A Força Aérea Brasileira pretende estar apta a disparar os armamentos de seu novo caça, o sueco Saab Gripen, até o final deste ano. A estimativa foi dada pelo comandante da base em que os aviões operam, em Anápolis (GO), tenente-coronel Ramon Fórneas.
“Vamos receber a próxima atualização de software nos próximos dias”, disse ele ao comentar o desempenho do avião. A FAB já recebeu oito unidades —um nono aparelho, o primeiro entregue ao Brasil em 2020, ainda cumpre a campanha final de testes do modelo.
A incorporação de um novo vetor é feita em etapas. O Gripen foi declarado operacional em abril do ano passado, mas isso não significa que ele pode disparar seu canhão ou os dois principais mísseis que opera na FAB, o Iris-T de curto alcance e o Meteor de combate além do campo de visão.
Há atrasos considerados naturais. O lançamento do Meteor, que já ocorreu na Europa, não acabou sendo realizado em teste no Brasil ainda, como estava previsto.
Isso depende de novas atualizações e treinamentos, que Fórneas espera ver completos neste ano. “Hoje podemos voar e fazer uma interceptação”, disse, mas o eventual tiro de destruição contra uma aeronave invasora ficaria a cargo dos antigos F-5.
O 1º Grupo de Defesa Aérea, de Anápolis, é responsável pela proteção do poder central no país —Brasília está a 150 km, um pulo em termos aeronáuticos. A base operava os F-5 provisoriamente desde que foram aposentados os Mirage-2000 em 2015, eles mesmo uma solução-tampão.
De tempos em tempos, F-5 de outras unidades ficam na cidade goiana para qualquer eventualidade.
Isso dito, 2024 foi um ano de avanço no programa. Após a certificação operacional, começaram os treinamentos de combate, primeiro entre Gripen e depois contra F-5. A FAB tem 14 pilotos habilitados a voar o modelo, um deles formado inteiramente no Brasil.
“Nesse caso, o aviador veio de quatro anos com o F-5 para os simuladores, e de lá para o Gripen”, disse. Antes, os pilotos iam à Suécia voar com um instrutor no modelo de dois lugares da geração anterior, a C/D. A geração comprada em 2014 pelo Brasil, a E/F, ainda não tem o avião biposto pronto.
O ápice do ano foi o exercício Cruzex, ocorrido em novembro em Natal. Nele, Fórneas confirmou que o Gripen abateu, e também foi abatido, pelo célebre caça americano F-15, algo que circulou amplamente em redes sociais.
O aparelho dos EUA voou ao lado de caças brasileiros e F-16 chilenos. Dos 8 Gripen de Anápolis, 7 participaram do mês de treinamento, com seis saídas de combate simulado por dia. “O desempenho foi acima do previsto”, disse Fórneas, ressaltando os 85% de disponibilidade do avião —ou seja, sua capacidade de uso contínuo.
O programa brasileiro prevê 36 Gripen, 8 deles com dois lugares. Neste ano deverá voar o primeiro avião produzido na unidade da Embraer em Gavião Peixoto (SP), como parte do programa de transferência de tecnologia —a fabricante brasileira, assim outras como a AEL e Akaer, é parceira da Saab.
Segundo o vice-presidente da Saab e chefe de vendas do Gripen, Mikael Franzén, ainda não houve avanço na questão da aumento da frota brasileira para 50 aviões. Ele estava ao lado de Fórneas nesta terça (1), na abertura da feira de defesa e segurança LAAD, no Rio.
Há um entendimento político entre Suécia e Brasil nesse sentido, com o país escandinavo tendo anunciado a compra de quatro cargueiros C-390 da Embraer. A correlação entre os negócios, diz Franzén, não é automática. “São negociações separadas”, disse.
Ele comentou o novo cenário de aumento de gasto militar da Europa, no qual a Saab poderá ser beneficiada.
Irritado como desengajamento de Donald Trump da visão continental da Guerra da Ucrânia, Portugal, por exemplo, desistiu de comprar novos F-16 americanos, abrindo a porta para os suecos e seus rivais franceses.
Para Franzén, o aumento de demanda eventual será benéfico para a linha de produção do Brasil, que pode vir a se chamada a contribuir com a produção global quando os compromissos com a FAB estiverem cumpridos, o que deve ocorrer até o fim da década.
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