O vereador Noel Castelo (Solidariedade) foi eleito neste domingo (6) prefeito de Eldorado, cidade do Vale do Ribeira, a 243 quilômetros de São Paulo, em que Jair Bolsonaro (PL) passou parte da infância e adolescência. Ex-líder quilombola, ele contestou falas do ex-presidente sobre descendentes de escravizados que moram no local.
Noel teve 41,87% dos votos válidos e superou por 297 votos o candidato dr. Galindo (PSD), vinculado a setores mais conservadores da cidade, que teve 37,85% dos votos válidos. Dra. Débora (PT) ficou em terceiro, com 20,27% dos votos válidos.
Dois irmãos e primos do ex-presidente vivem em Eldorado. Apesar do vínculo com a família Bolsonaro, a eleição não apresentou traços da polarização nacional.
A eleição suplementar foi convocada após o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) cassar o registro de Elói Fouquet (PSDB), que chegou a ser eleito prefeito em 2024 com 30,02% dos votos válidos. Ele não assumiu o cargo, que estava ocupado interinamente por Noel Castelo, atualmente vereador.
Fouquet foi considerado inelegível devido a uma condenação por improbidade administrativa que, segundo o TSE, envolveu danos aos cofres públicos e enriquecimento de terceiros. Ele indicou a mulher, Nazil Fouquet (PSDB), como vice da candidata petista.
Nascido na cidade de Glicério, também no interior paulista, Bolsonaro chegou com a família a Eldorado em 1965 e foi embora em 1973, aos 18 anos, para iniciar a formação militar no estado do Rio de Janeiro.
Ele estava no município quando Carlos Lamarca (1937-1971), guerrilheiro que liderava a luta armada contra a ditadura militar, refugiou-se nas matas da região. Lamarca e seu grupo trocaram tiros com os militares que os procuravam na praça central, cena que o presidente diz ter testemunhado.
Em 2017, Bolsonaro atacou quilombolas da cidade ao dizer que eles “não fazem absolutamente nada”.
“Eu fui em Eldorado paulista. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Nem para procriador ele serve mais”, disse em palestra no clube Hebraica do Rio de Janeiro.
Um ano depois, o prefeito recém-eleito, à época líder da comunidade quilombola Abobral, questionou a fala do ex-presidente.
“Não existe nada disso que ele falou. Se ele viu alguém à toa, pode ser que ele tenha ido em algum fim de semana. E aí as pessoas descansam mesmo, é um direito”, disse ele à Folha.
A fala gerou uma ação por danos morais e uma denúncia criminal oferecida pela ex-procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Ele foi absolvido nos dois processos.
Conforme mostrou reportagem da Folha durante a campanha presidencial de 2022, é difícil encontrar evidências concretas da passagem de Bolsonaro pela cidade, a não ser pelas histórias contadas por moradores que conviveram com ele e pelos lugares que eles indicam, como a escola pública onde estudou, os pontos onde seus parentes têm comércios e os endereços em que residiu.
Outra prova da relação de Bolsonaro com a terra fica no cemitério. O presidente esteve ali em janeiro de 2022 para o sepultamento da mãe, Olinda Bonturi Bolsonaro, que morava na cidade. O jazigo da família é identificado por uma única placa, pregada na gaveta mais alta: “Percy Geraldo Bolsonaro”.
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