Em 721 a.C., o reino de Israel foi invadido e conquistado pelos assírios. A capital, Samaria, foi destruída, grande parte da população foi deportada e o território de Israel ocupado por colonos trazidos de outras províncias do Império Assírio. Esses eventos impactaram na redação da Bíblia hebraica, originando a narrativa do desaparecimento das dez tribos do norte, as “tribos perdidas”.
Muitos aspectos da conquista assíria permanecem obscuros, mas isso pode mudar. No mês passado, foram anunciadas novas escavações em uma das grandes capitais da Assíria, Dur-Sharrukin (o sítio arqueológico de Khorsabad, no Curdistão iraquiano). As descobertas podem lançar novas luzes sobre o destino trágico do reino de Israel e sua relação com a narrativa bíblica.
As expectativas são altas. Um levantamento preliminar, utilizando tecnologia inovadora, revelou enormes construções nunca antes escavadas. A equipe franco-alemã realizou um mapeamento de parte do sítio com um magnetômetro, aparelho capaz de identificar variações no solo e estruturas arqueológicas subterrâneas.
O estudo revelou cinco grandes edifícios, com pelo menos 127 cômodos, além de trechos da antiga muralha da cidade. Esse mapeamento orientará futuras escavações de forma mais precisa, economizando tempo e recursos.
Espera-se que muitos documentos cuneiformes, artefatos e imagens sejam encontrados e ampliem o entendimento sobre quem liderou a conquista assíria —ou se foram mais de um soberano. Naquele período, a Assíria vivia um momento de instabilidade, marcado por uma transição de reinado.
O Segundo Livro de Reis, escrito bem depois dos eventos, atribui a destruição de Israel ao rei Salmanasar, identificado como Salmanasar 5º, filho de Tiglat-Pileser 3º. Segundo o relato bíblico, a conquista ocorreu porque o rei Oseias traiu os assírios ao buscar uma aliança com o Egito, mas também porque os israelitas se afastaram de seus costumes ancestrais e cultuaram falsos deuses.
O nome de Salmanasar como conquistador de Israel também aparece nas crônicas babilônicas. No entanto, nenhuma inscrição do próprio Salmanasar foi encontrada, e seu reinado é pouco documentado. Além disso, seu sucessor, Sargão 2º, produziu textos e monumentos em que ele se apresenta como o destruidor de Samaria e conquistador de toda a região da Palestina até o Egito.
Grande parte dessas inscrições e monumentos estava em Dur-Sharrukin, a nova capital construída por Sargão 2º. A cidade, erguida para abrigar o governo palaciano, substituiu as antigas capitais Kalhu e Nínive. Contudo, após a morte de Sargão, os reis assírios retornaram a Nínive, e Dur-Sharrukin perdeu sua importância.
Diante dessas informações contraditórias, é difícil determinar com certeza qual rei assírio foi o responsável final pela queda do reino de Israel. Alguns historiadores acreditam que Sargão 2º se apropriou dos feitos de Salmanasar 5º. Outros sugerem que Salmanasar iniciou a expansão, enquanto Sargão concluiu a conquista com a tomada de Samaria.
As novas escavações na antiga capital assíria podem oferecer respostas mais claras. Tudo dependerá dos tipos de documentos encontrados. Se forem inscrições reais ou grandes monumentos com imagens das vitórias do rei, é provável que Sargão 2º volte a ser destacado como o grande conquistador, contradizendo o texto bíblico.
Mas se forem cartas ou documentos administrativos, mais isentos de ideologia régia, o processo de expansão assírio poderá ser entendido de modo mais complexo, mostrando que Salmanasar 5º foi o maior responsável pela destruição de Israel, como diz o texto bíblico, e que Sargão teve um papel secundário.
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