Adaptado do livro “Le quai de Ouistreham” (“A faxineira”, no Brasil), de Florence Aubenas, “Entre dois mundos” tem como eixo a visão do cotidiano dessas mulheres por uma “estrangeira” com a vida ganha. É com perspectiva semelhante à do inglês Ken Loach — focado na dureza do trabalho precarizado — que o diretor Emmanuel Carrère registra esta realidade europeia. De um lado, “a estrangeira” Marianne, em atuação soberba de Juliette Binoche, no auge da simplicidade e despojamento. No entorno, elenco não profissional, com presenças luminosas como Hélène Lambert (Chrystèle) e Léa Carne (Marilou). No dia a dia, a dureza laboral é compensada pela sororidade, momentos de descontração, afetos. Já os homens são na maioria imigrantes — ou chefes.
Prêmio de melhor filme para o público no festival de San Sebastian, “Entre dois mundos” desliza da exibição da “precariedade” para o papel de Marianne: até que ponto é “ético” se camuflar e “enganar” colegas, mesmo com a nobre missão de tornar visível o invisível? A recepção se divide entre agradecidas e traídas.
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