O governo do presidente Donald Trump levou seus esforços para enxugar a máquina pública americana à Suprema Corte dos Estados Unidos ao desafiar, nesta segunda-feira (24), a ordem de um juiz para recontratar milhares de funcionários demitidos.
O Departamento de Justiça solicitou à corte que bloqueasse uma decisão de 13 de março do juiz William Alsup, do Tribunal Federal de São Francisco. A sentença ordenava que seis agências federais reintegrassem milhares de funcionários em período probatório —ou seja, recentemente contratados— e demitidos como parte da política do republicano para reduzir o Estado.
O juiz criticou o governo pela demissão em massa dos funcionários em período probatório e questionou a justificativa apresentada, de que as dispensas foram causadas pelo desempenho insatisfatório desses trabalhadores.
Em uma petição, o Departamento de Justiça diz que a ordem do juiz permite que demandantes “sequestrem a relação de emprego entre o governo federal e sua força de trabalho”, o que violaria a separação entre o Judiciário e o Executivo. Esses dois Poderes, assim como o Legislativo, foram estabelecidos como independentes na Constituição dos EUA para atuarem como freios e contrapesos um dos outros.
“Este tribunal deve interromper o ataque contínuo à estrutura constitucional antes que mais danos sejam causados”, afirma o órgão.
O departamento argumentou ainda que a ordem do juiz violaria a separação de poderes delineada na Constituição dos EUA, “atribuindo a um único tribunal federal os poderes de gestão de pessoal do Poder Executivo, com base em argumentos frágeis e prazos apressados”.
Os funcionários probatórios geralmente têm menos de um ano de serviço em seus cargos atuais, embora alguns sejam funcionários federais de longa data em novos cargos. Eles têm menos proteções no emprego do que outros servidores do governo, mas, em geral, só podem ser demitidos por desempenho ruim.
As ações do juiz representaram um golpe significativo para o esforço de Trump, ao lado do bilionário Elon Musk, para reduzir e remodelar drasticamente a burocracia federal. Ambos têm trabalhado para eliminar milhares de empregos federais e desmantelar entidades governamentais, além de remover chefes de agências independentes, apesar das proteções no emprego autorizadas pelo Congresso.
Sindicatos, grupos sem fins lucrativos e o estado de Washington afirmaram que o Gabinete de Gestão de Pessoal dos EUA excedeu sua autoridade para as demissões em massa. Alsup, indicado pelo ex-presidente democrata Bill Clinton, concordou.
“É um dia triste quando nosso governo demite bons funcionários e diz que foi com base no desempenho quando sabem muito bem que é uma mentira”, disse Alsup em uma audiência. A decisão de Alsup se aplicou aos funcionários probatórios dos departamentos de Defesa, Assuntos de Veteranos, Agricultura, Energia, Interior e Tesouro.
Trata-se de mais um episódio da guerra jurídica que o governo de Trump empreende para avançar com a sua agenda.
Em um caso separado, um juiz federal com sede em Baltimore, por exemplo, ordenou que a gestão reintegrasse trabalhadores probatórios em 18 agências federais, incluindo a Agência de Proteção Ambiental, o Bureau de Proteção Financeira ao Consumidor e a Usaid (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), em um processo movido por 20 estados liderados por democratas.
Os processos fizeram Trump, a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, e outros membros de seu governo acusarem vários juízes federais de interferirem na autoridade presidencial. Na semana passada, o republicano chegou a pedir o impeachment do juiz que se opôs aos voos de deportação.
Horas depois, o presidente da Suprema Corte dos EUA, John Roberts, respondeu às declarações com uma rara crítica pública a um presidente. “Por mais de dois séculos, ficou estabelecido que o impeachment não é uma resposta apropriada para desacordos sobre uma decisão judicial”, disse ele em um comunicado. “O processo normal de revisão de apelação existe para esse fim.”
Nas redes sociais, Trump afirmou que, se Roberts e a Suprema Corte não fizessem nada a respeito do que entende como ingerência, o país estaria “em sérios apuros”.
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