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Energia limpa é outra coisa – 30/03/2025 – Opinião


Uma empresa desmata mil hectares de vegetação para instalar uma fazenda solar. Um empreendimento cobre cem nascentes do rio São Francisco. Pás eólicas giram em uma torre de 100 metros a passos de uma escola pública.

Esses são três casos reais entre dezenas de outras situações que se avolumam no Brasil, em especial no Nordeste, desde que a primeira torre eólica surgiu no horizonte. Entre contratos draconianos de arrendamento de terras e atropelo de direitos humanos e da natureza, os setores eólico e solar acumulam um passivo de problemas impossível de digerir.

Aqui vale um recado para os lobistas do fim do mundo: é óbvio e inegociável que a humanidade precisa gerar energia renovável, com o mínimo possível de gases de efeito estufa, e abandonar os combustíveis fósseis que causam o aquecimento global. Pelo bem de todos, a última gota de petróleo ou molécula de gás fóssil a ser explorada não pode ser a última disponível.

Isso posto, a emergência climática não pode justificar atos desmedidos como desmatamento, ataque à biodiversidade, ameaças à integridade de crianças e mulheres, assédio a agricultores familiares e êxodo rural —inclusive em regiões que receberam investimentos nas últimas décadas para produzir comida fresca, e assim alimentar estudantes, por exemplo.

Em suma: para cumprir um objetivo de desenvolvimento sustentável, nenhum outro deve ser sacrificado.

O Brasil é um dos mercados mais promissores do mundo para captação de investimentos verdes. Contudo, a boa perspectiva não pode fomentar mais conflitos e violações de direitos humanos.

Com esse espírito, uma série de ações está em curso. Movimentos sociais e academia mapearam minuciosamente os problemas no Nordeste e construíram mais de cem recomendações para gestores públicos, empresas e agentes financiadores. O governo federal produziu seu próprio diagnóstico, e o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União têm dialogado com a sociedade.

O setor eólico olhou para dentro e reconheceu problemas, ainda que as empresas pouco ou nada tenham alterado seus atos. O setor de geração solar centralizada estuda passos semelhantes.

Agora falta colocar a máquina pública para rodar mais rápido: normas técnicas e legais precisam ser atualizadas, e o planejamento energético deve compatibilizar os usos múltiplos da terra e do mar para dirimir conflitos.

A discussão sobre a taxonomia sustentável brasileira, conduzida pelo Ministério da Fazenda, é outro caminho para fomentar boas práticas caso estabeleça salvaguardas socioambientais para a geração de energia renovável. Se incorporadas, elas geram mais confiança, menos risco social para quem vive no campo, e menos risco financeiro para investidores, fornecendo a tão necessária segurança jurídica do planejamento à execução.

A energia renovável não pode mais ser um simulacro de sustentabilidade. Agora é hora de agir.

TENDÊNCIAS / DEBATES

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.



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