Símbolos das enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul entre setembro de 2023 e maio de 2024, os municípios de Roca Sales, Muçum e Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, ainda exibem em suas ruas as feridas abertas da tragédia.
Meses depois do desastre, famílias não conseguiram reconstruir suas casas, e o comércio local tenta sobreviver em meio às dificuldades impostas não só pela destruição, mas também pela debandada de parte da população.
Em todo o estado, 245 pessoas morreram nas três enchentes, e milhares ficaram desalojadas ou desabrigadas. Entre os sobreviventes, as cicatrizes psicológicas se fazem perceber nos relatos de ansiedade, depressão e sintomas de estresse pós-traumático.
Desde setembro, a Folha publica a série de reportagens Reconstrução Gaúcha, que busca retratar os desafios enfrentados pelo estado e pelos gaúchos para se reerguer após uma tragédia sem precedentes.
A TV Folha publica um documentário sobre essa realidade. A reportagem é de Idiana Tomazelli, repórter do jornal em Brasília, e Pedro Ladeira, repórter fotográfico na capital federal.
Em setembro de 2024, a equipe esteve em três cidades do Vale do Taquari, em Porto Alegre e na região metropolitana da capital para documentar o processo de reconstrução, que anda a passos lentos. Mesmo com a virada do ano, gargalos persistem.
Para as famílias, a falta de terreno seguro para construir é um dos principais desafios.
Caetano Giovanella, 67, decidiu arrancar a marretadas os tijolos maciços adquiridos de segunda mão e que davam forma a seu ferro velho em Passo de Estrela, bairro de Cruzeiro do Sul (a 123 km de Porto Alegre) reduzido a escombros na enchente de maio de 2024. Mais de sete meses após a tragédia, porém, ele ainda não tinha um lugar para dar um destino ao material e erguer uma nova casa.
A professora Simone Hauck, do serviço de Psiquiatria do HCPA (Hospital de Clínicas de Porto Alegre) e da pós-graduação psiquiatria e ciências do comportamento da UFRGS, conduz desde 6 de maio de 2024 uma pesquisa para acompanhar o desenvolvimento de problemas de saúde mental em decorrência das enchentes.
Em dezembro de 2024, mais de seis meses após a tragédia, 35,5% dos entrevistados ainda relatavam sintomas de depressão, e 33,6%, de ansiedade. Profissionais e voluntários que atuaram nos resgates estão entre os mais expostos ao risco de adoecimento mental.
Além disso, um em cada quatro demonstra sintomas de TEPT (transtorno de estresse pós-traumático), condição pouco conhecida e que requer diagnóstico e tratamento adequados. O sintoma mais frequente entre os gaúchos é a evitação, quando a pessoa deixa de frequentar um lugar ou ver pessoas que a façam lembrar da tragédia. Voltar à rotina é um passo crucial para superar o quadro.
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