Astrônomos encontraram um sistema planetário em torno da Estrela de Barnard –e dessa vez parece que é para valer.
A anã vermelha, descoberta pelo astrônomo americano Edward Barnard em 1916, representa a estrela solitária mais próxima daqui. A 5,9 anos-luz de distância, ela perde apenas para o trio de Alfa Centauri (Proxima, A e B), localizado a cerca de 4,3 anos-luz.
Só visível com a ajuda de telescópios, a Estrela de Barnard se tornou notória desde as primeiras observações por seu movimento próprio acentuado –astronomês para descrever a alta velocidade aparente de deslocamento dela com relação ao fundo de estrelas mais distantes (no tempo de uma vida humana, ela se mexe algo como o tamanho de uma Lua cheia no céu, o que, para uma estrela, é uma enormidade).
Nos anos 1960 e 1970, usando justamente a astrometria (técnica para medir a variação de posição dos astros no céu), o astrônomo holandês Peter van de Kamp alegou ter descoberto dois planetas gigantes gasosos em torno da Estrela de Barnard –o que acabou se mostrando um grande engano (como todos os planetas que ele alegou ter descoberto naquela época). Os primeiros mundos extrassolares confirmadamente descobertos só viriam em meados da década de 1990.
Desde então, a Estrela de Barnard continuaria sendo observada, submetida à técnica de medição da velocidade radial (em vez de medir a variação da posição, como na astrometria, ela envolve a medição dos bamboleios gravitacionais da estrela causados por planetas ao seu redor). Em 2018, uma equipe internacional anunciou ter encontrado uma possível superterra em torno do astro, mas em 2021 novamente a descoberta acabou refutada, com o sinal detectado de velocidade radial sendo atribuído a um padrão de atividade estelar relacionado a sua rotação.
Pois bem. Em agosto de 2024, mais uma vez um grupo de astrônomos anunciou a descoberta de um planeta ao redor da Estrela de Barnard. Os dados foram colhidos com o espectrógrafo Espresso, instalado no VLT, observatório do ESO (Observatório Europeu do Sul), e sugeriam a possibilidade de outros três planetas, além do efetivamente descoberto. Seriam mais alarmes falsos?
Dessa vez tem tudo para ser real. Uma equipe independente, usando o espectrógrafo Maroon-X, instalado no telescópio Gemini Norte, no Havaí, obteve dados que confirmam a descoberta de um deles e a desconfiança dos outros três. Os quatro planetas têm órbitas modestas (com períodos entre 2,3 e 6,7 dias) e massas mais modestas ainda (pelo menos 19% a 34% da terrestre). O menor deles, por sinal, com essa massa mínima de 19%, é o menorzinho já descoberto com a técnica de velocidade radial.
“Nós observamos em diferentes momentos, em dias diferentes. Eles estão no Chile, nós no Havaí. Nossas equipes não se coordenaram uma com a outra”, disse Ritvik Basant, estudante de doutorado da Universidade de Chicago e primeiro autor do novo estudo, publicado na última terça-feira (11) no Astrophysical Journal Letters. “Isso nos dá muita segurança de que esses não são fantasmas nos dados.”
É uma boa notícia também para o instrumento Maroon-X, que havia sido instalado temporariamente no Gemini Norte, mas está obtendo tão bons resultados que será incorporado como um dos equipamentos fixos do observatório. Mais descobertas certamente virão.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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