Comunicações similares de três operadoras de apostas concorrentes reforçaram as suspeitas de manipulação de mercado de cartões, ou “spot-fixing”, segundo o inquérito da Polícia Federal que resultou no indiciamento do atacante Bruno Henrique, do Flamengo, na última segunda-feira (14).
O órgão também afirmou que duas empresas de integridade esportiva concluíram pela mesma análise de suspeita de fraude na partida em que o jogador atuou. Um destes relatórios contou que causou preocupação, do ponto de vista da integridade, o volume de apostas para que Bruno Henrique recebesse um cartão.
Questionada, a assessoria de Bruno Henrique informou que não vai se manifestar. A Folha não conseguiu contato com os familiares dele, também indiciados.
Outra teria relatado a ocorrência de nove apostas do valor máximo nesse quesito em aproximadamente três horas, sendo a maioria destas oriunda de contas recém-criadas.
A localização dos apostadores também chamou a atenção da operadora pela grande concentração de apostas sediadas em Belo Horizonte, cidade de Bruno Henrique.
De acordo com uma das operadoras, 98% das apostas do mercado de cartões foram direcionadas ao atleta, o que a fez, pela suspeita de manipulação, suspender a oferta desse mercado um dia antes do jogo.
Uma delas teria oferecido a probabilidade de 32% de sucesso de Bruno receber um cartão na partida, considerando o recebimento, até aquele momento, de sete cartões amarelos pelo atleta nas 38 partidas anteriores disputadas.
“Aspectos lógicos não poderiam explicar o anormal interesse dos apostadores no recebimento de cartão por Bruno Henrique”, afirma o documento.
O relatório apontou para a hipótese de conhecimento prévio dos apostadores no recebimento de cartões pelo atleta, “o que também pressupõe, nessa ótica, a participação do mesmo e sua vinculação direta ou indireta com os apostadores”.
Ainda segundo a polícia, uma das empresas suspendeu o pagamento dos prêmios em virtude da suspeita de fraude, no pós-jogo e dias subsequentes, chegando em alguns casos até a meses depois, com diversas conversas sobre o tema.
A PF obteve conversas entre o jogador e o seu irmão, Wander Nunes Pinto Junior, que apontaram para uma suposta combinação para o recebimento de cartão amarelo, na partida contra o Santos, no início de novembro de 2023, pelo Campeonato Brasileiro, para obter lucro em apostas.
“Importante ressaltar que, no caso de a hipótese ser verdadeira, o conhecimento prévio dos apostadores no recebimento de um cartão por Bruno Henrique na partida Flamengo e Santos pressupõe, como lógica, tanto a participação ativa do jogador no processo, quanto uma vinculação entre as partes, ou seja, entre atleta e apostadores”, afirmou a PF.
Outras mensagens de Wander com familiares e amigos relata a sua preocupação com a suspensão de repasses de prêmios relacionados a esta aposta.
Numa delas, ele pergunta a um amigo se uma das empresas já pagou, e tem resposta negativa: “Nada viado”. Na sequência, os interlocutores questionam o fato de a empresa não ter pago o prêmio das apostas relacionadas ao cartão de Bruno Henrique.
Em um dos trechos da conversa Wander questiona: “Investigação de que?” e mais a frente afirma: “Vai da nada não”.
Para a PF, as conversas de WhatsApp mantidas entre o atleta e o irmão “apontam que aquele teria, de forma expressa, fornecido informações privilegiadas ao irmão a respeito do recebimento de cartão na partida sob investigação”.
Em novembro de 2024, o atleta foi um dos alvos de uma operação da PF e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), da Promotoria do Distrito Federal, relacionada a apostas em um cartão do jogador que teriam sido feitas por familiares do atleta.
Além do jogador do Flamengo, o irmão Wander e outras oito pessoas foram indiciadas. No grupo está a mulher do irmão, Ludymilla Araujo Lima, e uma prima do atleta, chamada Poliana Ester Nunes Cardoso. Os três teriam feito apostas relacionadas ao cartão, em jogo contra o Santos pelo Campeonato Brasileiro de 2023.
A Polícia Federal disse que não irá se manifestar sobre o caso.
Em nota, o Flamengo afirmou que não foi comunicado oficialmente. “O clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito”, diz o texto.
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