A Turquia deteve Ekrem Imamoglu, prefeito de Istambul e principal rival do presidente Tayyip Erdogan, sob acusações de corrupção e auxílio a um grupo terrorista —ação que o principal partido de oposição chamou de “golpe contra o próximo presidente”.
A ação contra o político é consequência de uma repressão legal de meses a figuras de oposição em todo o país, movimento criticado como uma tentativa politizada de prejudicar as perspectivas eleitorais dos críticos do presidente turco.
À frente de Erdogan em algumas pesquisas de opinião, Imamoglu, 54, estava prestes a ser nomeado candidato à Presidência do Partido Popular Republicano (CHP, na sigla em turco). Agora, porém, ele enfrenta duas investigações separadas que também incluem acusações de suborno, manipulação de licitações e de liderar uma organização criminosa.
Embora as autoridades tenham temporariamente proibido protestos e a polícia tenha fechado algumas ruas da cidade, cerca de 100 pessoas se reuniram na delegacia para onde Imamoglu foi levado e gritaram: “Chegará o dia em que o AKP será chamado para prestar contas”, em referência ao Partido da Justiça e Desenvolvimento.
Protestos maiores também estavam planejados, o que poderia testar a disposição das autoridades de expandir a ofensiva legal que já prendeu vários prefeitos de oposição eleitos, além do líder de um partido nacionalista.
O líder do CHP, Ozgur Ozel, pediu unidade à oposição e disse que seu partido seguirá em frente e com Imamoglu como candidato presidencial no domingo. “A Turquia está passando por um golpe contra o próximo presidente. Estamos enfrentando uma tentativa de golpe aqui”, disse ele.
Em um vídeo publicado nas redes sociais enquanto se preparava para sair de casa para a detenção, na manhã desta quarta-feira (19), Imamoglu disse que não desistiria e resistiria à pressão.
A próxima eleição está marcada para 2028, mas Erdogan atingiu seu limite de dois mandatos como presidente depois de ter servido anteriormente como primeiro-ministro. Se ele quiser concorrer novamente, deve convocar uma eleição antecipada antes do término de seu mandato ou alterar a constituição.
O momento não é bom para o político —nas eleições municipais do ano passado, Erdogan enfrentou sua pior derrota, quando a sigla de Imamoglu levou as principais cidades da Turquia e derrotou o AKP em locais que eram bastiões do partido.
“Em última análise, os acontecimentos de hoje destacam que, a qualquer custo, a agenda pessoal de Erdogan continua sendo a principal prioridade, com todo o resto ficando em segundo plano”, disse Wolfango Piccoli, co-presidente da consultoria Teneo.
O governo nega as acusações da oposição e diz que a Justiça turca é independente. A Human Rights Watch, no entanto, chamou as acusações contra o prefeito de “politizadas e falsas” e disse que ele deve ser libertado imediatamente. O escritório de Erdogan não comentou imediatamente quando questionado sobre a as acusações de que a detenção foi uma medida política.
O gabinete do promotor de Istambul disse que 100 pessoas, incluindo jornalistas e empresários, são suspeitas de envolvimento em atividades criminosas relacionadas a certas licitações concedidas pela prefeitura. Além disso, uma segunda investigação acusou Imamoglu e outras seis pessoas de auxiliar o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), que é considerado uma organização terrorista pela Turquia e seus aliados ocidentais.
O governo tenta há anos reprimir essa insurgência. Preso há 26 anos, o líder da organização armada, Abdullah Öcalan, pediu para o grupo depor suas armas e se dissolver, o que poderia ser um grande passo em direção à paz regional.
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