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Nelson Rubens: Acusação de assédio moral não é nada ok – 27/03/2025 – Rosana Hermann


Já fui colega de Nelson Rubens, quando trabalhamos na mesma emissora. Conheço seu filho e acredito que sejamos vizinhos de bairro. Nunca fomos amigos próximos, mas sempre tivemos uma convivência cordial.

Por isso, fiquei intrigada, embora não surpresa, quando li a coluna do amigo Gabriel Vaquer sobre as sete acusações de assédio moral supostamente cometidas pelo apresentador e que estão sendo investigada pela RedeTV!.

Não me surpreendi porque existem muitos profissionais de TV com esse perfil: homem, branco, maduro, famoso e que poderiam ser descritos como autoritários e abusivos, especialmente os que vieram de uma época em que isso era a regra e não a exceção.

Durante os mais de 30 anos em que trabalhei nesse meio era comum ver apresentadores destratando suas produções, humilhando seus profissionais e tendo ataques de estrelismo. Sempre foi algo lamentável, mas não tínhamos nem termos como “assédio moral” para descrever o que sofríamos.

Só para ilustrar a ambiente, tive um diretor numa emissora de TV que dizia que, para que as produções funcionassem, ele tinha que “tocar o terror”. Programas ao vivo, com expectativa de boa audiência, viviam sob a tensão de pontuar bem e o terrorismo era a forma tosca e tóxica de nos manter sob controle. Era a técnica do medo como combustível para a produtividade.

Em outro veículo de comunicação, vivi um momento tão absurdo que, contando, ninguém acredita. Estávamos todos numa sala de reunião num andar alto de um prédio em São Paulo. O diretor trancou a porta e pediu para que todos os funcionários espalhados pela sala abrissem suas carteiras e mostrassem quanto dinheiro tinham. Acuados, todos nós pegamos nossas carteiras e mostramos, ainda achando que era brincadeira, como éramos duros e ganhávamos pouco.

O chefe passou e pegou o dinheiro de cada um. Achávamos que ele ia contar o apurado quando sentou em sua mesa com o bolo de notas. Eis que ele abre a janela e atira todas as notas pela janela.

As pessoas levantaram, incrédulas, algumas disseram alguma coisa ou gritaram, mas o choque era tão grande que não sabíamos como reagir. Ele então disse: “É isso que vocês estão fazendo comigo, jogando meu dinheiro fora, então eu vou jogar fora o dinheiro de vocês também”.

Era esse o clima bacana do ambiente de trabalho de alguns locais nos anos 1990. Era uma cultura equivocada em que apresentadores e diretores acreditavam que, para serem respeitados e terem sucesso, era preciso oprimir, agredir e humilhar.

Um apresentador já falecido com quem trabalhei vivia brigando com as produtoras que não conseguiam os convidados que ele queria, a ponto de fazê-las chorar nas reuniões. O que o apresentador não sabia é que muitos não aceitavam porque não gostavam dele. E, claro, como ele jamais admitiria não ser querido, culpava as profissionais abertamente.

Hoje, felizmente, embora a cultura do terror ainda exista, é possível denunciar abusos de poder, grosserias, exploração e outros tipo de assédio moral. As empresas têm departamentos de compliance, que ditam regras de comportamento no ambiente de trabalho, com normas de diversidade, igualdade e equidade.

Ninguém deve ir para um ambiente de trabalho hostil para ser humilhado e quem sofrer abusos tem que denunciar mesmo. E, quando há medo de retaliação individual —o que acontece muito—, o jeito é fazer denúncias coletivas. Porque o opressor contava com o medo do oprimido.

Não conheço o caso específico dessa denúncia coletiva contra Nelson Rubens, mas, situando numa linha histórica (que não justifica, mas explica), diria que, por ter nascido em 1937, ele passou por essa mesma escola de terror hoje obsoleta, em que o apresentador era quase um senhor feudal que via todos os colaboradores de sua produção como seus vassalos.

Obsoleta, mas ainda operante hoje. Não é raro ver, no ar, ao vivo, apresentadores dando bronca em repórteres ou até mesmo constrangendo colegas de palco. A rádio peão e rádio corredor, nomes dados aos comentários “em off” que rodam as produções e redação têm todas essas notícias.

Por tudo isso, não me surpreendi com a existência das acusações, mas fiquei intrigada. Porque existem apenas duas possibilidades para uma pessoa abusiva: ou ela sempre foi assim (caso crônico) ou aconteceu algum fato desencadeador (caso agudo). Então, ou o acusado sempre se comportou assim e ninguém nunca teve coragem/condição de denunciá-lo ou ele nunca se comportou assim e alguma coisa o tirou do eixo.

Acho que, a partir de agora, novos dados poderão elucidar a dúvida. Temos que esperar informações concretas porque, em se tratando de justiça, o correto não é nem aumentar nem inventar, mas provar. O que fica desde já é a certeza de que assédio moral, seja de qualquer forma ou grau, nunca é “ok, ok”. As vítimas precisam sempre ser compensadas e o assediador, punido.

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo



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