“Mentira tem perna curta”, minha avó dizia. Discordo. Tem mentira com perna tão longa que atravessa a imigração americana. Mentir, afinal, não é só coisa de gente. Tem bicho que se finge de morto para escapar do predador —e tem os que preferem fugir pros Estados Unidos.
Durante o ensino médio, eu menti para a Michelle, professora de matemática. Fingi que estava doente no dia do teste. Não sabia nada sobre funções de segundo grau, minha única certeza é de que eu zeraria a prova. Consegui convencê-la a fazer o teste em uma segunda chamada. Estudei e me saí bem. Logo depois, me senti a pior pessoa do mundo. A maioria dos meus colegas tampouco sabia o valor de “x”, mas bancaram a nota zero de cabeça erguida. No meu imaginário, o pátio da escola tinha se tornado uma praça da Inquisição: “À fogueira, aluna farsante e seu êxito imerecido!”.
Já menti várias vezes na vida. Para mãe, namorado, amiga, chefe. E mente quem diz que não mente. Mas tem gente que mente que nem sente.
Se mentir não é genético, como explicar o clã Bolsonaro? Casta de mitômanos capazes de inventar cenário político para justificar um exílio autoproclamado. O talento é tanto que o “Primeiro de Abril” poderia se chamar “Dia dos Bolsonaros”.
Se tivesse sido meu colega de escola (não foi —prova de que Deus existe), Dudu Bolsonaro teria arquitetado uma doença autoimune incapacitante para conseguir a segunda chamada de matemática e, não satisfeito, teria espalhado a notícia de que Michelle havia forjado seu diploma e não poderia mais lecionar. Ficaríamos sem aula por duas ou três semanas até que conseguissem um substituto. Eduardo ganharia esse tempo para pegar as respostas da prova com os veteranos —e venderia o gabarito para as turmas 301 e 302.
No meio do ano, se filiaria à Comissão de Formatura só para desviar um percentual da venda dos ingressos da chopada e levaria sua namorada para a primeira vez (dela) em um motel na Barra da Tijuca (claro) —momento que teria inspirado a moça a apelidá-lo de “Bananinha” pelo seu desempenho… patriótico. Na faculdade, escolheria cursar Direito e se formaria sem esforços e sem notoriedade. Viraria deputado federal e faria vários nadas em favor da população.
Anos depois, uma reviravolta política o faria fugir do seu país sob pretexto de amor à nação. Alegaria perseguição de adversários e culparia um tal de Xandão. Lá na gringa, se reuniria com Trump, Musk, Zuckerberg e Bezos. O quarteto ouviria atentamente às declarações de Bananinha, propondo uma intervenção democrática imediata em terras tropicais: “We must save Brazil from dictatorship! Release these savages from barbarism!”, diriam os biliotários.
Eduardo ligaria para o papai a fim de lhe informar sobre as excelentes novas. Prontamente, seria interrompido com um zap do Zuck: “April Fools, little banana”.
No fundo, ele segue sendo o mesmo de sempre: o aluno fanfarrão que tenta colar, inventa desculpa e quando a prova chega, foge. A diferença é que, agora, a segunda chamada é no Supremo.
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