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Jordana, protagonista do romance “A Construção” (Nós, R$ 69, 192 págs.) de Andressa Marques, entrou na Universidade de Brasília pelo sistema de cotas e seu nome foi incluído na lista de aprovados acompanhado de um asterisco.
Filha de um pai machista, ausente e engajado em causas negras, Jordana tenta escapar de sua sina e ascender socialmente. Até entender que mesmo suas questões mais íntimas não estão a salvo do racismo estrutural e de suas consequências.
A história de Jordana é a de seus ancestrais, segundo a crítica Luciana Araujo Marques. E o asterisco indica uma conquista de gerações de descendentes de pessoas escravizadas.
Jordana passa então a se entender como um coletivo. Essa é a mesma conclusão a que chegou o ator Lázaro Ramos após lançar seu primeiro livro biográfico, “Na Minha Pele”.
A continuação, “Na Nossa Pele” (Objetiva, R$ 69,90, 128 págs.), nasceu do entendimento de que, ao contar sua história, Lázaro estava falando de muito mais gente.
Lázaro conta à jornalista Clara Balbi que, quando escreveu o primeiro livro, evitou contar a história de sofrimento da mãe para não desmotivar os leitores. Dona Célia foi empregada doméstica, sofreu abusos dos patrões e passou os últimos meses de vida presa a uma cama por causa de uma doença rara.
No novo livro, porém, o ator conta a história da mãe e de muitas mulheres como ela —também das Jordanas e dos Lázaros do Brasil.
Acabou de Chegar
“Não me Deixe Só” (trad. Maria Cecilia Brandi, Todavia, R$ 96,9o, 184 págs., R$ 59,90, ebook) chega ao Brasil 20 anos após sua primeira edição e soa como uma visita ao passado. A realidade narrada por Claudia Rankine, com a eleição de George W. Bush e os atentados do 11 de setembro de 2001, tem as mesmas fragilidades democráticas e tensões diplomáticas internacionais atuais. Para a crítica Stephanie Borges, a solidão e as turbulências que Rankine enfrenta ressoam na contemporaneidade.
“A Mulher Habitada” (trad. Enrique Boero Baby, Rosa dos Tempos, R$ 79,90, 448 págs.), escrito em 1988 por Gioconda Belli, antecipa o que aconteceria com a Nicarágua pós-sandinismo. Ela escreveu sobre um casal envolvido na luta para derrubar a ditadura instaurada no país e hoje Belli está exilada de seu país natal, que vive mais um regime ditatorial. Ela conta à colunista Sylvia Colombo que, quando escreveu o livro, tinha uma esperança que não tem mais: “já se passaram meus anos de revolucionária”.
“Amanhecer na Colheita” (trad. Regiane Winarski, Rocco, R$ 78,90, 448 págs., R$ 39,90, ebook) é mais um título de Suzanne Collins que antecede sua série best-seller “Jogos Vorazes”. Na saga, jovens são obrigados a participar de uma competição onde só o vencedor sobrevive. O novo livro conta a história de Haymitch Abernathy, que na trilogia principal é treinador de jogadores. Para a crítica Isabela Yu, a obra se limita a repetir fórmulas já conhecidas como a tese de que os jogos existem porque violência gera audiência.
E mais
A Todavia prepara uma biografia de Zuzu Angel para ser lançada antes dos 50 anos da morte da estilista. O Painel das Letras conta que “Quem É Essa Mulher: Zuzu Angel”, da jornalista Virginia Siqueira Starling, se dedicará à luta da estilista por justiça. Seu primogênito, Stuart Angel, foi torturado e morto pelo mesmo regime que a matou.
Em “Pausa & Linha” (Pinakotheke, R$ 120, 156 págs.), Joaquim Falcão mergulha nos silêncios de sua colega de ABL e amiga pessoal Fernanda Montenegro. O livro é um exercício de interpretação da intérprete no qual Falcão estuda as estratégias e intenções por trás das pausas de Montenegro. Para ele, o livro é lançado em um momento em que o Brasil necessita de “silêncios inteligentes”.
O jornalista Ricardo Viel lançou de maneira independente um livro perfil sobre o violonista gaúcho Yamandu Costa. Viel conta ao repórter especial Fabio Victor que foi difícil escrever o livro pois seu biografado queria conversar sobre outras coisas que não sua própria vida: “ele tem muita ressalva. Não com o conteúdo, mas com ter uma biografia.”
Além dos Livros
A Bienal do Livro Rio anunciou seu primeiros convidados para a edição 2025, que acontece entre os dias 13 e 22 de junho. Entre os nomes divulgados estão o americano G. T. Karber, autor da série de enigmas “Murdle”; a britânica Cara Hunter, conhecida pelos títulos “Onde Está Daisy Mason?” e “Em Um Porão Escuro”; e o argentino Pedro Mairal, autor de “A Uruguaia”.
O editor e jornalista Matinas Suzuki Junior, que saiu da direção da Companhia das Letras no ano passado, prepara uma iniciativa de reimpressão de livros esgotados. O editor Walter Porto conta que o projeto tem a intenção de tornar esses livros novamente disponíveis sob demanda e de remunerar seus autores —o que não acontece, por exemplo, com a revenda em sebos.
A deputada estadual Silvana Sousa (PL) pediu o veto aos livros “E o Medo, que Medo Tem?” e “Alfrabeto” em escolas do Ceará, segundo a repórter Isabela Palhares. O primeiro por apresentar um personagem vestido de bailarina que, nas palavras da deputada, é “mensagem subliminar para a cultura LGBT”. E o segundo por colocar religiões de matrizes africanas em destaque.
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