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Chimpanzé resgatado na Colômbia ganha 5.000 m² em Sorocaba – 25/03/2025 – Ambiente


Yoko ainda não se acostumou com tanto espaço. Desde que chegou ao Santuário dos Grandes Primatas de Sorocaba (SP), no fim da tarde da segunda-feira (24), o chimpanzé de 38 anos vindo da Colômbia não explorou os 5.000 metros quadrados reservados só para ele. Preferiu ficar em uma área pequena em um dos cantos, perto dos funcionários do local.

O animal foi resgatado de uma vida de maus-tratos na Colômbia. Não há uma documentação muito extensa sobre sua trajetória, mas Javier Guerrero, médico veterinário no Bioparque Ukumarí, lar de Yoko nos últimos sete anos, conta que o chimpanzé passou a infância com uma família de narcotraficantes.

“Por toda a sua infância, foi tratado como uma criança. Era levado aos locais de carro, usava roupas de menino e era visto assim pelos lugares. Depois, há um período em que não se sabe mais sobre Yoko, até que foi encontrado em más condições em um lugar na fronteira entre Colômbia e Venezuela”, conta Guerrero.

Após ser encontrado na fronteira, foi enviado a um centro de conservação animal na região de Cáli, onde ficou por cerca de oito anos, mas um alagamento destruiu o local. Yoko foi então levado ao Ukumarí, na cidade de Pereira (a 317 km de Bogotá).

“Yoko chegou com uma séria desnutrição, faltando dentes, com doenças nas gengivas e dermatite”, conta Raul Murillo Betancur, gerente do Bioparque Ukumarí. Ele conta que ali o chimpanzé iniciou sua recuperação, recebendo tratamento médico, dentário e dermatológico.

Segundo Betancur, Yoko podia ser visto pelo público que visitava o zoológico, mas não interagia com as pessoas. “Ele ficava separado por um vidro muito grosso. Não podia ouvir nem receber comida do público”, afirma.

Yoko conviveu mais com humanos do que com outros chimpanzés durante sua vida. Aprendeu a comer usando uma colher, a fumar, a vestir roupa e a ver TV. Guerrero, que cuida do chimpanzé há três anos e o acompanhou na viagem de avião ao Brasil, diz que ele gosta de programas infantis.

Mas o comportamento mais humano do que de chimpanzé fez com que os outros animais da espécie o rejeitassem. No Ukumarí, ele chegou a viver com outros dois companheiros, um macho e uma fêmea. Guerrero diz que Yoko se dava bem com a fêmea, Chita, mas ela fugiu com o outro macho, Pancho, e os dois foram mortos a tiros por autoridades.

Yoko era conhecido como o último grande primata mantido em cativeiro na Colômbia. A UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) classifica o chimpanzé como espécie em risco de extinção.

A decisão de enviá-lo ao santuário no Brasil foi da Corporación Autônoma Regional de Risaralda (Carder), entidade que faz gestão ambiental do departamento do qual Pereira é a capital.

Segundo comunicado da Carder, a operação de transferência de Yoko, que ganhou o nome “Arca de Noé”, foi liderada pela própria instituição, o Bioparque Ukumarí e a senadora colombiana Andrea Padilla, e teve apoio do Projeto dos Grandes Primatas (GAP), do governo do Brasil, da companhia aérea Avianca e da Força Aereoespacial Colombiana.

Para Betancur, a diretriz de enviar o animal ao Brasil foi motivada pelo desejo de dar a Yoko mais uma chance de socializar e viver como um chimpanzé. “Não podemos garantir totalmente que ele conseguirá socializar, mas a corporação quis aproveitar a oportunidade de enviá-lo a um lugar com outros chimpanzés.”

Agora, no santuário de Sorocaba, a cerca de 90 km de São Paulo, Yoko fica ainda mais longe das pessoas e, após uma quarentena de 30 dias, deve começar a interagir com outros chimpanzés —o que lhe foi negado pela maior parte da vida.

O santuário não é aberto à visitação. Espaços assim foram criados para dar tranquilidade e recuperar animais que já sofreram muito e estão traumatizados.

A reportagem esteve no local na manhã da terça-feira (25) para conhecer Yoko e sua nova casa. Acanhado e dócil, o animal interage tranquilamente com humanos, mas parece ainda ficar desconfortável quando ouve os gritos dos outros chimpanzés, que sobem nas torres dos espaços ao lado para espiar o novo vizinho.

O local abriga mais de 40 chimpanzés, com idades entre 10 meses e 70 anos, machos e fêmeas, além de primatas menores, como macacos-prego e bugios. Aves resgatadas também vivem ali. Ao todo, mais de 200 bichos habitam o refúgio, uma instituição privada criada e mantida pelo empresário e microbiologista Pedro Ynterian, 85, que preside o santuário. Ynterian nasceu em Cuba e vive há mais de 50 anos no Brasil.

“É muito importante que ele não fique sozinho em seus últimos anos de vida. Esperamos que ele consiga criar relacionamentos com outros chimpanzés agora”, diz Guerrero. Os especialistas dizem que, sem doenças, Yoko pode passar dos 60 anos de idade.

Os especialistas que trabalharam com Yoko dizem acreditar que ele nunca teve relações sexuais com uma fêmea. Mas o animal ainda tem seu aparelho reprodutor funcional –outros bichos que passam por maus-tratos nem sempre permanecem assim, explica Ynterian.

“Se ele vir um casal tendo relações [sexuais], ele pode aprender. E pode ter um filhote”, diz o presidente do santuário.

No santuário, a proposta é que todos animais recebam a mesma comida, uma seleção de frutas e verduras, como alface, cenouras, goiabas, maçãs, bananas e pepinos. Mas há exceções.

“Para aqueles que foram acostumados a comer alimentos industrializados, damos um pouco. É o caso de Yoko e muitos outros que vieram de circo, por exemplo, que se habituaram com refeições de humanos”, afirma Ynterian. Yoko ainda ganha um pouco de refrigerante.

O chimpanzé recém-chegado tem uma sala coberta e um espaço aberto amplo, onde pode correr e brincar. Ynterian conta que Yoko levou cerca de três horas para sair da caixa e começar a explorar sua nova casa.

“Mas ele vai chegar lá”, diz Ynterian, apontando para o outro extremo do espaço reservado a Yoko. “Para ele isso aqui é muito grande. É uma experiência muito diferente.”

O responsável pelo santuário já fez até planos para o futuro do animal: “Temos uma chimpanzé que veio da Argentina e é uma possível candidata para se juntar a ele. Pelo menos ela já entende espanhol”, brinca.



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