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Rússia sugere ONU e outros países em conversa sobre paz – 25/03/2025 – Mundo


A Rússia sugeriu pela primeira vez a inclusão da ONU e de “certos países” nas negociações para tentar encerrar a Guerra da Ucrânia. Até aqui, as conversas são comandadas pelos Estados Unidos de forma separada com Moscou e Kiev.

A ideia foi ventilada nesta terça (25) por um dos chefes da delegação russa que encontrou-se com os americanos em Riad, capital da Arábia Saudita, em uma conversa de 12 horas na véspera. Segundo Grigori Karasin, a ampliação poderá contar “acima de tudo com as Nações Unidas e certos países”.

O diplomata, que chefia a Comissão de Relações Exteriores do Senado russo, não elaborou. Dado o protagonismo assumido por Donald Trump, que deu uma guinada de 180 graus na política americana e alinhou-se aos termos gerais de Vladimir Putin acerca das origem e da resolução possível do conflito, é incerto como tal ampliação ocorreria.

Trump é um notório crítico da ONU e de outras instâncias do multilateralismo, mas já disse que a Europa precisará participar do debate sobre a guerra, em especial quando for a hora de levantar as sanções draconianas impostas à Rússia por invadir o vizinho em 2022.

O americano também havia concordado com a ideia de uma força de paz europeia para salvaguardar a segurança de Kiev após um eventual cessar-fogo, o que Putin descarta por significar a aproximação da aliança militar Otan de suas fronteiras. Com isso, a hipótese de novos atores à mesa de negociação pode, ou não, incluir até o Brasil.

Na semana retrasada, quando rejeitou um cessar-fogo temporário de 30 dias no conflito, Putin aproveitou a fala para fazer um agradecimento específico aos líderes do Brasil, China e África do Sul, seus colegas no centro do bloco Brics.

No ano passado, o Brasil aliou-se à China na elaboração de uma proposta de paz que envolvia uma cúpula envolvendo os rivais e outros países. A iniciativa foi elogiada por Putin, ao menos de forma protocolar, mas nunca andou —não menos porque aos olhos do Ocidente Pequim, como aliada principal do Kremlin, não seria um agente neutro.

Isso não demoveu países ocidentais de realizar, na Suíça, uma conferência de paz que igualmente excluía os russos e trabalhava apenas a proposta maximalista de Volodimir Zelenski para o fim da guerra. O evento acabou esvaziado pela falta de apoio de países mais neutros, como os integrantes dos Brics.

Nos meios diplomáticos brasileiros, todas as insinuações de participação do país no atual estágio das negociações são vistas com desconfiança, o que não significa que não possam eventualmente avançar. Sugestões de que Brasília poderia colaborar com tropas em uma eventual “força de paz dos Brics” são vistas nos bastidores como diversionistas, e a chancelaria chinesa foi a público negar a hipótese.

Na prática, as conversas seguem. “Tud foi discutido, houve um diálogo rico, difícil, mas muito útil para nós e para os americanos. Claro, nem tudo foi resolvido, nem tudo foi acordado, mas o fato de tal conversa ter ocorrido foi muito oportuno”, disse Karasin à agência russa Tass.

Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, o foco da conversa foi a reativação do acordo para a livre passagem de navios mercantes no mar Negro, mas nenhum acordo foi assinado. Trump havia dito na véspera que poderia haver algum anúncio nesta terça, mas o russo por ora baixou as expectativas.

Uma nova rodada de negociação está ocorrendo em Riad entre americanos e ucranianos, que já haviam se encontrado com uma delegação de nível hierárquico maior, com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, presente no domingo (23).

Na prática, a postergação do debate é vista como favorável a Putin, que vem buscando completar a conquista das quatro regiões que anexou em 2022 no vizinho, e deseja seu reconhecimento —o que Trump, segundo relatos, poderá fazer ao lado da aceitação da absorção da Crimeia, ocorrida em 2014.

Militarmente, os russos avançam lentamente, mas não parece haver recursos suficientes para por exemplo cruzar o rio Dnieper e tomar Kherson, a capital da província homônima. Assim, a troca mais chamativa de fogo segue sendo pelo ar.

Os ucranianos disseram ter abatido 78 de 139 drones russos nesta noite de terça, e Moscou ainda não divulgou seu balanço na via inversa. Ambos os lados têm ignorado na prática a trégua parcial de ataques contra a infraestrutura energética acertado por Trump com Putin e Zelenski na semana passada.



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