Muito já se falou sobre a derrubada do Minhocão, o viaduto de 3,4 kms instalado entre a praça Roosevelt, no centro de São Paulo, e os bairros de Perdizes e Barra Funda. Queria dar minha opinião sobre esse assunto. Pensar na demolição atualmente soa delirante. Ideia ruim. O Minhocão virou um lugar charmoso, uma paisagem urbana interessante e que serve à demanda rodoviária e também é área de lazer nas noites e nos fins de semana.
Antes se chamava presidente Costa e Silva e seu nome atual é presidente João Goulart, mostrando a mudança dos tempos e de significado do lugar. Foi construído na gestão de Paulo Maluf e inaugurado em 1971, em plena ditadura. Parte da implicância com ele deriva desse fato: ser uma obra colossal concebida num período autoritário. Além do mais, por muito tempo foi só uma via de carros, cuja parte inferior ficava completamente deteriorada e os prédios do entorno eram deixados a deus-dará, perdendo valor imobiliário.
A situação começou a mudar quando o viaduto passou a ser fechado periodicamente, na administração de Luiza Erundina. Em novembro de 1989, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), a Prefeitura determinou a interdição, de segunda a sábado, das 21h30 até as 6h, e o fechamento total aos domingos. Nessa época ganhou força a discussão pública de derrubar o Minhocão.
Em julho de 2015, o elevado começou a ser fechado aos sábados às 15h e reaberto na segunda-feira. Em 09 de março de 2018, o elevado passou a fechar aos sábados durante o dia inteiro, que é a situação atual. Hoje ele é vetado para os carros às 20h e abre para o lazer até às 22h.
Seu uso hoje é bem diferente do passado, quando dava vontade de demoli-lo. Virou um parque de concreto com uma excelente pista de corrida e de caminhadas, que é bastante usado pela população. Houve uma grande melhoria da paisagem com novos empreendimentos imobiliários e com a reforma de vários prédios. Também há uma maior presença do poder público no local.
O Minhocão funciona bem e recebe uma multidão de pedestres em alguns fins de semana e, ao mesmo tempo, faz parte de uma importante malha viária. Sua eliminação estrangularia o trânsito na rua Amaral Gurgel e na avenida São João, por exemplo.
Conciliar o uso rodoviário com o lazer parece ser uma boa saída urbanística. Poupa-se os moradores da área da poluição sonora, atmosférica e visual do automóveis durante a noite e nos fins de semana e abre-se o espaço para o público.
Existe também uma ideia permanente de tornar o Minhocão um jardim suspenso, o que seria difícil de conciliar com o trânsito no viaduto nos horários estipulados. Em 2019, a Prefeitura lançou um projeto de transformá-lo em um parque linear com jardins e floreiras. Não saiu do papel.
Dá a sensação de que falar da demolição do Minhocão, hoje, se tornou algo fora do lugar. Surgiu uma espécie de solução salomônica que atende múltiplos interesses para mantê-lo de pé e seu pior destino passou a ser cheio de folclore. Sem contar que a condição de moradia na região tende a melhorar muito nos próximos anos.
Só em pensar na quantidade de entulho que seria gerado na demolição e na perturbação que as obras causariam na comunidade já causa dor de cabeça. Seria uma longa obra. Jardins também parecem difíceis de funcionar bem lá em cima por falta de espaço. Seja como for, o elevado João Goulart, apesar de ser obra da ditadura, virou um símbolo da metrópole.
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