O presidente Lula (PT) deve procurar presidentes de partidos que integram o governo a partir desta semana, com seu retorno ao Brasil, para avançar com as negociações de uma reforma ministerial. As conversas sobre as trocas na Esplanada se arrastam há meses, mas até o momento Lula só oficializou mudanças em pastas comandadas pelo PT.
De acordo com dois ministros, o petista sinalizou a intenção de procurar dirigentes partidários para avançar com as negociações ao voltar de sua viagem oficial ao Japão e ao Vietnã. Segundo um desses auxiliares, ele citou os nomes dos presidentes do PSD, Gilberto Kassab, e do Republicanos, Marcos Pereira.
A ida do presidente ocorreu no dia 22 e ele voltou ao país neste domingo (30). Para a missão internacional, o presidente da República convidou os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), além de congressistas do centrão, na sinalização de uma busca por aproximação com o Congresso Nacional.
Desde a troca das presidências da Câmara e Senado, Lula tem afirmado que quer manter diálogo direto com a cúpula das Casas. Nos últimos meses, ele se reuniu por mais de uma vez com Alcolumbre e Motta. Em um almoço no começo de março, o presidente indicou aos dois que buscaria os dirigentes dos partidos aliados para discutir a reforma, segundo um interlocutor de Motta.
Há expectativas de aliados do petista de que essas conversas possam ter avançado durante a viagem. De acordo com relatos de um parlamentar que integrou a comitiva ao Japão e ao Vietnã, o clima da viagem foi descontraído, sem discussões aprofundadas sobre temas do dia a dia e com várias interações com os parlamentares.
Esse político disse enxergar uma atuação de Lula “para melhorar o clima” com o Congresso e que esse gesto foi reconhecido pelos congressistas —já que eles cobram envolvimento direto de Lula na articulação e que haja um maior diálogo com o petista.
Ele também diz que reduzir as tensões deve permitir que o presidente discuta, num segundo momento e em situação mais favorável, temas como trocas na Esplanada e pautas de interesse do Executivo.
Lula citou nominalmente Motta e Alcolumbre durante uma declaração à imprensa no Japão, afirmando ser importante a união dos presidentes dos Poderes a favor dos interesses do país. Ele desconversou sobre temas como as trocas ministeriais, dizendo que “não seria louco” de discutir o tema ali.
“Trouxe eles e fiz questão que a gente não fizesse nenhuma discussão no avião que a gente poderia fazer em terra. Essa é uma viagem de muita fraternidade e estou muito satisfeito, porque é uma experiência rica que estamos fazendo de compromisso com o Brasil. Quando nós voltarmos ao Brasil, vamos discutir as coisas que temos que discutir”, disse.
O ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e líderes de partidos como PP, MDB e União Brasil também fizeram parte da comitiva de Lula.
Tanto Pacheco como Lira integravam a bolsa de apostas para assumir ministérios. No entanto, Pacheco se reuniu com Lula no último dia 15 e descartou sua ida para o governo.
Já Lira tem afirmado a interlocutores que não houve conversas concretas sobre o assunto e que ele pretende se dedicar à presidência da federação entre PP e União Brasil, caso essa aliança entre os dois partidos seja confirmada.
As conversas sobre a reforma da Esplanada ocorrem em um momento de baixa popularidade do governo. Hoje, integram a base aliada siglas que consideram lançar candidatura própria à Presidência, como União Brasil, PSD (cada um com três ministérios) e Republicanos (com uma pasta).
Há também descontentamento entre integrantes do PP, que tem André Fufuca à frente do Ministério do Esporte, e chegaram a ameaçar com um desembarque do governo.
Apesar de algumas legendas se queixarem do espaço que têm hoje na Esplanada, há uma resistência de integrantes do centrão em aumentar sua participação no mandato petista num momento de queda de popularidade.
Além disso, eles dizem que haveria pouco tempo para permanecer à frente de um ministério —já que a legislação prevê que, para concorrer às eleições, um político precisa deixar o cargo até abril de 2026.
Presidentes de siglas de centro, na mira das próximas conversas de Lula, não dão garantia de apoio ao petista em 2026. Nos últimos meses, alguns deles fizeram críticas públicas à gestão do petista. Em janeiro, Kassab chamou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de fraco e afirmou que o PT perderia a eleição se ela ocorresse naquele momento.
Em entrevista à Folha no começo do mês, o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, disse que o petista vivia o pior momento de seu terceiro mandato e que ele precisava ouvir mais os partidos aliados.
Já Marcos Pereira, do Republicanos, partido do governador paulista Tarcísio de Freitas, afirmou publicamente que a tendência é que o partido caminhe com uma candidatura de centro-direita na próxima eleição.
Neste ano, Lula oficializou a troca em três pastas: a chegada de Sidônio Palmeira na Secom (Secretaria de Comunicação Social), no lugar de Paulo Pimenta (PT-RS); a de Gleisi Hoffmann (PT-PR) na Secretaria de Relações Institucionais, no lugar de Alexandre Padilha (PT-SP); e a ida de Padilha para a Saúde, no lugar de Nísia Trindade.
Aliados de Lula também não descartam mais trocas em pastas comandadas pelo PT. Eles citam a Secretaria-Geral da Presidência, chefiada por Márcio Macêdo, o Ministério das Mulheres, comandado por Cida Gonçalves, o Ministério de Desenvolvimento Agrário, que tem Paulo Teixeira à frente da pasta, e o Ministério de Desenvolvimento Social, ocupado por Wellington Dias.
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