No último de seus seis anos como presidente do Fluminense, o advogado Mário Bittencourt tem ao menos dois grandes desafios: garantir que o time seja competitivo no novo Mundial de Clubes, no mês que vem, e tocar a possível transformação do clube numa SAF. Em entrevista ao videocast do GLOBO “Toca e Passa”, ele analisou essas missões e falou sobre os trabalhos de Mano Menezes e Renato Gaúcho, além do processo eleitoral do fim deste ano.
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Em que pé está o processo de transição do clube para SAF?
Está no mesmo pé da última reunião do Conselho, há um mês, que foi transmitida ao vivo. Seguimos aguardando uma proposta. Fizemos aquela reunião porque o BTG havia nos avisado de que a proposta estava próxima de chegar. Poderia ser naquele mês, no meio ou até no fim do ano. Quando chegar, vamos levá-la aos conselhos Deliberativo e Diretor, montar comissões de avaliação… Quando ela estiver madura, os sócios vão às urnas votar. Se eles entenderem que é uma proposta boa para o Fluminense ficar ainda mais competitivo, seguimos adiante. Se entenderem que não, o clube segue associativo. Mas a gente só pode falar em prazo depois que chegar a proposta.
Você defende que os donos da SAF sejam tricolores. Não se corre o risco de uma gestão personalista, como vemos em outras SAFs brasileiras?
Você está falando dessas SAFs que têm uma cara de mecenato, de um cara que tem muito dinheiro e torce para o clube. Ele senta na cadeira e decide. Outro dia ouvi de um grande tricolor: “Eu acho que a SAF tem que ter um mínimo de dividendo emocional”. Se for um grupo de pessoas que não têm nenhuma vinculação afetiva com o clube, gera o risco de virar uma coisa matemática, fria. Nosso ideal é juntar o útil ao agradável: alguém que bote o dinheiro e tenha paixão pelo clube, sinta uma derrota como a gente sente. Não pode ser uma SAF fria, que só olha para o lado financeiro. O desafio é melhorar a competitividade e conseguir se remunerar ganhando competições. Existem aqui 6 milhões, 7 milhões, 8 milhões de apaixonados que querem que a bola entre para que o time levante uma taça.
Como analisa o desempenho do time com Renato Gaúcho? Os resultados melhoraram, mas a torcida ainda se mostra insatisfeita com as atuações.
Este momento está muito refletido por 2024. A gente teve um ano muito sofrido depois de ter ganhado a Libertadores. É importante os torcedores entenderem que as equipes têm ciclos virtuosos e que, em algum momento, esses elos se quebram. Você tem que reconstruir. Entre março de 2022 e março de 2024, tivemos dois anos no topo. Era o futebol mais bonito jogado do Brasil. Fomos vice-campeões mundiais. Tudo isso é um momento muito mágico e aumenta a expectativa do torcedor. Em 2024, a gente tentou repetir o modelo de trazer jogadores experientes, sem custos, e errou.
O Fluminense demitiu Mano Menezes depois de uma rodada do Brasileiro. Por quê?
Há um binômio entre resultado e desempenho. Às vezes, você está tendo resultado e não está tendo desempenho; às vezes, está tendo desempenho e não está tendo resultado; e às vezes não está tendo os dois. A saída do Fernando Diniz, que foi muito dolorosa, aconteceu em um momento em que a gente não tinha desempenho, nem resultado. Quando Mano chegou, a única coisa que pediu foi: “Se a gente se livrar do rebaixamento, eu gostaria muito de ter a oportunidade de iniciar um trabalho”. E a gente terminou o Brasileiro com mais de 60% aproveitamento e com desempenho. Eu poderia ter descumprido o acordo que fiz no contrato? Poderia. Mas quisemos iniciar o trabalho. Essa é a verdade. Aí tivemos janeiro, fevereiro, março… e, mesmo com a chegada dos reforços, o time não estava desempenhando. A primeira rodada contra o Fortaleza é só um recorte de uma série de jogos em que não estávamos desempenhando. Optamos por fazer a troca por falta de desempenho e de resultado naquele momento.
Por que a escolha por Renato Gaúcho para substituí-lo?
Renato foi contratado, primeiro, por ser um treinador muito vencedor e ter feito grandes trabalhos. Ficou cinco anos no comando do Grêmio, com conquistas e momentos difíceis. Ele é um excelente treinador e tem o plus de ser um excelente gestor de pessoas e de ser um cara muito carismático.
Como está a busca por reforços para o Mundial?
As pessoas falam em “reforços para o Mundial”. Nós estamos pensando em reforços para toda a temporada. Não seria honesto, inteligente e profissional de nossa parte pensar somente em reforços para o Mundial. Porque vamos enfrentar times que têm folhas salariais de 100, 150, 200 milhões de reais por mês durante o Mundial. Mas uma das coisas que valorizo muito é internacionalizar a marca do clube e trazer jogadores grandiosos, como Fred, Thiago Silva, Marcelo… Vamos trazer dois ou três (jogadores) para o Mundial, e serão reforços visando à temporada inteira. Pode acontecer de um jogador de renome jogar só o Mundial pelo Fluminense? Sim, porque o Mundial é um momento único, eterno. Se houver a oportunidade, vamos tentar fazer dentro das condições do Fluminense. E é óbvio que esse jogador vai ter que entender as condições do projeto. Eu sou maluco o suficiente e apaixonado pelo clube para, se pintar uma oportunidade dessas, entregar para a nossa torcida. Mas, da mesma forma, também não vou enganar e dizer que já tem alguma coisa acertada. Não tem. Estamos pensando em reforços para o Mundial, para a Sul-Americana, para a Copa do Brasil… Para fortalecer o time e a gente tentar ser campeão novamente neste ano.
Reforços para que posições?
Renato tem falado sempre com a gente (em trazer reforços) do meio para a frente. Ele acha que nós estamos bem servidos na zaga e nas laterais. Volantes, temos. É importante dizer que tivemos muitas lesões no início do ano, e esses jogadores vão voltar. Não podemos ficar enchendo o elenco. Temos que ter o profissionalismo de entender que não dá para fazer tudo o que a gente gostaria de fazer. Mas eu calculo que entre dois e três jogadores, do meio para frente, especialmente, enfim, jogadores que sejam mais agressivos do ponto de vista de ataque, porque Renato gosta de jogar para frente.
A ideia é aproveitar a janela excepcional, de 1º a 10 de junho, ou os reforços podem ficar para depois do Mundial?
A gente está tentando fazer o movimento já, porque o Mundial vai ser uma pré-temporada para esses caras. A gente chega aos Estados Unidos no dia 8 e tem até o dia 17 sem jogo. Então, são dez dias para enturmar o jogador, dar treino… Se a gente não conseguir, vai ter que ficar para a segunda janela.
Você confirma que Matheus Montenegro, vice-presidente, será o candidato da situação nas eleições deste ano?
Ainda não. A gente está às vésperas do Mundial e não está falando de eleição. Infelizmente, as pessoas estão fazendo política, lançando candidatura, atacando a gente… Faz parte. Mas nós estamos focados em resolver os problemas do clube neste momento e, especialmente, em ir para o Mundial com força. Depois do Mundial, a gente começa a pensar nisso. Não vou mentir que a tendência é que ele venha a ser o nosso candidato, mas não há nada definido ainda. Quero sair em dezembro com um bom legado para o Fluminense, independentemente de quem estiver na presidência. A gente trabalhou para isso.
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