Bancos de alimentos nos Estados Unidos, já sobrecarregados pelo aumento da demanda, afirmam que terão menos comida para distribuir devido a cortes de pelo menos US$ 1 bilhão (R$ 5,65 bilhões) e pausas no financiamento federal pelo governo Trump, conforme entrevistas da Reuters com organizações em sete estados.
A fome no país cresceu nos últimos anos, impulsionada pela inflação alta e pelo fim de programas da era da pandemia que ampliavam a ajuda alimentar. O governo do presidente Donald Trump prometeu combater a inflação cortando gastos públicos, incluindo dois programas do USDA (Departamento de Agricultura) que permitiam a escolas e bancos de alimentos comprar produtos de fazendas locais.
Entrevistas com bancos de alimentos em sete estados revelam que o cancelamento e a suspensão desses programas resultarão em menos frutas, carnes e itens básicos nas próximas semanas e meses, deixando escassos os estoques para quem depende de doações para evitar a fome.
Um dos fatores é a redução nas entregas do Tefap (Programa de Assistência Alimentar de Emergência) do USDA, principal iniciativa da agência que adquire alimentos de agricultores para despensas.
Vince Hall, diretor de relações governamentais da Feeding America, maior rede de bancos de alimentos do país, disse que o USDA está revisando o programa e suspendeu metade dos recursos do Tefap — US$ 500 milhões (R$ 2,825 bilhões) — provenientes da Commodity Credit Corporation, que geralmente oferece ao departamento amplos recursos discricionários para diversos programas.
Um porta-voz do USDA afirmou à Reuters que a agência segue comprando alimentos para apoiar os bancos de alimentos, mas não respondeu a perguntas detalhadas sobre os gastos com o Tefap nem explicou por que as entregas estão reduzidas.
A Feeding America dialogou com o governo Trump sobre a pausa e pediu uma decisão rápida para liberar os fundos, segundo Hall. Essa suspensão intensifica as perdas com o fim do programa LFPA (Assistência de Compra de Alimentos Locais), que financiava cerca de US$ 500 milhões (R$ 2,825 bilhões) anuais para os bancos de alimentos, conforme relatado pelas organizações à Reuters.
Chad Morrison, diretor do Mountaineer Food Bank, na Virgínia Ocidental, afirmou que uma previsão semanal do estado aponta o cancelamento de cerca de 40% das entregas de produtos como queijo, ovos e leite do Tefap previstas para abril. Isso vai reduzir a oferta em sua rede de 450 despensas e outros programas de alimentação, disse ele.
Os bancos de alimentos enfrentam uma demanda inédita, com a fome nos EUA crescendo após anos de queda. Em 2023, 13,5% dos americanos enfrentaram dificuldades para garantir comida suficiente em algum momento, a maior taxa em quase uma década, segundo os dados mais recentes do USDA. Nas áreas rurais, o índice é ainda mais alto, alcançando 15,4%.
Anna Pesek, agricultora do Condado de Delaware, Iowa, contou que cerca de 20% das vendas de sua fazenda Over the Moon em 2023 vieram do LFPA, que levava perus e carne suína para bancos de alimentos em todo o estado. Esse financiamento também foi cortado.
Ela prevê que, sem o apoio da agência, seus produtos não chegarão mais às despensas.
“É uma sensação realmente devastadora”, desabafou.
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