O escritor paranaense Paulo Leminski será o homenageado da Flip 2025, que vai acontecer de 30 de julho a 3 de agosto em Paraty, no litoral fluminense.
É uma escolha de verve assumidamente popular por parte da curadoria, de novo assinada pela livreira Ana Lima Cecilio, já responsável pela festa do ano passado, que celebrou João do Rio.
Leminski tinha uma postura de “chegar perto das pessoas, levar a literatura para as pessoas”, segundo a curadora, algo comparável ao que décadas antes fez o cronista carioca com seus artigos que abordavam todas as classes sociais do Rio de Janeiro e circulavam por muitas mãos ao redor da cidade.
O paranaense é um autor mais contemporâneo que os últimos homenageados da Flip —antes de João do Rio, foram Pagu, Maria Firmina dos Reis e Euclides da Cunha. Leminski nasceu em Curitiba em 1944 e morreu em 1989, de complicações de uma cirrose hepática. Teria hoje 80 anos.
Começou a carreira próximo a movimentos de vanguarda, como o da poesia concreta, mas sempre fez questão de manter sua obra acessível a um público amplo por meio de uma linguagem cotidiana, repleta de gírias e piadas.
Se Leminski mergulhou na tradução de obras sofisticadas de Samuel Beckett, Alfred Jarry e Lawrence Ferlinghetti, foi também parceiro musical de cantores pop como Moraes Moreira, Guilherme Arantes e Caetano Veloso.
Cecilio lembra os “dados superpessimistas” da última pesquisa Retratos da Leitura —que apontaram o Brasil pela primeira vez como um país em que os não leitores superam os leitores— para reforçar que a Festa Literária Internacional de Paraty, mais prestigioso evento do tipo do país, “tem que ser também um instrumento de incentivo à leitura”.
“Não consigo pensar em um autor que buscou mais trazer gente para perto do livro que o Leminski”, afirma ela, ressaltando que a festa deste ano vai dar mais atenção à poesia. “Como já diz o título do livro ‘Caprichos e Relaxos’, ele unia rigor e diversão, erudição e humor, dava acenos e piscadinhas ao público o tempo todo.”
O Brasil é um país em que a literatura é muito encastelada, segundo a curadora, que defende o esforço de fazer a ponte até os leitores —e Leminski é, na sua definição breve, um poeta best-seller.
Isso tem muito a ver com a edição com “Toda Poesia” do autor lançada pela Companhia das Letras há 12 anos —um volume laranja, com a capa ostentando o bigodão característico do curitibano, que serviu para apresentar sua obra a uma nova geração mais de duas décadas após sua morte.
A editora já apostava alto na coletânea de 2013, prevendo uma tiragem ambiciosa de 5.000 exemplares, mas “o negócio bombou de uma forma que ninguém podia esperar”, nas palavras do publisher Otávio Marques da Costa.
“Era um momento em que a literatura parecia estar indo para um lado muito comercial, havia certo pessimismo com a poesia. E de repente a coletânea do poeta maldito dos anos 1980 vendeu 120 mil exemplares em um ano”, lembra ele. Hoje, o livro chega perto de 200 mil cópias vendidas.
A obra poética de Leminski está fatiada também em coleções de bolso na editora, em títulos como “La Vie en Close” e “Distraídos Venceremos”, e a casa publica ainda quatro biografias que ele fez na década de 1980 para a Brasiliense —de Jesus Cristo, Leon Trótski, Cruz e Sousa e Matsuo Bashô — no volume único “Vida”.
Já seus principais livros de prosa, o experimental e influente “Catatau”, sua estreia de 1975, e o romance “Agora É que São Elas”, de 1984, estão hoje no catálogo da editora Iluminuras, que acaba de relançar a prosa poética de “Metamorfose – Uma Viagem pelo Imaginário Grego”.
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