Uma nova técnica para modelar orelhas com má formação em recém-nascidos foi desenvolvida por uma equipe de quatro cirurgiões plásticos formados pelo Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Baseada em modeladores internacionais padronizados, esse método utiliza silicone de adição de uso médico e é totalmente personalizável para cada necessidade, além de ser indolor para a criança.
A equipe de médicos decidiu criar esse artefato quando se viu sem a possibilidade de utilizar o Ear Well, que era usado anteriormente. “A importadora [do Ear Well] fechou aqui no Brasil, e ela tinha o registro da Anvisa”, explica Patrícia Hiraki, uma das cirurgiãs envolvidas na equipe. A marca americana era a única presente no Brasil.
Hiraki foi a responsável por dar a sugestão do silicone como alternativa viável aos modeladores prontos. “A ideia do silicone surgiu baseada nas reconstruções de orelha, porque é o mesmo material que a gente usa nos curativos da neo otoplastia [cirurgia de reconstrução de orelha].”
O novo método ainda não foi publicado para validação científica, mas a equipe já reuniu dados robustos para entrar com esse processo, além da base do tratamento ser a mesma de outros já validados.
A modelação de orelhas em recém-nascidos pode ser feita quando os bebês nascem com alterações no formato. “Trabalhamos para que, pelo menos, algumas das curvaturas fiquem com um resultado um pouco mais anatômico”, explica Rebecca Rossener, cirurgiã plástica da equipe.
Segundo a médica, as causas podem ser pelo posicionamento da criança e o seu desenvolvimento no útero ou uma formação congênita que pode ou não ser genética. Alguns exemplos de alterações são as orelhas proeminentes, que são afastadas da cabeça (chamadas de orelhas de abano); as distais, que têm um formato triangular na ponta; a criptotia, quando uma parte da cartilagem está escondida na pele; a cup ear, em formato de copo, e a microtia, quando o desenvolvimento da cartilagem não é completo.
Para que a modelagem seja efetiva, o ideal é que ela seja feita até a terceira semana de vida do paciente. Rossener diz que, como muitos pais não têm essa informação, o tratamento pode ser feito até a sexta semana. “Depois disso, tem muito pouco benefício.”
Nessa idade, a cartilagem da orelha ainda é muito flexível, principalmente devido ao hormônio materno, que ainda circula no corpo do bebê. Os médicos avaliam a necessidade da criança e fazem o molde personalizado para aquele paciente específico. Depois, o molde é fixado com uma fita micropore e é trocado uma vez por semana em consultório, ao longo de seis semanas.
“É bem importante ressaltar que o processo é totalmente indolor para o paciente, ele não sofre nenhum tipo de dano, nem desconforto”, afirma Rossener. “Em muitas situações a modelagem acaba ajudando, porque sendo um processo indolor, rápido, inócuo, ele acaba evitando uma cirurgia para criança mais tarde.”
Além de Rossener e Hiraki, os cirurgiões plásticos Rafael Zatz e Dov Goldenberg fazem parte da equipe que desenvolveu e aplica esse método.
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