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Ferrari: Chegada de Hamilton muda rotina da escuderia – 17/03/2025 – Esporte


O GP da Austrália de F1, disputado neste domingo em Melbourne, abriu a temporada 2025 com uma marca: a estreia do piloto mais vitorioso de todos os tempos (Lewis Hamilton) na única equipe a competir em todos os campeonatos desde a criação da categoria, em 1950 (a Ferrari).

O resultado, é bem verdade, foi abaixo do esperado pelos milhões de fãs: décimo lugar para o heptacampeão mundial. Seu companheiro de equipe, Charles Leclerc, também esteve em dia de dificuldades e foi apenas o oitavo, fazendo deste início de temporada o pior da equipe italiana desde 2009. Mas a chegada de Hamilton na Ferrari colocou o time em um outro patamar de destaque e atenção ao longo do final de semana em Melbourne.

A começar pela rotina do time. A mais tradicional das escuderia providenciou mudanças no final de semana de corrida e em sua sede, em Maranello, para deixar a vinda de Hamilton a mais confortável possível. Isso incluiu a volta do trabalho da fisioterapista Angela Cullen, que esteve com o inglês em boa parte de sua carreira, mas havia sido afastada nos anos finais da Mercedes.

Outra mudança tem a ver com a alimentação: adepto de uma dieta a base de plantas, Hamilton tem menu especial para sua refeições nas corridas e mesmo nos tradicionais restaurantes frequentados pelos pilotos em Maranello, incluindo pizza vegana. A mudança incluiu até uma adição no cardápio do tradicional Montana, que fica próximo ao circuito de Fiorano, a pista de testes particular da Ferrari na Itália.

E foi justamente a comida uma das mostras de que a adaptação de Hamilton na equipe está indo melhor do que o esperado. Questionado sobre como o inglês estaria se adaptando ao jeito italiano de trabalhar nas corridas, após ter feito sua carreira inteira na F1 em escuderias britânicas e alemãs, o chefe de equipe da Ferrari, Frederic Vasseur, brincou: “acho que não é nenhum drama se adaptar à comida italiana quando você vem do Reino Unido”.

Se fora das pistas a adaptação para a Itália parece natural, do lado técnico há muito a ser feito. Hamilton prefere uma ordem de botões no volante diferente da usada por seu companheiro de equipe, Charles Leclerc. O botão de bebida para hidratação para Hamilton é acionado em lado oposto ao do monegasco, e pode ser confundido com o acionamento da potência elétrica da unidade de potência do carro, por exemplo –no GP da Austrália não houve registros de nenhum incidente de trocas de comando.

Sobre o motor da Ferrari, Hamilton também se disse surpreso com o som (mais forte) e o próprio torque. Tudo bem diferente do que ele estava acostumado: afinal, desde que estreou na F1, em 2007, o piloto inglês só competiu em times cujo fornecedor de motores era a Mercedes. Primeiro com a McLaren e depois com a equipe oficial de fábrica, de 2013 em diante.

Hamilton também está tendo que lidar com um novo time de mecânicos –e a tradição da Ferrari é que esta área é composta basicamente por profissionais italianos. Ele tem um conhecimento da língua bem acima do padrão, pois morou na Itália em seus anos de competição no kart. Mesmo assim, está fazendo aulas de italiano e deve se mudar de Mônaco para Milão para ficar mais próximo da equipe e também se aprofundar na cultura italiana.

Seu engenheiro de pista, Riccardo Adami, também é o mesmo que trabalhou com Carlos Sainz nos últimos anos –Hamilton entrou no lugar do piloto espanhol. Ele também foi o engenheiro de Sebastian Vettel em seus anos de Ferrari.

Se na estrutura de mecânicos e engenheiros a Ferrari manteve praticamente o mesmo time de 2024, na área de comunicação a revolução foi grande. Normalmente a Ferrari já é a equipe mais procurada do grid, por jornalistas do mundo inteiro e milhares de fãs espalhados em todos os circuitos. Mas a concentração e aglomerações em torno do box da Ferrari no circuito de Albert Park foram bem acima do comum –a ponto de que pilotos de outras equipes tinham que abrir caminho pelo meio de VIPs aglomerados ao redor do box da Ferrari–, tudo para tentar uma selfie ou mesmo uma foto de Hamilton agora trajando o tradicional macacão vermelho da Ferrari.

Em seus compromissos de imprensa, Hamilton recebeu também uma assessora de imprensa exclusiva, a italiana radicada em Londres Ella, que foi escolhida por meio do “Mission 44”, coordenado pelo manager de Hamilton, Marc Hynes, e que busca “empoderar jovens a superar a injustiça social” por meio da educação e oportunidades profissionais.

A assessora acompanha o piloto em todos os seus compromissos e foi presença constante em sua estreia na Ferrari na Austrália. Esta “regalia”, no entanto, não é exclusiva da Ferrari –há outros times que optam por este tipo de atendimento 100% exclusivo, como a Red Bull fazia com Vettel (sua RP, Britta Roeske, inclusive, foi levada para a própria Ferrari quando o alemão trocou de time).

A lua de mel entre Ferrari e Hamilton ainda é visível. “Estou me sentindo tão feliz como da primeira vez que corri de F1 aqui em Melbourne, em 2007”, disse Hamilton antes do GP deste domingo. “Passei tantos anos pela garagem vermelha e agora estou nela. É uma sensação muito legal”, disse. Sobre a pressão extra por um bom resultado, agora na Ferrari, o inglês desconversa. “Eu não sinto a pressão: não leio as notícias, fico muito tempo longe das mídias sociais e não fico sendo bombardeado por este tipo de conteúdo, é como se eu me isolasse dentro de minha própria bolha”, completou.

Como todo casamento, a prova do amor incondicional será testado já nos próximos GPs. A corrida em Melbourne, considerada atípica pela chuva e por ser em um circuito de rua, pode ter contribuído para o baixo desempenho dos carros de Maranello. Mas a sequência de três provas em autódromos “normais” (China, Japão e Bahrein) colocará aquela dose extra de pressão nos italianos. Por enquanto, os tifosi estão eufóricos com seu novo ídolo. O tempo dirá se a contratação de um campeão mundial será tão feliz quanto foi com Michael Schumacher, com cinco títulos de 2000 a 2004, ou com o amargo sabor de Fernando Alonso, Vettel e Alain Prost –que saíram de Maranello sem outra taça de campeão.



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