O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) retornou a Washington pela quarta vez no ano para encontros com integrantes do governo americano como parte de uma ofensiva contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
O parlamentar foi com a família para a Flórida e, nesta semana, passou pela capital dos EUA. Em um vídeo com o influenciador de direita Paulo Figueiredo, ele relata ter tido conversas com integrantes do governo na Casa Branca, sem detalhar quem são as autoridades.
Até a sexta-feira (14), Eduardo ainda não tinha data para voltar e aliados defendem que ele fique no país e não retorne ao Brasil, sob pena de perder o passaporte.
O PT acionou o STF pedindo a apreensão do passaporte do deputado, alegando crimes contra a soberania cometidos pelo parlamentar no périplo pelos EUA. A solicitação foi feita em 27 de fevereiro, quando Eduardo chegou ao país.
A medida repercutiu nas redes sociais, sendo criticada por bolsonaristas, que alegam perseguição política ao deputado, com o objetivo de dificultar sua ascensão à Comissão das Relações Exteriores.
O PL indicou o parlamentar para comandar o colegiado. Parlamentares do PT reagiram e falam em possíveis ruídos com o Supremo e nas relações diplomáticas do Brasil para tentar evitar a escolha, como mostrou a Folha.
Figueiredo, também alvo das ações de Moraes, defende que Eduardo permaneça nos EUA. O parlamentar não respondeu a pergunta da reportagem sobre o tema.
Enquanto isso, o deputado mantém a ofensiva nos EUA, junto com o youtuber, para convencer autoridades americanas a aplicarem sanções a Moraes, que vão desde a perda do visto para entrar no país ao bloqueio de contas no exterior.
O ministro do STF é o relator da denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) sobre a trama golpista de 2022, na qual Bolsonaro e Figueiredo estão incluídos.
“O que estamos fazendo aqui nos Estados Unidos não é nenhum absurdo. Só estamos levando ao conhecimento de várias autoridades o que está acontecendo no Brasil”, afirmou Eduardo numa live.
“Chutaram o Rumble [tiraram a rede do ar], o cara está pedindo mandado de prisão contra brasileira que está em solo americano [Moraes pediu a prisão de uma brasileira com dupla cidadania, naturalizada americana, por participar no 8 de janeiro]”, disse.
Bolsonaro ainda disse na live que os ministros estavam fazendo piadas com a possibilidade de perderem o passaporte e agora levam a sério.
Eduardo tratou do pedido de cassação do seu passaporte e alegou novamente haver uma perseguição.
“Vir aos Estados Unidos com muita frequência é um crime?”, ironizou. “Qual é o crime ao articular reações ao STF no exterior? O STF é ‘incriticável’, você não pode criticar medidas de ministros do STF”, disse.
A investida ocorre às vésperas do julgamento da Primeira Turma que pode tornar Jair Bolsonaro réu. Na quinta (13), o ministro Cristiano Zanin, marcou para os dias 25 e 26 de março a análise do recebimento da denúncia contra o ex-presidente e aliados pela trama golpista em 2022. A expectativa de bolsonaristas é que uma sanção a Moraes possa pressionar os demais ministros do STF a recuar nos processos.
Uma das apostas de quem faz parte da ofensiva é que Moraes possa ser sancionado com base na chamada Lei Magnitski —em homenagem ao advogado russo Sergei Magnitski. A legislação, aprovada no governo Barack Obama, impõe restrições a vistos, congela contas e ativos dos alvos no exterior e impõe restrições financeiras a empresas.
Bolsonaristas dizem que a sanção pode levar instituições financeiras a encerrarem as contas dos alvos, sob pena de os bancos serem impedidos de participar do sistema financeiro internacional. Isso poderia significar o encerramento das contas de Moraes no próprio Brasil, afirmou Figueiredo numa live.
Essa sanção é aplicada pelo Executivo. O deputado republicano Rich McCormick afirmou nas redes sociais que pediria a Trump a aplicação das sanções Magnistsky contra o ministro.
A outra frente é busca pela aprovação da proposta “No Censors on our Shores Act” (Sem censores em nosso território), que estabelece a deportação e o veto de entrada nos EUA. Esse projeto foi aprovado no colegiado análogo à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara americana e ainda não tem data para ir a plenário.
O texto tem apoio de republicanos, mas também de democratas, por se tratar de uma proteção da liberdade de expressão, cara aos americanos e prevista na Constituição.
A expectativa de bolsonaristas é que alguma sanção seja aplicada nos próximos meses.
Da última vez que esteve nos EUA, no final de fevereiro, Eduardo esteve com integrantes do Departamento de Estado, órgão equivalente ao Ministério das Relações Exteriores.
Dias depois, o órgão publicou mensagem com referência implícita a Moraes e disse que punir empresas americanas por se recusarem a praticar censura vai contra os valores democráticos. Daquela vez, Eduardo também participou da Cpac, maior conferência conservadora do mundo, em que discursou, criticou Moraes e defendeu seu pai.
Na semana anterior, esteve no país porque tinha encontros marcados com deputados e senadores e autoridades. Antes, viajou para participar da posse de Donald Trump em 20 de janeiro.
Eduardo disse à Folha antes que as viagens foram pagas por ele pela conferência. Desta vez, o parlamentar não respondeu à reportagem. Aliados dizem que ele pagou por conta própria a ida aos EUA.
Deixe um comentário