O velho ditado de que a esquerda só se une na prisão já pode se aplicar também à direita, a julgar pela presença dos seus principais representantes no ato da avenida Paulista.
A prisão à espreita, claro, é a de Jair Bolsonaro, que, se ainda não ocorreu, já está precificada.
Esse cenário para o futuro próximo formou um espírito de corpo entre os muitos pré-candidatos direitistas ao Planalto, que se deslocaram para São Paulo em apoio ao ex-presidente.
Até figuras que raramente participam deste tipo de ato deram as caras, como os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil) e Ratinho Jr. (PSD).
Num evento em que muitos discursos foram mera repetição do cardápio tradicional do bolsonarismo, como as críticas ao STF e as referências religiosas, a foto dos sete chefes de governos estaduais presentes ao lado de Bolsonaro foi a grande notícia, pelo que significa para o futuro.
Seriam ainda mais, caso Claudio Castro (PL-RJ) não tivesse desistido na última hora em razão das chuvas no seu estado. Outros, como o tucano Eduardo Riedel (MS), mandaram mensagem de solidariedade.
Na eleição de 2022, foi Lula quem conseguiu unir em torno de si uma frente de centro-esquerda (e até pitadas de centro-direita), para destronar Bolsonaro numa disputa apertadíssima.
Agora, a direita responde com seu próprio esboço de frente, que vai do bolsonarismo puro à velha guarda conservadora de Caiado, passando pela centro-direita de roupagem mais tecnocrática de Ratinho Jr.
Além dos governadores, lá estavam cerca de 20 senadores, alguns inclusive de partidos da base do presidente, além de prefeitos, deputados e vereadores.
Obviamente, o teste de fogo da unidade forjada na Paulista virá agora, na definição de quem será o candidato presidencial. Se Bolsonaro estivesse na urna, ninguém se atreveria.
Sem ele, pode ocorrer uma fragmentação, mas o surgimento de um nome único ungido pelo ex-presidente passa a ser factível.
Se o ato deste domingo (6) não foi dos maiores já promovido em termos de público, certamente ele foi uma vitória política.
A anistia para os participantes do 8 de janeiro provavelmente não virá, mas essa pauta, que se confunde com a da prisão do ex-presidente, fornece um discurso para os próximos meses. A pressão sobre o Congresso e o STF tende a aumentar.
A isso se alia a fragilidade de Lula, que anima uma candidatura de oposição. Nunca ele esteve tão vulnerável, com problemas para traduzir bons números econômicos e ações de governo em popularidade.
Embora a anistia fosse o tema principal na Paulista, referências à economia também tiveram seu espaço nos discursos. O slogan “se tudo está caro, volta Bolsonaro” veio para ficar.
Como se não bastasse, a oposição ganhou de presente um símbolo de campanha, que estava nas mãos de muitas mulheres (e até de alguns homens), além de homenageado em balões e cartazes na avenida. Na Paulista, a direita, agora unida, se pintou de batom para a guerra contra Lula.
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