O governo dos Estados Unidos de Donald Trump moveu-se esta semana para suspender dezenas de bolsas federais concedidas à Universidade de Princeton, sendo esta a quarta instituição da Ivy League, grupo de elite formado por oito universidades, a ter seu apoio financeiro de Washington reduzido ou explicitamente ameaçado desde março.
Christopher L. Eisgruber, reitor de Princeton, informou à comunidade universitária em um email no final da manhã desta terça-feira (01) que “várias dezenas” de bolsas haviam sido suspensas.
“A razão completa para essa ação ainda não está clara, mas quero deixar claros os princípios que guiarão nossa resposta”, escreveu Eisgruber. “A Universidade de Princeton cumprirá a lei. Estamos comprometidos em combater o antissemitismo e todas as formas de discriminação, e cooperaremos com o governo no combate ao antissemitismo. Princeton também defenderá vigorosamente a liberdade acadêmica e o direito ao devido processo desta universidade.”
Eisgruber afirmou que a universidade foi informada na segunda-feira (31) e na terça-feira de que perderia pelo menos parte do apoio a pesquisas vindo do Departamento de Defesa, do Departamento de Energia e da Nasa. A universidade não anunciou imediatamente o valor das bolsas afetadas.
A Casa Branca não comentou de imediato, mas o governo Trump tem perseguido ativamente universidades de elite dos EUA nas últimas semanas.
O governo retirou da Universidade Columbia US$ 400 milhões em bolsas e contratos em março e, posteriormente, suspendeu cerca de US$ 175 milhões destinados à Universidade da Pensilvânia. Na tarde de segunda-feira, o governo informou que estava revisando aproximadamente US$ 9 bilhões em acordos com a Universidade Harvard e sua rede de afiliadas.
O governo atribuiu as medidas envolvendo Columbia e Harvard a acusações de antissemitismo endêmico nos campi —afirmações que têm sido contestadas por muitos nessas instituições. Já no caso da Pensilvânia, o governo disse ter suspendido o financiamento porque a universidade permitiu que uma mulher transgênero participasse da equipe feminina de natação em 2022.
Mas, mesmo com as medidas contra universidades de elite, a inclusão de Princeton nesta semana foi uma surpresa. Embora conservadores frequentemente tenham criticado a universidade, uma nova força-tarefa federal focada em antissemitismo —que tem sido a principal justificativa por trás dos cortes em financiamento em Columbia e Harvard— não incluiu Princeton em uma lista divulgada em fevereiro de dez instituições que, segundo ela, “podem ter falhado em proteger estudantes e professores judeus contra discriminação ilegal”.
Eisgruber disse que as bolsas afetadas em Princeton envolvem pesquisas. Assim como Columbia, Harvard e Penn, Princeton recebe muito mais financiamento federal para pesquisa do que a maioria das universidades.
De acordo com o relatório financeiro mais recente de Princeton, a universidade recebeu mais de US$ 455 milhões em bolsas e contratos governamentais durante o ano fiscal encerrado em junho de 2024. Esse montante representou cerca de 18% das receitas da universidade.
Desde o início da Segunda Guerra Mundial, o governo federal tem desempenhado um papel central no apoio à pesquisa em universidades dos EUA. Nas últimas semanas, líderes universitários alertaram que as táticas do governo Trump estão colocando em risco a competitividade econômica do país.
Em um comunicado na noite de segunda-feira, o conselho da Associação de Universidades Americanas, uma entidade representativa do setor, alertou que cortar o financiamento para pesquisas “por razões não relacionadas à pesquisa estabelece um precedente perigoso e contraproducente”.
O conselho, atualmente presidido por Eisgruber, instou o governo a seguir os “procedimentos estabelecidos” para investigar acusações de discriminação, argumentando que esses protocolos são “a melhor forma de garantir a responsabilização das universidades e de preservar a posição dos EUA como líder global em ciência e inovação”.
Princeton não detalhou na terça-feira como poderá responder às suspensões das bolsas por parte do governo. No entanto, Eisgruber, que é advogado, já havia demonstrado seu desconforto depois que a Universidade Columbia concordou com um conjunto de exigências impostas pelo governo como condição para negociar a retomada do financiamento.
“A liberdade acadêmica é um princípio fundamental das universidades —ela precisa ser protegida”, disse o reitor de Princeton ao programa PBS NewsHour. “E, portanto, tenho preocupações se as universidades fizerem concessões sobre isso. Acho que, uma vez que você faz concessões uma vez, fica difícil não fazê-las novamente.”
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