Morreu, na noite deste sábado (29), o ator Richard Chamberlain, que brilhou na TV como o atormentado e apaixonado padre Ralph, na minissérie “Pássaros Feridos”, de 1983, e como o Dr. James Kildare no seriado “Dr. Kildare”, de 1961 a 1966. Ele tinha 90 anos, morava no Havaí e não resistiu às complicações de um acidente vascular cerebral.
Celebrado como um ídolo das telinhas nos Estados Unidos, incluindo o estrelato na série “Shogun”, de 1980, que recentemente ganhou uma nova versão, Chamberlain também trabalhou no cinema, em filmes como “Inferno na Torre”, “A Vingança de Milady” e “A Última Onda”.
Chamberlain nasceu em 1934, em Beverly Hills, no estado americano da Califórnia, filho de um vendedor de móveis. Formou-se em história da arte, mas após terminar o curso, decidiu seguir a carreira de ator após se juntar a um grupo de teatro.
Chegou a ser chamado pela Paramount enquanto fazia produções estudantis, mas foi convocado pelo Exército americano na mesma época, onde permaneceu por dois anos, indo inclusive para a Coreia do Sul.
Quando retornou à Califórnia, apostou na sua formação e, já com um agente, começou fazendo uma participação num episódio de “Alfred Hitchcock Apresenta“, no qual contracenou com Raymond Massey. O veterano, então, o chamaria dois anos depois para estrelar o papel-título de “Dr. Kildare”, enquanto Massey vivia o mentor do jovem médico, Leonard Gillespie.
A série, que resgatava um personagem de contínuo sucesso nos Estados Unidos entre os anos 1930 e 1950, com filmes e programas de rádio, alavancou a carreira de Chamberlain. Com seu charme, recebia dezenas de milhares de cartas de fãs semanalmente enquanto viveu o médico, e até teve um pé na música, gravando baladas românticas na época.
Após o fim da produção, Chamberlain passou um período no Reino Unido, onde se dedicou ao teatro, estrelando montagens elogiadas de “Hamlet”, “Ricardo 2º” e “Cyrano de Bergerac”, e fez filmes como “Delírio de Amor”, em 1971, no papel do compositor russo Tchaikóvski.
Quando voltou aos Estados Unidos, Chamberlain seguiu fazendo sucesso na TV, sobretudo em minisséries. Seus maiores sucessos são dos anos 1980, vivendo o navegador inglês John Blackthorne, protagonista da produção baseada no livro de James Clavell, e depois como o padre Ralph de Bricassart de “Pássaros Feridos”, um homem cheio de conflitos, apaixonado pela personagem vivida por Rachel Ward, que o sagrou com “sex symbol” aos 49 anos.
Por “Dr. Kildare” e essas duas séries, Chamberlain levou três estatuetas do Globo de Ouro como melhor ator em televisão, e também teve indicações ao Emmy.
Apesar de não ser o favorito da crítica à época, que reconhecia sua beleza, mas nem sempre o talento, Chamberlain considerava atuar em minisséries um desafio shakesperiano. “É um talento muito especial manter as ideias claras durante todo um solilóquio com apartes qualificadores e retomar a linha”, disse em entrevista ao The New York Times, em 1988. “Uma minissérie de dez horas é semelhante. Você deve manter a ideia geral em mente enquanto filma totalmente fora de sequência.”
Décadas depois, aos 68 anos, o ator assumiria sua homossexualidade com a publicação da biografia “Shattered Love”, de 2003. “Não sou mais um galã romântico, por isso não preciso manter mais aquela imagem pública. Posso falar sobre isso porque não tenho mais medo”, disse à época, ressaltando que não recomendava que nenhum ator de grandes papéis masculinos se assumisse, com medo de represálias da indústria.
Em seus últimos anos, Chamberlain fez papéis em peças da Broadway e filmes independentes, como em “Finding Julia”, de 2019, seu papel derradeiro.
Em 2010, ele anunciou que voltaria para Los Angeles e viveria separado de Martin Rabbett, o produtor, escritor e ator que foi seu companheiro por mais de 30 anos. Quando morreu, porém, ele estava morando no Havaí.
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