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Oscar: Mosteiro no interior dos EUA inspirou O Brutalista – 21/02/2025 – Ilustrada


Num campo nevado em Minnesota, fica um mosteiro como nenhum outro. Uma faixa trapezoidal de concreto envolve a torre do sino e paira sobre uma janela frontal gigante em forma de colmeia, composta por centenas de hexágonos suavemente brilhantes. Por meio século, a existência desta obra-prima modernista foi conhecida principalmente pelos monges beneditinos que vivem lá e por arquitetos que fazem peregrinações à Igreja da Abadia de Saint John a cada verão.

Mas agora ela encontrou nova fama como inspiração de “O Brutalista“, o drama épico sobre um arquiteto imigrante assombrado pelo Holocausto, que é um dos favoritos ao prêmio de melhor filme no Oscar 2025.

A história da criação da igreja é tão improvável quanto o enredo do filme que ela inspirou, envolvendo titãs da arquitetura, monges ambiciosos, mudanças no Vaticano e uma discussão intensa sobre aquela janela em forma de colmeia. Alan Reed, membro da abadia que oferece passeios aos hóspedes, começa perguntando a eles: “Como isso pôde acontecer?”

“Que essa pequena faculdade na época, no meio do nada, administrada por um grupo de monges, tenha contratado um arquiteto mundialmente famoso… é uma história incrível”, disse ele à AFP.

Cadeiras e igrejas

Tudo começou com Baldwin Dworschak, um abade de 44 anos, que herdou a administração do mosteiro e rapidamente superou seus terrenos históricos nos anos de expansão dos EUA no pós-guerra, na década de 1950. Numa época em que a Igreja Católica estava se reformando e se modernizando, Dworschak e seus conselheiros viram uma oportunidade de imitar os monges europeus pioneiros do século XII que inauguraram o então novo estilo gótico.

Um monge que havia estudado arquitetura então organizou o envio de cartas convidando nomes como Richard Neutra, Walter Gropius, Eero Saarinen e Marcel Breuer —alguns dos principais arquitetos modernistas do mundo na época.

Surpreendentemente, vários responderam, e Breuer —um judeu húngaro que havia se formado na influente escola Bauhaus da Alemanha e inventado as elegantes cadeiras tubulares de aço presentes em escritórios até hoje— foi nomeado para supervisionar a igreja gigante no extremo norte dos Estados Unidos.

O design feito por ele foi “algo que ninguém nunca tinha visto antes”, disse Victoria Young, professora de arquitetura na Universidade de St. Thomas em Minnesota, que escreveu um livro sobre a criação “extraordinária” de Breuer. O arquiteto sino-americano I.M. Pei —ex-aluno de Breuer— escreveu certa vez que a Igreja da Abadia de Saint John seria considerada um dos maiores exemplos da arquitetura do século XX se estivesse localizada em Nova York, não em Minnesota.

Disputa intensa

Brady Corbet, diretor de “O Brutalista”, cita um livro escrito por Hilary Thimmesh, do comitê de Dworschak, como uma fonte-chave para seu filme. Corbet disse à AFP que visitou Saint John’s e tropeçou nas memórias de Thimmesh enquanto fazia uma leitura para o filme.

Vários paralelos são claros: um arquiteto judeu projetando um edifício cristão colossal numa colina remota dos EUA, num estilo modernista controverso. Uma grande fonte de tensão dramática no filme ocorre quando o cliente —um magnata milionário no filme, em vez de um abade— traz seu próprio designer, descartando o arquiteto original.

Na vida real, Breuer fez amizade com Dworschak, mas eles se desentenderam quando os monges trouxeram seu próprio designer de vitrais, rejeitando o trabalho do amigo próximo e antigo professor de Breuer, Josef Albers. Numa carta amarga, Breuer chama a mudança de “golpe repentino” e afirma que seria “melhor não fazer nada” do que seguir em frente com a preferência dos monges. O novo design deve ser “encerrado imediatamente”, diz outra carta —sem sucesso.

A luta pelo poder em “O Brutalista” culmina em um ato horrível de violência sexual numa pedreira de mármore. Felizmente, o cliente e o arquiteto da vida real rapidamente se reconciliaram.

‘Esquecido’

Deixando de lado algumas hipérboles inevitáveis de Hollywood, um filme indicado ao Oscar que chama a atenção para o tesouro escondido de seu monastério é uma uma inevitável fonte de orgulho para aqueles ligados a Saint John’s. O arquiteto Robert McCarter escreveu um livro sobre Breuer “porque senti que ele havia sido esquecido, até mesmo pela profissão, até certo ponto”, disse ele à AFP. “Há muitas pessoas que acham que Saint John’s é, de longe, seu maior edifício. Isso me inclui”, disse ele.

“Ainda é um lugar que muitas pessoas não conhecem”, concordou Young.

Para os monges de Saint John’s, o filme pode oferecer uma tábua de salvação mais prática. A igreja precisa urgentemente de reparos, com parte do concreto começando a ruir e o aço a enferrujar. A ordem deles encolheu, de maior monastério beneditino masculino do mundo, com 340 monges, para menos de 100. É muito pouco para um espaço tão grande.

“Se pudéssemos levantar dinheiro suficiente”, os monges poderiam pelo menos aquecer a igreja no inverno e resfriá-la no verão, disse Reed. E a atenção que o filme está gerando? “Os monges certamente estão bastante impressionados”, disse ele.



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