Integrantes da extinta Comissão da Verdade de São Paulo, juntamente com personalidades ligadas à defesa dos direitos humanos, elaboraram um manifesto pedindo a reabertura das investigações sobre a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, ocorrida em 1976. As circunstâncias do caso geram controvérsia desde a ditadura militar.
O documento será enviado nesta quinta-feira (27) à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), órgão de Estado com apoio técnico-administrativo do Ministério dos Direitos Humanos.
Como mostrou Folha em fevereiro, a comissão já havia discutido a possibilidade de revisitar o caso, mas decidiu ouvir primeiro a opinião dos familiares de JK e de seu motorista, Geraldo Ribeiro, antes de deliberar sobre a reabertura das apurações.
Após essa etapa, os relatores deveriam submeter o caso ao colegiado, que decidiria se acataria o pedido e autorizaria novas diligências. Até a publicação desta reportagem, a CEMDP não informou o estágio atual do processo.
O pedido de reabertura da investigação foi protocolado em 2024, após a reinstalação da comissão, pelo ex-vereador Gilberto Natalini, que presidiu a Comissão da Verdade Municipal de São Paulo, e pelo escritor Ivo Patarra. Ambos também assinam o manifesto que reforça o pedido.
Os documentos destacam que perícias recentes apontam inconsistências na versão oficial de acidente automobilístico e sugerem a possibilidade de sabotagem. O grupo argumenta que o caso deve ser revisto para esclarecer definitivamente a morte do ex-presidente.
Entre os signatários do manifesto estão Natalini, juristas, historiadores, ex-integrantes de comissões da verdade estaduais e municipais e familiares de vítimas da ditadura, como o escritor Marcelo Rubens Paiva, cujo pai —o ex-deputado Rubens Paiva— foi assassinado pelo regime militar.
Outras investigações apontaram que JK pode ter sido vítima de um atentado político, reunindo indícios de que o carro em que viajava o ex-mandatário se desgovernou em razão de uma ação externa —como sabotagem mecânica, um tiro ou até mesmo o envenenamento do motorista.
Essa foi a conclusão das Comissões da Verdade do Estado de São Paulo —que contou com um grupo de trabalho formado por pesquisadores da USP e do Mackenzie— e de Minas Gerais, além da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo.
Um inquérito civil conduzido pelo Ministério Público Federal entre 2013 e 2019, concluiu que era “impossível afirmar ou descartar” um atentado, pois não havia elementos materiais suficientes para determinar a causa do acidente ou explicar a perda de controle do automóvel.
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