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Primeiro brasileiro a subir Everest cria reserva no Paraná – 15/03/2025 – Ambiente


O alpinista paranaense Waldemar Niclevicz, 59, primeiro brasileiro a chegar ao cume do monte Everest, em 1995, deve voltar ao topo da montanha em breve, 30 anos após aquela primeira expedição. O objetivo agora, ele diz, é chamar atenção para a urgência da restauração ecológica.

A ideia é levar ao topo da montanha uma bandeira com o desenho de uma araucária, árvore símbolo do Paraná, e também “símbolo de resistência e da natureza ameaçada”, acrescenta ele.

Há menos de cinco anos, durante a pandemia da Covid-19, Niclevicz comprou uma área de 116 hectares na região rural de Campo Largo, cidade da região metropolitana de Curitiba, e, desde então, vem trabalhando para recuperar o local, plantando mudas de araucária.

“Era uma área degradada, mas que estava abandonada desde a década de 1980, por isso já tinha alguma regeneração natural. Mas originalmente era uma floresta com araucária, associada ao bioma mata atlântica. E é uma espécie que foi praticamente dizimada no Brasil nos últimos cem anos. Hoje não tem quase nada”, explica ele.

O local fica colado à APA (Área de Proteção Ambiental) da Escarpa Devoniava, maior unidade de conservação do Paraná, e uma parte da propriedade comprada por ele foi transformada em RPPN (Reserva Particular de Patrimônio Natural), através de uma portaria publicada em novembro de 2024 pelo IAT (Instituto Água e Terra), órgão do Governo do Paraná.

O Paraná tem hoje 334 reservas particulares do tipo, somando 55.541,92 hectares de vegetação nativa preservada.

A RPPN de Niclevicz, batizada de Reserva Natural do Alpinista, tem 34 hectares e ganhou um ato de inauguração nesta quarta-feira (12). Entre os convidados estava a fisioterapeuta e empresária Flávia Arantes, filha de Pelé.

Em 1995, a bandeira do Brasil exibida por Niclevicz quando ele chegou ao topo do Everest havia sido dada pelo rei do futebol, morto em 2022, aos 82 anos. Nesta quarta, a bandeira com a araucária, que ainda será levada ao Nepal, foi entregue ao alpinista pelas mãos de Flávia.

Na inauguração, 30 mudas foram plantadas, para marcar os 30 anos da primeira expedição brasileira ao Everest. No total, já são mais de 600 araucárias plantadas no espaço, mas Niclevicz busca parceiros e doadores para chegar a 2.000.

Não são mudas comuns. O alpinista explica que tem utilizado mudas enxertadas, mais caras —em torno de R$ 150 cada uma—, para acelerar o processo de desenvolvimento da árvore. “São clones de uma matriz selecionada, ou seja, mudas especiais, sem doença, produtivas, resistentes. Mas o cuidado com o plantio e com o manejo também é importante para que ela cresça com saúde”, explica ele.

A primeira muda enxertada plantada no local, há três anos e um mês, já tem a primeira pinha. “Ela é precoce. Enquanto uma araucária demora 15 anos para soltar a primeira flor, as enxertadas já estão soltando flor a partir do terceiro ano”, conta Niclevicz.

“A natureza não pode esperar. Não podemos nos dar ao luxo de deixar a restauração para amanhã. Temos que fazer isso hoje. A nossa própria sobrevivência está em risco com o desequilíbrio ambiental mundial”, afirma ele.

O alpinista também tenta atrair parceiros que possam contribuir com a manutenção do espaço. A ideia é receber estudantes semanalmente, principalmente do ensino médio, para aulas de educação ambiental. Desde a compra da área, as visitas já acontecem de forma esporádica.

“Nosso propósito aqui não é pegar um pedaço de terra, plantar araucária e cuidar disso como se fosse nosso jardim. Nosso propósito é trabalhar a educação ambiental”, destaca.

A nova expedição ao Everest também depende de patrocínio, mas Niclevicz diz que a maior parte do valor da viagem já foi obtido. Ele subirá a montanha mais alta do mundo com o alpinista Pedro Hauck. O custo total da empreitada está estimado em US$ 160 mil (cerca de R$ 919 mil) para a dupla.

Os doadores até agora são uma empresa de suplementos, um instituto alemão e a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná). Um quarto doador deve ser confirmado em breve.

A partida para o Nepal está prevista para 26 de março, e a expedição deve durar até 30 de maio. Hauck estará no cume do Everest pela primeira vez. Já Niclevicz foi cinco vezes ao monte —duas delas até o cume (em 1995 e em 2005). Há 30 anos, seu companheiro de escalada foi Mozart Catão, morto no Aconcágua em 1998.

Com 59 anos completados nesta quarta, Niclevicz afirma que nunca parou de escalar e que está pronto para a nova empreitada no Everest.

“Estou escalando há 37 anos. Acabei de finalizar um projeto escalando todas as maiores montanhas dos alpes europeus, 82 montanhas com mais de 4 mil metros. Estou super bem fisicamente”, conta ele.

Para ele, o desafio será enfrentar a “fila de gente” no Everest. “Hoje é uma montanha que não atrai tanto o alpinista profissional porque ali está massificado pelo turismo. Este vai ser um desafio para mim. Conheci o Everest na década de 1990. Em 1991, só 342 pessoas no mundo tinham chegado lá em cima. Hoje já temos mais de 10 mil pessoas. Vai ter muito alpinista, muito turista”, prevê.

Niclevicz também acredita que encontrará outra montanha, “mais perigosa” do que há 30 anos. “Perdeu boa parte dos seus glaciares. Ou seja, o Everest também sofreu os efeitos da crise climática global”, lamenta.



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