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Latrocínio ganha holofote, mas polícia derrapa na solução – 15/03/2025 – Cotidiano


Uma sequência recente de latrocínios (roubo seguido de morte) que foram filmados e compartilhados nas redes sociais tem chamado a atenção para o aumento deste tipo de crime na cidade de São Paulo —e criado um desafio para a polícia, que muitas vezes encontra dificuldade para resolver os casos.

A isso, soma-se ainda o fato de que este tipo de crime historicamente é um dos que mais causa insegurança na população.

Um dos casos mais recentes aconteceu na manhã desta quinta (13), quando o agente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) José Domingos da Silva, 48, foi morto enquanto trabalhava na Vila Sônia, zona oeste da cidade.

O crime foi registrado pela câmera corporal que ele usava. As imagens mostram quando o criminoso chegou em uma motocicleta, apontou a arma para José e exigiu seus pertences. O agente reagiu e foi atingido por tiros. O autor dos disparos fugiu na sequencia. Até a noite desta sexta (14), ninguém tinha sido preso.

A rapidez na ação dos criminosos contrasta com a investigação, que em grande parte das vezes termina sem resultados, o que revolta familiares das vítimas. A Folha acompanha diversos casos sem solução.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que as as ações de policiamento preventivo e ostensivo estão sendo reorientadas para ampliar o patrulhamento e reduzir a incidência deste tipo de crime em diferentes regiões da capital.

“Paralelamente, o uso da tecnologia tem sido intensificado no trabalho de inteligência policial, visando o desmantelamento de quadrilhas de assaltantes e receptadores, um dos principais fatores que impulsionam os crimes patrimoniais”, acrescentou o texto.

A pasta disse ainda que o combate aos crimes contra a vida, incluindo homicídios e latrocínios, segue como prioridade da atual gestão.

No ano passado, foram 53 pessoas mortas neste tipo de crime na capital paulista, 10 a mais do que no ano anterior, segundo dados da secretaria. Em janeiro deste ano foram quatro mortes, ante sete no mesmo mês do ano passado.

Era início da tarde de 23 de janeiro quando o consultor Vitor Rocha e Silva, 23, e o namorado, o analista Felipe Lobato, 26, saíram da casa onde estavam hospedados para almoçar em um restaurante de Pinheiros, na zona oeste da capital. O casal morava em Minas Gerais e tinham chegado na cidade um dia antes.

Pouco depois de começarem a caminhar, um homem apareceu e exigiu que eles entregassem os celulares. O casal reagiu e teve início uma briga entre eles e o ladrão. Uma segunda pessoa, porém, apareceu em uma moto e atirou contra Silva. Ele chegou a ser levado ao hospital, mas não resistiu e morreu.

Dois meses depois, a polícia não prendeu quem matou o consultor, e também não conseguiu achar seu celular.

“Quando passa o tempo, você começa a olhar o quanto que muitas coisas são feitas de forma errada. Essa ausência de resposta, essa ausência de investigação, essa ausência de visualização do que está acontecendo, também de transparência, dói bastante”, diz Felipe.

O namorado da vítima acompanha à distância a investigação. Ele voltou para a cidade onde moravam, em Minas Gerais, no dia seguinte ao crime. “Aconteceu com ele, aconteceu situação parecida com mais umas duas, três pessoas em São Paulo”, afirma o analista.

O ciclista Vitor Medrado, 46, foi baleado e morto em um latrocínio ao lado do Parque do Povo, no Itaim Bibi, também na zona oeste, 20 dias após o caso em Pinheiros.

Ele estava parado na calçada e mexia no celular quando dois homens chegaram em uma moto. A ação, gravada por câmeras de segurança, durou poucos segundos. Antes mesmo de a pessoa que estava na garupa descer da moto, o ciclista caiu no chão, atingido pelo tiro. O homem ainda revistou a vítima caída, pegou seu celular, subiu na moto e fugiu.

Os suspeitos de envolvimento no crime não foram presos até agora.

Quem também foi morto por um celular foi o ajudante de cozinha Levi Maurício da Costa, 18. Ele foi abordado na noite de de 16 de dezembro na rua Alice Leo, no Jardim Ângela, zona sul, por um ladrão em uma moto, que exigiu o aparelho.

