebendo”. Falou em “esperar um tempo para ver, quem sabe neste caso o tempo seja senhor da razão”.
Em relação ao comércio com o próprio Japão, o presidente brasileiro confirmou a atenção que pretende dar ao acordo com o Mercosul. “Se depender de mim, vai acontecer o que aconteceu no acordo com a União Europeia. Nós vamos trabalhar para que haja o acordo do Mercosul com o Japão.”
Além dos ganhos diretos dos países, argumentou, “o mundo está precisando que cresça o comércio entre os países e os continentes. Quanto mais comércio existir, melhor será”.
Sobre a abertura do mercado japonês para a carne bovina, comentou: “Eu disse ao primeiro-ministro [Shigeru Ishiba] que o Brasil está pronto, a partir de amanhã. Eu até disse para ele que as pessoas estavam convidadas para ir no meu avião para fazer a fiscalização que quiserem, para que a gente mostre a qualidade [da carne]”.
Disse ter ouvido de Ishiba que serão mandados especialistas “o mais rápido possível” e que estava satisfeito com isso. “A gente não poderia achar que, numa reunião, iria resolver tudo. Eu acredito que ainda neste ano a gente vai ter uma solução nessa questão da carne.”
O presidente deixou Tóquio por volta do meio-dia em voo para Hanói, no Vietnã, onde a abertura do mercado para a carne também é prioridade brasileira.
Segundo integrantes da delegação, as negociações indicam que a abertura está mais próxima, não só para carne bovina, mas miúdos e farinha –com eventual reciprocidade de abertura para o camarão e outros produtos vietnamitas. Também haveria investimentos brasileiros no Vietnã, no setor de alimentos.
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