O operador de logística Pablo Muniz estava dando uma pausa em seu trabalho, quando algo sobrevoou sua cabeça. Tratava-se de um drone fazendo algo, para ele, inédito. Equipado com uma mangueira, o aparelho estava lavando a fachada de um prédio do complexo empresarial E-Business Park, na Lapa, zona oeste de São Paulo.
“Nunca vi isso”, disse, com os olhos vidrados na máquina. “Só tenho pena dos peões que acabaram de perder o emprego.” A lavagem também chamava a atenção de quem passava no local. Os funcionários de um mercado em frente saíram e, com seus celulares, gravaram a performance.
O piloto do equipamento era Luciano Cardoso, dono da empresa Dronewash. Ela estreou há um pouco mais de um ano. Um de seus primeiros serviços foi limpar a Neo Química Arena, casa do Corinthians.
Cardoso estava no complexo empresarial para treinar uma equipe da Innova Drones, que veio direto de Guarapuava (PR), e vender equipamentos. Um drone com kit completo de limpeza chega a quase R$ 140 mil.
O drone usava seu jato d’água de alta pressão com água desmineralizada, que limpa 90% das sujeira, segundo Cardoso. Depois, como demonstração, ele aplicou um sabão específico que criou espuma e atraiu ainda mais olhares.
“As maiores vantagens são a rapidez e praticidade”, diz. Em 30 minutos, o drone pode limpar uma fachada de três andares e cerca de dez metros de largura.
Cada superfície requer um tipo de limpeza. As fachadas feitas de placas de alumínio composto (conhecida como ACM), por exemplo, acumulam manchas muito facilmente e requerem produtos mais leves.
De quebra, Luciano também fez o serviço de limpeza para o E-business, que se mostrou interessado em continuar contratando o serviço.
“[Cardoso] me disse que em um dia ele limpa o prédio todo. O pessoal no rapel faz em três, além de precisar de mais estrutura. O que me preocupa é a água gasta, visto que, desde que a Sabesp foi privatizada, a conta da água dobrou”, conta Renata Hirata, gestora do empreendimento.
Janir Correia, dono de uma empresa de serviço de moto no complexo, também mostrou receio. “Esse prédio foi limpo recentemente, quero ver um encardido há mais de dez anos”, disse enquanto mirava o drone.
A surpresa de muitos em ver o serviço não é novidade para Fernando Rosetti, da Drone Clean, com sede em São João da Boa Vista, no interior paulista, e atuação em cinco estados. “Temos que formar uma área de isolamento para impedir os pedestres curiosos de se aproximar”, afirma.
“Estávamos limpando uma concessionária na avenida Bandeirantes quando reparamos uma viatura nos rondando. Ela deu três voltas lentamente até perguntar o que estava rolando”, diz, rindo.
Fim dos alpinistas?
Empresários acreditam não serem inimigos dos alpinistas industriais, profissionais que realizam tarefas em altura, utilizando cordas e polias para escalar prédios e outras estruturas.
“É necessária a simbiose”, diz Marcello Galindo, diretor operacional da Urano Drone Wash, startup que teve início em São Paulo no final do ano passado. Apesar das vantagens, os drones ainda não funcionam bem em grandes alturas ou em lugares apertados. A mangueira e a pressão da água também dificultam a logística.
No E-Business, por exemplo, palmeiras próximas às vidraças impediam a lavagem completa.
O espanto com a tecnologia também é uma faca de dois gumes, afirma Marcello. Enquanto ajuda a espalhar rápido, no boca a boca ou pelos vídeos virais, vira um risco à segurança.
“Precisamos lembrar que o drone é uma aeronave, que, como qualquer uma, precisa ter um jeito de pousar com emergência”. E uma multidão parada limita os espaços de aterrissagem.
Por isso, a Urano prefere que o espetáculo da limpeza com drones seja feito aos finais de semana ou à noite.
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