O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, foi personagem de dois jantares nas últimas semanas com políticos e personalidades do meio cultural. Num desses encontros, ele abriu as portas de sua casa em Brasília para receber autoridades e outros convidados.
A estreia de Galípolo como chefe do BC, em janeiro, foi acompanhada de projeção também fora do dia a dia da instituição. Ele circula em grupos variados, além de ampliar sua interlocução com o mundo político.
Galípolo foi o convidado de honra de um jantar em um amplo apartamento do bairro de Higienópolis, em São Paulo, na noite de 7 de março, uma sexta-feira. Entre os participantes, estavam advogados, artistas plásticos e médicos.
O jantar foi oferecido pelo advogado Rodrigo Rocha Monteiro de Castro, com atuação nas áreas de direito societário, fusões e direito esportivo. O encontro não foi registrado na agenda do BC.
Ao fazer a apresentação, o jornalista Juca Kfouri, que é colunista da Folha, exaltou as qualidades do presidente do BC, mas sugeriu que não esperassem de Galípolo dicas de investimentos.
Também em tom de brincadeira, segundo relatos, Kfouri disse que os convidados talvez estivessem diante de um futuro presidente da República. Profissional especializado na cobertura esportiva e corintiano, ele brincou que Galípolo poderia ter esse futuro, apesar de ser palmeirense. O presidente do BC riu.
Como em outros eventos reservados de que participa, Galípolo foi questionado sobre os motivos de decisões recentes da instituição, principalmente aquelas relacionadas à política de juros.
De acordo com relatos, o presidente do BC comentou a composição da diretoria da instituição e respondeu a dúvidas sobre juros e inflação. Ele explicou, por exemplo, que o presidente do banco não tem ascendência sobre os demais diretores e que as decisões, portanto, devem ser negociadas.
A conversa ocorreu fora do período de silêncio –intervalo em que a diretoria do Banco Central não pode fazer declarações sobre assuntos do Comitê de Política Monetária. O período que está atualmente em vigor começou no dia 13 e vai até o dia 25.
Dias depois daquele evento, Galípolo foi o anfitrião de um jantar que teve a presença dos presidentes do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). O encontro ocorreu na segunda-feira (10).
Também estavam lá o secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), e o vice-presidente do Senado, Eduardo Gomes (PL-TO), que já foi líder do governo de Jair Bolsonaro (PL).
O jantar foi oferecido para a empresária Paula Lavigne e a cantora Marisa Monte. O encontro foi descrito como informal e amistoso, contando com a presença dos cônjuges de alguns dos convidados.
Parte das conversas, segundo os presentes, passou por discussões sobre projetos em tramitação no Congresso. Gomes, por exemplo, é relator da proposta de regulação da inteligência artificial e debate a proteção de direitos autorais nesse setor, tema que conta com a atuação de Lavigne .
Desde que assumiu a presidência do banco, Galípolo foi aconselhado em alguns episódios pelo ministro Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação Social). Num desses casos, quando o BC anunciou regras para chaves Pix, os dois trocaram impressões sobre o comunicado feito pelo banco, com o objetivo de evitar uma nova crise de desinformação sobre o meio de pagamento.
Nos últimos anos, a proximidade com o mundo político tornou o antecessor de Galípolo no Banco Central alvo de críticas e de acusações de quebra de independência. No caso de Roberto Campos Neto, suas interações eram frequentes com ministros e aliados de Bolsonaro. Ele chegou a vestir a camisa da seleção brasileira, usada por bolsonaristas, para votar nas eleições de 2022.
Galípolo já exibiu uma relação direta com o presidente Lula (PT). Em novembro, ele participou de reuniões com o petista sobre o pacote fiscal elaborado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda). Em dezembro, ele foi à confraternização de fim de ano do primeiro escalão do governo.
Nas duas ocasiões, Galípolo ainda era diretor de Política Monetária do BC –antes, portanto, de ser efetivado como presidente.
Apesar do papel desempenhado por Galípolo, políticos enxergam poucos sinais de pretensões imediatas do presidente do Banco Central nessa área. Há alguns entusiastas da ideia de que ele possa desempenhar outros papéis em governos ou até disputar eleições. Esses observadores, no entanto, entendem que esse cenário dependeria de uma construção que, hoje, não estaria posta.
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