Ryan Sloane trabalhava há pouco mais de dois meses como especialista em assuntos públicos no CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) em Atlanta quando foi “DOGEado” no Dia dos Namorados.
Foram oito meses enfrentando obstáculos para ingressar no CDC, deixando para trás turnos noturnos exaustivos no Weather Channel pela promessa de estabilidade e seguro-saúde para custear uma última rodada de fertilização in vitro com sua esposa.
Após a notícia, ele buscou o setor privado, onde achou o mercado de trabalho “absolutamente terrível”. “Rejeição sem parar”, disse ele. “São três rodadas de entrevistas e uma amostra de redação só para ser ignorado.” Para se sustentar enquanto isso, ele começou um negócio de lavagem a pressão de varandas, calçadas e casas.
Sloane é um dos dezenas de milhares na mesma situação. As candidaturas de trabalhadores federais dispararam desde o início do ano, especialmente entre funcionários de agências visadas pelo Serviço DOGE dos EUA, segundo dados da Indeed.
Pelo menos 24 mil funcionários federais em período probatório foram demitidos como parte do esforço da administração Trump para encolher o governo, conforme documentos judiciais. Um juiz federal decidiu que cerca de 16 mil dessas demissões foram ilegais e ordenou a reintegração, mas o governo recorreu à Suprema Corte.
Enquanto a batalha legal se intensifica, muitos trabalhadores afetados aceleram a busca por empregos. No fim de fevereiro, as candidaturas de funcionários de agências visadas pelo DOGE, como a Agência dos EUA para Desenvolvimento Internacional, o Escritório de Proteção Financeira do Consumidor, o Departamento de Agricultura e a Administração Federal de Aviação, subiram mais de 50% este ano, um pico sem precedentes em transições presidenciais.
Esses números são apenas um sinal do que está por vir: muitos outros funcionários federais ainda não procuram empregos porque estão em limbo, aguardando decisões judiciais sobre possível reintegração e, em alguns casos, ainda recebendo indenizações.
Esses trabalhadores enfrentam dificuldades porque fazem parte de um “fenômeno em massa” e competem com muitos na mesma posição, segundo Eric Blanc, professor de estudos trabalhistas da Universidade Rutgers.
Embora uma economia forte possa eventualmente absorver esses trabalhadores especializados, a incerteza atual do mercado dificulta até mesmo essa onda menor de candidatos, disse Cory Stahle, economista da Indeed.
Em especial, o influxo de funcionários federais altamente qualificados — quase 70% com pelo menos um diploma de bacharel — ocorre em um momento em que a demanda por profissionais de colarinho branco enfraqueceu.
A queda nesses empregos reduziu as oportunidades em várias funções desde a pandemia, deixando os trabalhadores decidindo entre se requalificar ou esperar a demanda se recuperar, disse Stahle, acrescentando: “É possível que vejamos algumas pessoas mudarem de carreira devido às dificuldades em encontrar trabalho, mas isso levaria tempo para se desenrolar.”
Disparidades regionais complicam ainda mais. Embora as taxas de contratação estejam nos níveis de 2013-2014, os trabalhadores federais sentem o impacto mais forte porque estão concentrados em poucas ocupações e locais.
Enfermagem e outras funções de saúde lideram a lista de ocupações dos trabalhadores federais, seguidas por gerenciamento de projetos, administração e TI.
Dados da Indeed mostram que o segundo cargo mais comum entre trabalhadores federais em busca ativa em fevereiro foi assistente de suporte médico, uma função que transita facilmente para o setor privado. Mas ir de um emprego em TI no Departamento de Educação para enfermagem pode não ser tão simples.
Ainda assim, algumas jurisdições tentam ajudar. O condado de Fairfax, na Virgínia, por exemplo, tem direcionado anúncios de vagas de ensino especificamente a trabalhadores federais, oferecendo caminhos simplificados e opções de licenciamento para facilitar a transição para a educação.
Para alguns, uma mudança de carreira pode ser a única opção. “Aqueles em serviços profissionais de negócios, onde a contratação está mais lenta, podem precisar adquirir novas habilidades para se manterem competitivos”, disse Joe Brusuelas, economista-chefe da RSM US. Ele acrescentou que os da área de saúde, um setor em crescimento e resiliente, podem ter a transição mais fácil.
Julia Pollak, economista-chefe da ZipRecruiter, concorda, chamando a administração de saúde de um “ajuste natural para trabalhadores federais”.
“Os trabalhadores federais frequentemente têm forte experiência organizacional, regulatória e de conformidade que se alinha bem com funções de administração de saúde”, disse ela. “Também oferece uma sensação de serviço público e impacto.”
Embora os trabalhadores federais estejam espalhados pelo país, eles se concentram mais na área metropolitana de Washington, D.C., onde representam quase 43% da força de trabalho, segundo o Escritório de Gestão de Pessoal.
O problema também está emergindo em estados como Texas, Geórgia e Califórnia, que veem um aumento de trabalhadores federais buscando empregos, levantando preocupações sobre a capacidade dos mercados de trabalho regionais de absorvê-los, segundo dados da Indeed. Ao mesmo tempo, esses dados mostram que trabalhadores federais em todo lugar buscam cada vez mais opções de trabalho remoto e papéis especializados que combinem com suas habilidades — o que pode tornar a geografia menos relevante.
Isso significa que, ao contrário de fechamentos de fábricas no passado que devastaram cidades inteiras, os trabalhadores deslocados de hoje podem não precisar se mudar para encontrar novos empregos, segundo Pollak.
Além dos empregados diretos do governo, os contratados federais — que superam os trabalhadores federais em uma proporção de 2 para 1 — podem em breve ser afetados por cortes semelhantes, potencialmente aumentando a competição em um mercado de trabalho já em resfriamento.
De volta a Atlanta, Sloane disse que vai focar em seu novo negócio por enquanto. Mas ele não tem certeza de que conseguirá voltar à carreira escolhida.
“22 anos em comunicações, dois prêmios Peabody, uma indicação ao Emmy e um vasto conhecimento institucional de redações e comunicações não parecem ser tão valorizados pelas empresas quanto me levaram a acreditar”, disse ele.
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