Extremos políticos, PSOL e Novo têm adotado a mesma orientação em votações na Câmara dos Deputados, frequentemente como vozes isoladas contra o consenso de legendas maiores.
Isso ocorreu em projetos importantes para o governo Lula (PT), como o arcabouço fiscal, o texto que regulamentou o mercado de carbono e o pacote de corte de gastos da Fazenda.
Apesar de a orientação coincidir, na grande maioria das vezes o argumento usado por cada partido diferiu, com raras exceções.
Uma dessas ocasiões se deu na votação do projeto que muda as regras para a aplicação da inelegibilidade de políticos —o texto está no Senado. As duas legendas enfatizaram o efeito negativo da aprovação da proposta por passar à população a ideia de impunidade.
Outro exemplo foi o texto que previa mudanças nas regras de acesso ao BPC (Benefício de Prestação Continuada) e limitava o ganho real do salário mínimo, uma das medidas do pacote de gastos do governo. O argumento dos dois partidos seguiu a mesma linha, de que as alterações excluiriam pessoas que precisavam do benefício.
O alinhamento acaba quando o tema de votação é econômico, mesmo que a orientação seja a mesma. No arcabouço fiscal, por exemplo, PSOL votou contra, mas usou discurso de que a mudança retiraria investimentos públicos e impediria o governo Lula de cumprir promessas de campanha.
Já o Novo afirmou que a flexibilização da Lei de Responsabilidade Fiscal prevista na proposta geraria consequências como inflação, endividamento e aumento de juros, entre outras.
No texto que regulamenta o mercado de carbono, a mesma divergência argumentativa. Enquanto o PSOL criticou a manutenção “dos efeitos poluidores e da destruição resultante do desmatamento”, o Novo enfatizou que a proposta prejudicaria a economia com um viés arrecadatório e inviabilizaria a comercialização internacional a partir do Brasil dos créditos de carbono.
A PEC (proposta de emenda à Constituição) da Anistia, que reduziu cota para negros nas eleições, é outro exemplo. O PSOL enfatizou o prejuízo do texto às candidaturas negras no país. Já o Novo afirmou que o tema era espinhoso por estabelecer na Constituição “um critério de cotas que nós nunca apoiamos”.
Procurada, a líder do PSOL na Câmara, Talíria Petrone (RJ), afirmou que não há nada que aproxime os dois partidos. “O Novo defende a Faria Lima, a redução de investimentos em educação e saúde. O Novo é contra o enfrentamento à pobreza. O Novo é contra, inclusive, muitas vezes, a própria democracia defendendo o golpista”, afirma.
“O PSOL quer mais renda para as famílias, mais investimento público. E a gente não abre mão de defender a democracia. A coincidência de uma votação comum não significa nenhuma proximidade.”
A deputada Adriana Ventura (SP), líder do Novo na Câmara, afirma, por sua vez, que o partido é de direita e está no espectro ideológico completamente oposto ao do PSOL.
“Enquanto nós apoiamos propriedade privada, eles incentivam invasões. Enquanto acreditamos que só o livre mercado pode gerar riqueza e tirar as pessoas da pobreza, eles são estatizantes. Enquanto defendemos a liberdade de expressão, eles apoiam medidas que incentivam a censura”, diz. “Há pautas ocasionais, porém, em que nossos votos coincidem com os de outros partidos.”
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