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Sinto vergonha alheia ao ouvir que Donald Trump é o demônio – 26/01/2025 – Luiz Felipe Pondé


Assistir à reação infantil de grande parte da inteligência pública à vitória e posse de Donald Trump é uma humilhação. Sinto vergonha alheia. Trump é o grande demônio. Trump é a reencarnação de Darth Vader. Elon Musk é neonazista. Vivemos o apocalipse. Oh, céus, oh, azar! Parecem personagens de antigos desenhos animados que amaldiçoavam o mundo por terem perdido uma corrida para um coelho com pernas longas.

O que teria acontecido para essa classe intelectual ter virado café com leite? Professores ruins e gurus? Má alimentação na primeira infância? Apanhou muito dos pais? Ou foi mimada demais em casa e na escola? Depois de virar adulta, continuou a acreditar em bicho papão?

Não ocorreu a nenhum desses intelectuais se perguntar, por exemplo, o que Trump quis dizer no seu discurso, cheio de hipérboles e blábláblá como todo discurso de político, com “revolução do senso comum”? Não ocorreu a nenhum desses gênios do bem se perguntar, afinal de contas, qual a razão de a maioria dos americanos ter dado a vitória a ele e ao seu partido?

Um conjunto de razões, sem dúvida, entre elas, os costumes, estúpido! Ou seriam todos membros do lado sombrio da força? Estariam de saco cheio do Partido Democrata que se transformou numa agremiação de riquinhos das elites letradas americanas e, por isso mesmo, alienado da realidade do senso comum para quem só existe homem e mulher no mundo e bandido bom é bandido na cadeia? Para quem o mundo sempre foi um palco em que a contingência assola todos a cada dia e não tem tempo para os delírios que, infelizmente, destruíram a inteligência acadêmica americana que vive no seu chiqueirinho?

Como disse um comediante americano recentemente, o Partido Republicano, depois do estrago cultural causado pela agremiação citada aqui, acabaria por ter de decidir que nos Estados Unidos um mais um são dois, e não 2,5 ou 1,5, na dependência da raça ou gênero de quem fizesse a conta. Nem mesmo a matemática está a salvo depois da devastação que essa cultura da esquerda Nutella tem causado no mundo das humanas.

Na teologia, uma hora dessas dirão que Cristo era gênero fluído e Madalena uma mulher trans. Como você pensa que o senso comum cristão reagiria a uma “teologia progressista” como essa? Você não precisa ser supremacista, fascista, nazista ou comedor de criancinhas —no sentido antigo da expressão— para achar uma ideia dessa um abuso.

Para quem quer entender o que se passa no mundo hoje, em vez de ficar nesse “mimimi” de fascismo, neonazismo, Darth Vader, o retorno, como crianças mimadas que não ganharam do Papai Noel o “presidente do mundo” que queriam, o primeiro passo é prestar atenção nessa aparente revolta do senso comum. Isso pode ser um caminho. Se aqui no Brasil a esquerda abusar demais dessas bobagens que transformaram as ciências humanas num lixo, uma revolta como essa poderá ocorrer.

O que a esquerda americana quer fazer é criar um “novo” senso comum. O problema é que o senso comum não é algo que a engenharia social, paradigma da esquerda, consegue fazer acontecer. Valeria a pena estudar mais, talvez.

O filólogo irlandês especialista na religião grega antiga E. R. Dodds (1893-1979), fazia uso de um conceito que fora cunhado por seu professor Gilbert Murray (1866-1957), também especialista em língua e história da religião grega antiga, que se chama “conglomerado cultural herdado”.

O senso comum é parte desse conglomerado herdado. O processo de constituição de um fenômeno histórico dessa monta se dá ao longo de muito tempo. Nada linear, planejado, ou racional, um conglomerado herdado se constitui a partir de fontes e experiências psicológicas, sociais, políticas, econômicas ou religiosas acumuladas, que comportam, inclusive, componentes no seu corpus que entram em frontal contradição uns com os outros. Isso significa que não há “modelo” de engenharia social que “compreenda” a totalidade interna ao conglomerado. Formam-se camadas que se superpõem ao longo dos séculos, desenhando um relevo que não responde a projeto específico nenhum.

A aposta da esquerda tem sido usar os meios de comunicação e a educação para destruir esse senso comum e criar o seu que todos, “democraticamente”, deverão aplaudir. A modernidade é uma “tentativa” de ruptura radical, que, aliás, não vai nada bem como projeto iluminista —eurocêntrico?— diante de um tempo geológico que lhe escapa.

Não há critério objetivo de bem e mal num conglomerado herdado —nem no senso comum, parte do conglomerado. Aliás, é ele quem cria a sensação ilusória de que exista uma moral no mundo.


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