Familiares disseram que o suspeito ainda teria pedido os tênis do jovem —ele foi baleado quando tirava o calçado. Três meses depois, a família segue sem uma explicação oficial. Os parentes vez ou outra vão até a delegacia cobrar uma resposta. Em uma dessas vezes, ouviram de um policial que o autor do crime tinha sido morto dias depois do ataque.

A gestão Tarcísio confirmou que não prendeu ninguém em nenhum dos três casos. “As investigações dos dois primeiros casos citados, ocorridos na região do Parque do Povo e na rua Joaquim Antunes [em Pinheiros], seguem em andamento pela 3ª Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) e pelo 14º Distrito Policial (Pinheiros), respectivamente”.

Conforme a pasta, a morte de Costa continua em investigação pelo 47º DP (Capão Redondo), “mesmo após a morte do investigado, com o objetivo de concluir o inquérito e confirmar a autoria”.

Para o analista criminal Guaracy Mingardi, identificar quem comete um latrocínio é muitas vezes mais difícil do que descobrir o autor de um assassinato. “O homicídio quem comete é um conhecido da vítima. O latrocínio acontece no meio da rua com dois sujeitos que se encontram. O sistema de investigação é difícil”.

“Quem consegue solucionar latrocínio é a polícia da área. Os policiais daquela região deveriam conhecer os ladrões que agem naquela localidade. Ter informantes na rua. Aí você chega no ladrão. Mas não existe mais policial de área na prática. Tem poucos investigadores e sem motivação. Já não tem rede de informantes,”. afirma ele, que também é integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Segundo Guaracy, encaminhar os casos para delegacias especializadas —como o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) ou o DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais)— não surte o efeito desejado. Por atuarem em toda a cidade, elas acabam sem conhecer o perfil de criminosos que atuam em determinada área, diz ele.

“Muitas vezes o criminoso tem antecedentes, já foi fotografado. O cara rouba perto da região em que mora, ele não atravessa a cidade. Conhece as ruas de fuga. Os distritos policiais existem para isso, mas atualmente servem para prestar queixa ou investigar crimes de autoria conhecida.”

Quem também vê falhas no policiamento é a desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Juíza há mais de três décadas, ela classificou como assustadora a situação atual. “Estamos chegando ao homicídio seguido de roubo, tamanha a banalidade com a vida. Se mata sem a vítima reagir”, afirma.

“Muitos jovens e adolescentes estão envolvidos em crimes contra o patrimônio. O jovem é impetuoso, ele atira. O telefone celular vale muito para o crime. Você tem organizações criminosas que levam o telefone para fora do país. Você tem ligação com organizações criminosas ligadas com a receptação. Alguém na ponta vai comprar ou usar esse telefone”, diz. “Os crimes contra o patrimônio existem porque eu tenho em outra ponta quem compra, quem usa.”


Como estão as investigações de casos recentes de latrocínio em São Paulo

Ariol Elvariste

Morto na rodovia Raposo Tavares, no Butantã, em 25 de fevereiro – ninguém foi preso

Luiz Mineiro da Silva

Morto na estrada da Baronesa, no Jardim Ângela, em 25 de fevereiro – ninguém foi preso

Vitor Medrado

Morto na rua Brigadeiro Haroldo Veloso, no Itaim Bibi, em 13 de fevereiro – ninguém foi preso

Vitor Rocha e Silva

Morto na rua Joaquim Antunes, em Pinheiros, em 23 de janeiro – ninguém foi preso

Josenildo Belarmino de Moura Júnior

Morto na rua Amaro Guerra, em Santo Amaro, em 14 de janeiro – três suspeitos presos, atirador segue foragido

Anderson Felipe da Silva

Morto na estrada do Alvarenga, em Pedreira, em 22 de dezembro – ninguém foi preso

Levi Maurício da Costa

Morto na rua Alice Costa, no Jardim Ângela, em 16 de dezembro – suspeito foi morto

Mauro Guimarães Soares

Morto na rua Caio Graco, na Vila Romana, em 21 de setembro – três suspeitos presos

Eliane Toniolo

Morta na alameda dos Jurupis, em Moema – 18 de setembro – três suspeitos presos, um quarto segue sem ser identificado

Leonardo Rodrigues Nunes

Morto na rua Rolando, em Sacomã, em 12 de junho – ninguém foi preso

Fonte: Secretaria de Segurança Pública



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