Em 2022, o Ituano esteve perto de alcançar pela primeira vez o acesso à Série A do Campeonato Brasileiro. O time chegou à última rodada dependendo apenas de si mesmo para chegar à elite, mas perdeu em casa para o Vasco e viu o adversário ficar com a vaga.
Dois anos depois, o cenário era outro. O rubro-negro amargou na temporada passada pela primeira vez desde sua fundação, em 1947, um rebaixamento duplo, com quedas para a A2 do Campeonato Paulista e para a Série C do Brasileiro.
Campeão do mundo com a seleção brasileira em 2002 e gestor de futebol do Ituano, Juninho Paulista reconheceu que os resultados ficaram muito aquém das expectativas.
“O ano passado foi de surpresa para todos. Muito negativo, desastroso. Foi realmente um ano muito ruim na nossa história de gestão”, afirmou à Folha o ex-jogador, à frente do clube desde 2009, em parceria com o sócio Paulo Silvestri. Juninho ficou fora da equipe entre 2019 e 2023, quando trabalhou na CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Segundo ele, o plantel de jogadores não conseguiu o entrosamento necessário para ser competitivo contra os adversários nas duas competições. “Não criamos um grupo coletivo forte. Tínhamos individualidades, bons jogadores, mas a gente não conseguiu, coletivamente, fazer com que essas individualidades sobressaíssem.”
Com apostas em nomes como o meia Jean Pyerre, ex-Grêmio, e o atacante Leozinho, que ganhou notoriedade no futsal e fez a transição para o campo, o time terminou o Paulista na lanterna, com a pior defesa e o pior ataque, caindo após 23 anos na elite. No Brasileiro, a queda para a Série C foi confirmada com uma rodada de antecedência, com o time terminando em 18º.
“Conforme vai passando o campeonato e as coisas não acontecem, os jogadores ficam apreensivos e o medo de errar aflora mais do que em outras situações”, disse o ex-meia, que foi revelado na base do Ituano e teve passagens de sucesso por São Paulo, Vasco e Middlesbrough.
Pela experiência do ano passado, Juninho, além do critério técnico, passou a levar em conta para a formação do elenco de 2025 a personalidade de cada atleta.
“Buscamos jogadores que venham com uma certa conexão, entendendo a situação do clube. Sabendo que não é uma ponte para jogar bem e ir para outros lugares, que vai jogar uma A2, uma Série C, e que o Ituano tem o objetivo de subir nas duas.”
Estão de volta o zagueiro Matheus Mancini, capitão da equipe, e o meia Kaio Mendes. Ambos estiveram no time na conquista da Série C, em 2021.
Também chegaram o lateral esquerdo Hélder Santos, que já participou de seis campanhas de acesso jogando por Figueirense, Juventude, Criciúma e Remo, e o meia Fernando Canesin, que passou mais de dez anos na Europa e foi bicampeão belga pelo Anderlecht.
Para o comando da equipe, foi contratado o técnico Vinicius Munhoz, com experiência em times de base. Ele estava no sub-23 do Mirassol e chegou para substituir Chico Elias, auxiliar que assumiu na reta final da Série B após a demissão de Alberto Valentim.
“Montamos um elenco com o objetivo de ter um bom ambiente de vestiário, em sintonia com o treinador e a comissão técnica.”
Entre os remanescentes da temporada passada, um dos rostos mais conhecidos é o do atacante Neto Berola, ex-Santos e Atlético Mineiro, que fez os três gols na vitória por 3 a 2 sobre o Grêmio Prudente, pela segunda rodada da A2.
Com sete pontos em quatro rodadas, o Ituano é o quinto na tabela de classificação. Os oito melhores avançam à fase de mata-mata, e os dois finalistas sobem à primeira divisão.
Tendo como maior conquista o Campeonato Paulista de 2014, com triunfos sobre Palmeiras e Santos nas semifinais e na decisão, o Ituano tem sofrido nos últimos anos com um futebol que está cada vez mais caro.
“Se ofereço para um atleta hoje os salários que eu pagava no meu começo de gestão aqui… Esquece, não vem”, observou o gestor.
Juninho estima uma queda de receitas em torno de R$ 20 milhões em relação ao ano passado, com despesas entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão mensais.
Com o patrocínio de bets nas últimas três temporadas, o time de Itu ainda não conseguiu fechar com uma empresa do ramo neste ano. “Vínhamos com bons contratos com as bets, que ajudaram muito na parte financeira. Talvez por estarmos na A2 e na Série C, elas estejam procurando visibilidade maior.”
Juninho disse que o Ituano também deve adotar nos próximos meses o modelo de SAF (Sociedade Anônima do Futebol).
Em outubro, uma votação entre os sócios para aprovar a mudança não foi realizada por falta de quórum. A expectativa do gestor é que uma nova reunião em fevereiro consiga atrair os votos necessários para que a Ituano Futebol Clube SAF seja aprovada.
Juninho e Silvestri têm um acordo até 2030, renovável até 2035, para permanecer no comando do Ituano. Eles devem assumir uma fatia da SAF, com a possibilidade de atrair um parceiro com capacidade de fazer um aporte financeiro maior. “Se pudermos agregar bons parceiros, vamos agregar.”
Ele acrescentou que, nos moldes atuais, o lugar do Ituano é na Série B do Brasileiro e na A1 do Paulista. “Esse, hoje, é o tamanho do Ituano. Se quisermos dar um salto, que seria disputar uma Série A, teremos primeiro que melhorar nossa estrutura física e de receitas.”
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